Torcedores apoiam venda e consumo moderado de cerveja
A maioria dos torcedores entrevistados nas arquibancadas em Curitiba é favorável à venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. (Fotos: Andressa Katriny/CMC e Michelle Stival/CMC)
A maioria dos torcedores entrevistados que frequentaram os estádios de Curitiba na semana passada é a favor da liberação da venda das bebidas alcoólicas e contra o teste de bafômetro na entrada desses locais. A equipe de Comunicação da Câmara Municipal aproveitou que os três clubes da capital mandaram seus jogos em Curitiba, pelas séries A e B do Campeonato Brasileiro, e entrevistou 35 torcedores de Coritiba, Paraná e Atlético.
As pessoas foram escolhidas de maneira aleatória nas arquibancadas. No final da pesquisa, 25 torcedores se colocaram a favor da liberação das bebidas nos estádios e 10 contrários. Nessa reportagem, você poderá conferir quais os argumentos de quem concorda ou discorda da liberação da cerveja e também da proibição da entrada de torcedores com sinais de embriaguez.
Coritiba x Ponte Preta
Couto Pereira, 8 de julho de 2015. Antes mesmo de Coritiba e Ponte Preta entrarem em campo, o torcedor Maurício Watanabe, de 38 anos, tomava uma cerveja, com álcool, em frente à churrascaria vizinha do estádio. Para ele, as bebidas alcoólicas não causariam problemas, a exemplo das partidas da Copa do Mundo, em que a venda foi liberada. “Trabalhamos o dia todo, e esse [momento] é um 'relax' da gente. O bafômetro tem de ser feito pra quem bebe e usa a direção”, defendeu.
Alguns demonstram ainda maior empolgação. Rômulo de Paula, de 27 anos, comprava uma cerveja sem álcool no intervalo do jogo e foi enfático: “Sou totalmente a favor. Tem muita gente que vem com a intenção de se divertir, trabalha o dia inteiro. Vem só na intenção de tomar uma cervejinha assistindo ao jogo”. Ele discorda que o álcool incita a violência. “Vai da cabeça de cada um”, opinou o torcedor.
Marcos Aurélio Torres, 30, tem uma opinião curiosa. “Não bebo, mas não tenho nada contra. Acho que não tem nada a ver, porque tem gente que vem mal-intencionada. Para o torcedor que é torcedor, não é a cerveja que vai influenciar”, disse. E sobre o bafômetro, acrescentou: “Quem não deve, não teme”.
Há quem concorde com a liberação das bebidas, mas defenda o consumo moderado. Márcio Ortega, 40, estava acompanhado do filho e de um amigo do menino. Ele sugeriu um alto preço dos produtos: “Elas [cervejas] não incitam a violência. Tem gente que já entra alterada. Isso não vai mudar. Teria que existir uma fiscalização para esse torcedor, como um bafômetro, por exemplo. Se tem alguém alterado, retira do estádio”, defende. Contrária ao teste de alcoolemia, Ana Paula dos Reis Moura, 18, avalia que “tem que testar [a liberação], para ver se dá certo”.
Os amigos Mário Mazeto, 65, e Roberto do Valle Costa, 57, têm opiniões diferentes. “O pessoal vem bêbado do mesmo jeito. Bafômetro poderia ser uma solução, mas não com a tolerância zero. Umas duas latinhas seria o suficiente”, disse Mazeto. Já o amigo, Costa, foi mais taxativo: cerveja no estádio “só se for sem álcool. Bebida tem que ser refrigerante. Minha opinião é que os torcedores passem pela revista, como normalmente acontece, e também pelo bafômetro, para que não haja problemas de briga. Tolerância zero, como no trânsito”.
Cíntia Freitas, de 20, que torcia ao lado do avô e do namorado, é contra a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. “Acredito que jogo é para você se divertir e curtir sem a entrada de álcool. Pessoal com bebida acaba se empolgando e termina em violência”, afirmou a jovem, que apoia a realização do teste do bafômetro. Vanessa Dallagassa, 35, acredita que as bebidas alcoólicas incitam a violência. “Se já dá briga sem a bebida, com ela é mais um motivo. Assim fica mais acessível para menores”, disse a torcedora.
Carlos Saddock, 48, disse ser contra a aprovação do projeto que libera as bebidas alcoólicas nos estádios, mas classificou o bafômetro como “um cerceamento do direito das pessoas, uma coisa desmedida”. “O álcool reconhecidamente traz problemas à sociedade, pelo fato da grande maioria não saber se conter. Falta um controle maior nas arquibancadas, no sentido de conter a violência”, ponderou. Rogério de Souza, 33, tem um posicionamento semelhante: “Antigamente os caras brigavam demais. As brigas continuam, mas lá fora. Aqui dentro não tem mais”, argumentou. Em relação ao bafômetro, analisou como “um exagero”: “É o famoso direito de ir e vir”.
Paraná x Vitória
Vila Capanema, 11 de julho de 2015, data em que o Paraná Clube comemorou 23 anos da conquista de seu primeiro título nacional, o de campeão brasileiro da série B de 1992. Segurando uma lata de cerveja de 550ml ainda fora do estádio, Ricardo Fernando, 25, defendeu a liberação da venda da bebida. “Eu nunca vi alguém ficar bêbado e causar confusão dentro do estádio. As brigas acontecem pelos conflitos entre as torcidas e não por causa do álcool”, argumenta. Ele também diz ser contra o controle de acesso de pessoas alcoolizadas, pois acredita tratar-se de uma questão de bom senso dos torcedores: “temos de ter essa liberdade”.
Outro torcedor a refutar a tese da relação direta entre álcool e violência foi Gerson Luiz, 30, que vestia o uniforme da torcida organizada Fúria Independente e esperava o início da partida, enquanto bebia com amigos no estacionamento do estádio. “A violência busca quem quer. Consumir dentro do estádio não vai influenciar em nada, pois as brigas ocorrem fora, no entorno, nos terminais”, opinou. Por gostar de beber antes das partidas, ele se diz contrário ao uso de bafômetro nos torcedores.
Amigo dele, Odair José, 36, comparou a situação atual com a época em que a bebida era liberada: “de lá pra cá, a violência está a mesma coisa, ou até pior. Proibir de vender bebida não vai impedir as brigas entre as torcidas”. O torcedor Dainer Tussolini, 35, que bebia cerveja com amigos em frente à Vila Capanema, ironizou a proposta do bafômetro: “se for assim, ninguém vai entrar, né?”. “O uso do álcool pode influenciar, mas, na sua grande maioria, acho que isso não acontece, que não interfere”, completou.
Acompanhado de seu filho de 3 anos, Everson Fasolin, 37, citou como exemplo a Copa do Mundo, onde a bebida foi liberada “e não houve nenhum tipo de incidente”. “Não vejo esta relação [com a violência], pois mesmo depois que acabou [a venda de bebida] continuou tendo briga. Se houver excessos, hoje há mecanismos como câmeras e até um juizado especial dentro do estádio”. Ele vê com simpatia a ideia de bafômetro na portaria dos estádios, apesar de avaliar como uma “medida paliativa”.
A família Rodrigues não vê problema em autorizar a venda de bebidas no estádio. Acompanhados pelos filhos Gustavo, 5, Gabriel, 7, e o pequeno Heitor, de apenas 8 meses, o casal Lucio Mauro Rodrigues, 39, e Daniela Veiga, 25, se disseram favoráveis à liberação. “Quem quer beber já vem 'louco', então acho indiferente”, disse ela. E ele completou: “dentro ou fora, o pessoal vai beber do mesmo jeito”. Eles ainda concordaram que o uso do bafômetro “poderia ajudar”.
“Seria melhor beber uma [cerveja] com álcool”, reclama Rogério Antunes, 40, que diz sempre vir aos jogos de seu time. “As pessoas bebem lá fora e duas horas aqui dentro não fariam diferença, não creio que impactaria nesta situação da violência”, emendou. Rogério taxa de “exagero” a ideia de barrar as pessoas flagradas no bafômetro. “Afinal, a pessoa vem para relaxar, ver os amigos e tomar uma cervejinha”.
Com a filha Alice de 3 anos no colo, Alexsandra Dombekete, 34, relata que frequenta estádios desde quando a cerveja era permitida nos estádios e diz que prefere que tudo fique como está. “As pessoas bebem e ficam alteradas. Já vi alguns passando dos limites, puxando briga e mexendo com a namorada dos outros. Onde há crianças e se vem com a família, não deveria ter bebida”, protesta. “Sei que em outros países é permitido, assim como foi na Copa, mas não temos a cultura de beber moderadamente. O povo extrapola”, criticou.
No meio da torcida, o deputado estadual Tadeu Veneri (PT) foi outro a condenar a ideia de vender bebida alcoólica nos estádios. Ele disse que acompanha as partidas do Paraná Clube há muitos anos e que as pessoas acabam bebendo “mais do que devem e criam situações desagradáveis”. “Não vejo em que pode ajudar o consumo de bebida alcoólica, pois isso não vai aumentar o público. Quem quer tomar sua cervejinha, toma fora do estádio e entra numa boa. Agora, liberar sem que haja controle, é criar confusão na certa”. O político, que preside a Comissão de Direitos Humanos e da Cidadania da Assembleia Legislativa, é contário ao projeto de lei do bafômetro pois acredita que “nenhuma lei pode retirar do cidadão o direito de ele tomar uma cerveja e vir ao estádio, ainda mais utilizando critério subjetivo”.
O casal Marcio Pereira da Silva, 29, e Daiane da Silva, 27, com a filha Ana Carolina, de 4 meses, têm opiniões diferentes sobre o tema. “Já é da cultura do brasileiro ir ao jogo e tomar cerveja”, ponderou ele. Mas ela discorda: “bebida pode trazer mais violência e, se dependesse de mim, continuaria proibido”. Os dois duvidam da eficácia de um eventual controle de acesso de alcoolizados.
Atlético x Fluminense
Arena da Baixada, 12 de julho de 2015. Chegando ao estádio para assistir à partida entre Atlético x Fluminense, o empresário Denis Ramos, 31, segurava uma lata de cerveja. Para ele, “não é o fato de consumir cerveja dentro do estádio que vai gerar algum problema, tendo em vista que a gente pode beber antes e pode beber depois”. “Até mesmo porque na Copa do Mundo foi liberado e não teve nada”, defendeu. Sobre o bafômetro, ele avaliou como “desnecessário”. “Se você estiver alcoolizado os próprios seguranças e os policiais não deixam você entrar”, lembrou.
Com um grupo de amigos, o motorista Marcos Paulo Cardoso, 39, também bebia sob a garoa, antes da partida. “Para quem bebe socialmente, não tem nada a ver tomar uma cervejinha dentro do estádio. Quem está com o intuito de violência já vem de casa com essa intenção. Nesse caso, bebendo – ou não – [essa pessoa] vai brigar ou quebrar alguma coisa”, apontou. E o exame de alcoolemia? “Se colocar o bafômetro, metade da torcida não entra”, brincou.
Os amigos Gilson Keserle, 48, e Mario Siegrist, 52, que acompanharam a partida juntos, defenderam a liberação das bebidas alcoólicas, mas divergiram em relação ao teste de alcoolemia. “Acredito que para o torcedor que vem assistir ao jogo com o intuito de festa, de torcida, não é uma cerveja dentro do estádio que vai fazer com que se promova a violência. Já o bafômetro teria que ser bem mais pensado. Talvez com uma tolerância maior que a prevista”, sustentou o primeiro torcedor. Siegrist complementou dizendo que o exame é importante para quem está dirigindo.
Alberto Nogueira Junior, 44, acha que as bebidas devem ser liberadas e que o bafômetro é desnecessário: “A venda não implica em mais violência. Tendo um preço menos acessível, acho que não teremos problemas”. Na opinião de Jan Colombo, 37 anos, a violência não diminuiu desde que o álcool deixou de ser vendido nos estádios. “As brigas não acontecem dentro, e sim fora. O teste só aumentaria os gastos, mas não faria diferença”, disse.
“Eu acho que beber é uma escolha individual. Não é o Estado que deve intervir. É uma coisa muito estranha. O que prova o fato da pessoa beber e necessariamente cometer besteira? Bafômetro seria ridículo”, argumentou Lucas Lôbo, 31. “Tem que vender. Não é a cerveja que vai fazer a pessoa brigar”, acrescentou Lucileine Miquelasso, 36 anos, também contrária ao controle do acesso de torcedores alcoolizados.
“Ambiente de estádio é de entretenimento, com famílias. A educação do torcedor tem evoluído bastante e não existe mais, eu acho, problema com álcool, futebol e estádio”, declarou Felipe Santana, 22 anos, que disse não ver “lógica” no bafômetro. “Sou favorável porque acho que é um prazer que você pode ter sem a necessidade de ficar violento. Também defendo o bafômetro, porque o excesso não faz bem. Teria que ter um limite”, finalizou Remi Dallagnese, 64 anos. “Você pode beber, mas sem exagero”, completou.
Acompanhada dos filhos e da mãe, a torcedora Andressa Costa, de 34 anos, pensa diferente a respeito da venda de bebidas alcoólicas nos estádios. “Sou contra. Enquanto se está dentro do estádio tudo bem, mas daí o pessoal sai um pouco nervoso, e se o time perde é mais um motivo. O bafômetro é interessante, mas penso que geraria um pouco de tumulto na entrada. Acho válido quando a pessoa que está ali perceber que o torcedor está alterado”, analisou.
“Meu marido vai brigar comigo, mas eu não sou a favor [da venda das bebidas]. O clima fica melhor. As pessoas muito bêbadas começam a jogar cerveja para cima, e nos outros. Sem, está bem melhor”, disse Dilmara Rizzardi, 51. “O bafômetro eu não concordo. É um direito da pessoa tomar o que ela quiser antes de chegar”, complementou.
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