Vereadores de Curitiba endossam pedido de estudo sobre tratamento precoce
Em razão da pandemia, as sessões da CMC são realizadas por videoconferência. Na imagem, o vereador Eder Borges.(Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Nesta terça-feira (9), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) apoiou o pedido do vereador Eder Borges (PSD) para que o Executivo contrate estudo técnico sobre a eficácia do tratamento precoce à covid-19. Submetida ao plenário, a sugestão de ato administrativo (203.00076.2021) foi aprovada por 20 a 4 votos e agora será encaminhada à Prefeitura de Curitiba, que pode, ou não, aceitar a indicação do parlamentar. A discussão começou na sessão de ontem, estendendo-se à votação finalizada hoje, após a manifestação de seis debatedores.
“O tratamento precoce nada tem a ver com presidente [da República] Bolsonaro, com partido A ou B. Tem a ver com a liberdade de escolha, para que as pessoas que assim quiserem tenham acesso ao tratamento”, defendeu Borges, para quem as reações negativas ao tema são sinal da “triste ideologização de vidas no Brasil”. No debate, foi apoiado por Ezequias Barros (PMB), Pastor Marciano Alves (Republicanos) e Osias Moraes (Republicanos). Na véspera, a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL) havia se manifestado a favor do tratamento precoce (confira aqui).
O requerimento endossado pela maioria dos vereadores da CMC não delimita quais são os medicamentos abarcados no kit do tratamento precoce, mas a nota informativa 17/2021 do Ministério da Saúde fala da administração da cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e Oseltamivir. No documento não há referência à ivermectina, zinco, vitamina C ou vitamina D, mas esses itens foram citados na discussão como opções no rol do consumo preventivo e do tratamento precoce. Borges, por exemplo, contou fazer uso preventivo da ivermectina.
“Tenho usado ivermectina desde abril do ano passado”, também relatou Ezequias Barros, informando que toda sua família desenvolveu a covid-19 e fez uso do tratamento precoce. “Meu filho tomou, no hospital, sem ordem médica”, afirmou, defendendo que o governo federal está comprando as vacinas para imunizar a população. Na opinião dele, é importante defender o tratamento precoce até o kit estar disponível nas unidades de saúde para a população. Na véspera, Barros referiu-se ao curitibano Clóvis Arns, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, como “infeliz” pelo seu posicionamento contrário ao tratamento precoce, motivando várias manifestações de desagravo ao médico (confira aqui).
No início da sessão, Marciano Alves comparou o uso dessas drogas positivamente ao “chazinho da vovó”, pois ambos “resolvem”. Também citou a cidade de Rancho Queimado, em Santa Catarina, como um caso de sucesso no uso da medicação preventiva. Também do Republicanos, Osias Moraes disse cumprir isolamento social em casa, uma vez que ele e sua família contraíram a doença, e que há dez dias aderiram ao tratamento precoce. “Hoje eu me sinto muito bem”, indicou, acrescentando que “existem no Brasil mais de 2 mil médicos que acreditam [na eficácia do kit]”.
“Negacionismo” e “fake news”
Na discussão do requerimento, quem se opôs à aprovação da sugestão pela CMC foram as vereadoras Maria Leticia (PV) e Professora Josete (PT). “[O kit] chega a ser contraindicado pela OMS [Organização Mundial da Saúde], pelos centros de controle e prevenção de doenças dos EUA e da Europa e pela Sociedade Brasileira de Infectologia”, alertou a primeira. “Segundo diversos estudos rigorosos, realizados ao redor do mundo, os medicamentos são ineficazes e até prejudiciais para a saúde das pessoas”, acrescentou Maria Leticia.
Segundo o Estudo Solidariedade, coordenado pela OMS e envolvendo quase 13 mil pacientes em 500 hospitais de 30 países, em outubro de 2020, “os medicamentos remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir e interferon têm pouco ou nenhum efeito na prevenção de mortes por covid-19 ou na redução de tempo que a pessoa passa hospitalizada”. A Organização Mundial de Saúde também não estimula a administração de ivermectina como tratamento precoce para a covid-19. Para Maria Leticia, há médicos que “ostentam” bons resultados por não trabalharem com casos graves.
“Quando os casos complicam, os pacientes vão para os hospitais e para as UPAs. Quem assina o atestado de óbito dessas pessoas são os médicos que estão lá na ponta, cansados pelo excesso de trabalho. Cada um que difunde o tratamento precoce está ajudando a aumentar as estatísticas de mortes”, afirmou a vereadora do PV. Para Josete, “[Curitiba] não é uma cidade do interior, onde não há acesso à informação e as pessoas repetem fake news. É uma capital. Não podemos ser exemplo de negacionismo, temos que ser exemplo de sensibilidade e de responsabilidade”.
Apesar de não serem impositivos, os requerimentos protocolados na Câmara Municipal de Curitiba são uma das principais formas de pressão do Legislativo sobre a Prefeitura de Curitiba, pois são manifestações oficiais dos vereadores eleitos pela população para representá-los.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba