CMC confirma Cidadania Honorária de Curitiba a Olavo de Carvalho
Placar da votação do segundo turno da Cidadania Honorária de Curitiba a Olavo de Carvalho. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)
Por 14 a 9 votos, nesta segunda-feira (10), o plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) confirmou, em segundo turno, a concessão de uma homenagem póstuma da cidade a Olavo de Carvalho. Por iniciativa de Eder Borges (PP), a CMC concordou em dar a Cidadania Honorária de Curitiba ao filósofo, que faleceu no exterior, na cidade de Richmond (EUA), em janeiro de 2022, aos 74 anos de idade (005.00308.2021). Ele era natural de Campinas (SP).
“Obrigado! Olavo tem razão!”, comemorou Eder Borges, após a divulgação do resultado. Na semana passada, quando o projeto foi discutido em plenário por mais de uma hora, o placar foi mais apertado, com apenas um voto de diferença a favor da homenagem. Hoje, com um acordo para a discussão acontecer na fase de encaminhamentos, quando somente autores e lideranças podem debater, sem apartes, por cinco minutos, a diferença cresceu.
Votaram a favor da homenagem póstuma Eder Borges (PP), Beto Moraes (PSD), Ezequias Barros (PMB), Indiara Barbosa (Novo), João da 5 Irmãos (União), Oscalino do Povo (PP), Osias Moraes (Republicanos), Pastor Marciano Alves (Solidariedade), Pier Petruzziello (PP), Rodrigo Braga Reis (União), Sabino Picolo (União), Sargento Tânia Guerreiro (União), Sidnei Toaldo (Patriota) e Zezinho Sabará (União). Com o resultado positivo, a iniciativa vai para análise do prefeito Rafael Greca e, se sancionada, é publicada no Diário Oficial do Município, tornando-se lei.
Foram contrários Angelo Vanhoni (PT), Bruno Pessuti (Pode), Dalton Borba (PDT), Giorgia Prates - Mandata Preta (PT), Herivelto Oliveira (Cidadania), Leonidas Dias (Solidariedade), Marcos Vieira (PDT), Professora Josete (PT) e Professor Euler (MDB). Registraram abstenção Amália Tortato (Novo), Mauro Bobato (Pode), Mauro Ignácio (União) e Nori Seto (PP). Regimentalmente, o presidente Marcelo Fachinello (PSC) só votaria em caso de desempate.
Alexandre Leprevost (Solidariedade), Hernani (PSB), Maria Leticia (PV), Noemia Rocha (MDB), Salles do Fazendinha (DC), Serginho do Posto (União), Tico Kuzma (PSD) e Tito Zeglin (PDT) estavam ausentes do plenário na hora da votação. A votação foi acompanhada nas galerias do Palácio Rio Branco por seis pessoas, que aplaudiram o resultado do segundo turno.
Autor de mais de 40 livros, da astrologia à filosofia, Olavo de Carvalho ficou nacionalmente conhecido com o sucesso da obra “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, um compilado de textos publicados em jornais, e pela vinculação a políticos conservadores do Brasil, com grande influência entre lideranças de direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para isso, contribuíram dois de seus projetos pessoais, o site Mídia Sem Máscara e o Curso Online de Filosofia.
Manifestações a favor
Ao defender a aprovação da homenagem em segundo turno, Eder Borges argumentou que seria grosseria “negar o título a um pensador importante”. “Atendi ao pedido dos colegas para não discutir [apenas encaminhando”, continuou o parlamentar, “e convido a todos para que leiam Olavo de Carvalho, pois ouvimos argumentos preconceituosos de pessoas que não o leram e frases que ele não disse. Não sei por que tanto ódio”. “Lula recebeu título dessa Casa, por que não podemos dar um a Olavo?”, questionou.
“Ele morou em Curitiba, deu aula aqui, deu curso, se fixou ou residência ou não, é outro problema”, afirmou Rodrigo Reis, em resposta a Dalton Borba, que repercutiu em plenário reportagem do The Intercept Brasil sobre Olavo de Carvalho usar endereço da cidade para a Receita Federal, mesmo residindo no exterior. “Olavo é um dos pensadores da direita conservadora mais importantes do mundo”, enalteceu o parlamentar.
“Hoje, temos militância forte, que vai para a rua, que briga pelos seus direitos, e Olavo foi importante para a formação da militância conservadora brasileira”, completou Rodrigo Reis, destacando o resultado eleitoral da direita em Curitiba, que no segundo turno de 2022 deu 64,7% de votos a Bolsonaro. Na discussão em primeiro turno, ele e Eder Borges concentraram a defesa da homenagem póstuma, com o apoio de Indiara Barbosa naquela ocasião.
Posições contrárias
“A reportagem do The Intercept Brasil mostra que o pretenso homenageado jamais residiu em Curitiba, que tentou fixar domicílio para operações não contabilizadas no Imposto de Renda. Se o projeto for aprovado, é um desserviço à sociedade”, acusou Dalton Borba, ao encaminhar contra a homenagem. Borges tinha acrescentado ao projeto declaração do ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Marcos Domakoski, e testemunhos de 11 ex-alunos, afirmando que Olavo lecionou cursos na ACP entre 2000 e 2004.
“É sempre uma tarefa difícil se contrapor a uma homenagem em nome da cidade, mas não tenho como não me manifestar contrário a Olavo de Carvalho. Eu não sei o quanto todos nós o conhecemos, mas as ideias dele são muito contraditórias. Olavo não faz uma crítica ao nazismo. O flerte com o regime autoritário, com uma sociedade autoritária está no centro do seu pensamento. É um pensamento radical de extrema-direita que quer, pelo medo, aglutinar a desorganização da vida. Curitiba não merece isso”, criticou Angelo Vanhoni (PT).
Lendo trechos do livro “Meu pai, o guru do presidente”, escrito por Heloísa de Carvalho, filha de Olavo, a vereadora Giorgia Prates destacou trechos em que ela expõe obstáculos dele à educação formal dos filhos e à vacinação contra a covid-19. “[Olavo] foi negacionista, foi contra a vacina, contra as máscaras. É assustador o número de pessoas que morreram por seguir esse pensamento”, disse a parlamentar, que pediu o voto dos parlamentares na matéria. “Não podemos normalizar pensamento de ódio”, discursou.
Reiterando os argumentos que expôs na semana passada, quando deixou o plenário para não votar, Professor Euler disse que foi procurado por eleitores e mudou o voto para contrário a pedido deles. “É o típico projeto que não beneficia nenhum dos 2 milhões de habitantes de Curitiba, só beneficia o autor da proposição. Não beneficia nem o homenageado, que está morto”, disse, acrescentando que, na sua opinião, o que se tem é uma guerra de narrativas ideológicas, pois “a política virou isso”. “Ninguém vai lembrar de Olavo de Carvalho. As pessoas não vão sair mais violentas. É só uma guerra de narrativas”.
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