Plano de Recuperação: vereadores propõem alternativas ao ajuste
Secretários municipais retornaram ao Legislativo para discutir Plano de Recuperação de Curitiba. (Foto: Chico Camargo/CMC)
Enquanto os sindicatos cobraram explicações sobre os projetos do Plano de Recuperação que impactam o funcionalismo público, os vereadores de Curitiba usaram a reunião com os secretários municipais para sondar alternativas ao ajuste das contas do município proposto por 12 projetos de lei. “Concordo que as medidas [para aumento da arrecadação] são singelas, mas é o que podemos fazer. Elas buscam incremento [de receitas], mas não da noite para o dia”, respondeu Vitor Puppi, das Finanças. Comparando o Município ao Estado, disse que Curitiba não pode abrir o capital da Sanepar, por exemplo, “e arrecadar R$ 1 bilhão”, ou “aumentar o ICMS de 12% para 18%”.
> Proposta de Lei de Responsabilidade Fiscal é a mais questionada por sindicatos
Para demonstrar o tamanho do “problema”, como ele, Fernando Jamur, da Secretaria de Governo, e Carlos Calderón, dos Recursos Humanos, referiram-se às finanças de Curitiba, apontou que para cobrir o deficit de R$ 2,18 bilhões seriam necessários dois anos de toda a arrecadação municipal com ISS ou quatro anos de IPTU. “Não são só cortes no pessoal”, rebateu Puppi, “estamos cortando no custeio também”. “Reduzimos 30% no contrato com o ICI [Instituto Cidades Inteligentes, que opera os sistemas de informática da prefeitura]. Dos R$ 10 milhões por mês previstos, caiu para R$ 6,9 milhões”, declarou.
A vereadora Noemia Rocha (PMDB) chegou a perguntar se, nessa negociação, a Prefeitura de Curitiba teria retirado a ação judicial que move contra o ICI pela posse do código-fonte desses sistemas. “Não retiramos nenhuma ação judicial”, garantiu Luiz Fernando Jamur. “[Com o ICI] recebemos o contrato vencido, sendo pago por ressarcimento”, queixou-se o secretário de Governo. “Não existe cidade que funcione sem tecnologia da informação na gestão das finanças, da educação, dos postos de saúde”, completou.
“Optou-se por brigar com o ICI e não deu certo”, comentou Puppi, respondendo ao Professor Euler (PSD) sobre o que poderia ser feito para aumentar a arrecadação municipal. O vereador propôs tirar auditores fiscais de funções burocráticas para que, na atividade normal, eles pudessem reforçar a cobrança dos impostos. “Também estamos preocupados com a efetividade da arrecadação”, respondeu o secretário de Finanças, “e pretendemos retirar auditores [do serviço burocrático] com o DEC [Domicílio Eletrônico do Contribuinte, um dos projetos em tramitação]. Só que isso é consequência de uma modernização, que vai depender de investir [em sistemas eletrônicos mais eficientes]. Na área, em quatro anos muito pouco foi feito”, disse.
Goura (PDT) opôs-se a não cobrar ITBI maior dos imóveis mais caros, em vez de terminar com a alíquota intermediária para operações até R$ 300 mil (leia mais). Bruno Pessuti (PSD) perguntou o que a Prefeitura de Curitiba fará para qualificar a cobrança de impostos como o ISS e o IPTU. Puppi disse que algumas das mudanças no Código Tributário são para combater fraudes, por exemplo, e que sobre imóveis irregulares o Executivo estaria trabalhando para identificar construções com área superior à declarada. A sugestão de Cacá Pereira (PSDC), de rever incentivos fiscais, também seria considerada, afirmou o secretário de Finanças.
Em resposta à Professora Josete (PT), que tinha perguntado o porquê de medidas duras sobre o funcionalismo, e ações “singelas” de reforço da arrecadação, Puppi disse que “não é contra [pagar] promoções e progressões [aos servidores públicos]. Só achamos que tem que ter uma responsabilidade por trás. A despesa só pode ser aumentada na proporção do crescimento da receita, senão não se paga o que já se tem [de gasto]. Desculpem a sinceridade, mas vou defender o racional, que não podemos aumentar as despesas acima do crescimento das receitas”. Josete, Felipe Braga Côrtes (PSD) e Serginho do Posto (PSDB) pediram que documentos financeiros sejam fornecidos aos vereadores, para conferir os dados apresentados.
Braga Côrtes leu comentários do ex-prefeito Gustavo Fruet nas redes sociais, em que o político rebate a acusação de que deixou a implantação dos planos de carreira para o seu sucessor pagar. “Precisamos desses números, dessas informações [para checar]”, cobrou o parlamentar. “As dívidas sem empenho foram atestadas pelos núcleos financeiros [da prefeitura]”, rebateu Puppi. Jamur insistiu na transparência das ações da gestão Rafael Greca e que “não tem sentido camuflar números, pois estamos tratando de um problema”. “Precisamos atravessar esse deserto”, apontou. Puppi chegou a dizer que, se não havia disponibilidade orçamentária na época da aprovação dos planos de carreira, eles poderiam ser considerados ilegais.
Tico Kuzma questionou se a mudança para o programa “Nota Curitibana” traria incentivos para a população. O secretário de Finanças disse que a cidade tem um sistema com premiação, semelhante ao já usado pela Prefeitura de São Paulo. Sobre o pagamento do reajuste em novembro para o funcionalismo, Calderón, secretário de Recursos Humanos, disse a Kuzma que dependem da “disponibilidade financeira”, assim como não poderia fixar prazo para o trabalho das comissões que revisarão os planos de carreira congelados.
Projetos nas comissões
Durante a reunião pública, o presidente da Câmara de Vereadores, Serginho do Posto, adiantou que nesta semana a Procuradoria Jurídica começa a liberar as proposições do Plano de Recuperação para as comissões temáticas do Legislativo. “Foram elaborados quadros comparativos, mostrando o que muda na legislação, para facilitar o debate. As reuniões com a liderança do prefeito ocorrem todos os dias, para garantir que haja debate técnico, sem pedido de urgência e com participação da sociedade”, declarou.
Toninho da Farmácia (PDT) perguntou sobre qual a margem de negociação para retirar ou alterar itens do Plano de Recuperação. Os secretários defenderam o conjunto das iniciativas, sem abdicar diretamente de nenhum ponto. Paulo Rink (PR), entretanto, ao comentar aspectos sobre a criação da CuritibaPrev, obteve uma sinalização positiva de Vitor Puppi para indicar um teto para a taxa de administração que será cobrada pelo fundo de pensão. Ainda assim, o secretário de Finanças pediu “pressa” na análise, enquanto “as coisas ainda estão funcionando”. “Se a empresa da coleta de lixo quisesse parar hoje, já poderia [em decorrência de pagamentos atrasados]”, exemplificou.
A reunião pública, na íntegra, pode ser conferida aqui, no canal da Câmara Municipal de Curitiba no Youtube. Diversos vereadores participaram do debate, que durou quase quatro horas.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba