Vereadores comentam greve de servidores estaduais
Com diferentes pontos de vistas apresentados em plenário, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) teve, nesta quarta-feira (4), discussões sobre a greve de servidores da rede estadual de educação e a invasão da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Com isso, a sessão desta tarde, para a votação de mudanças na previdência de parte do funcionalismo estadual, está sendo realizada na Ópera de Arame, a exemplo do que a Câmara adotou em junho de 2017, para a aprovação de mensagens de ajuste fiscal, do chamado Plano de Recuperação.
Professor de Matemática da rede estadual de ensino, na qual ainda leciona, à noite, Professor Silberto (MDB) abriu o debate. Ele lamentou “ataques” e a “desvalorização” da categoria. “Se prega muito que os problemas financeiros do governo federal, estadual e municipal são dos servidores. Isso não é verdade. Nossa categoria tem sofrido, há vários anos, a retirada de direitos”, defendeu. Dentre outros exemplos, ele citou a descapitalização do Fundo Paranaprevidência. “Por que todos esses ataques em regime de urgência? Isso também acontece aqui na Câmara.”
Entre elogios à postura de Silberto e a defesa de projetos de ajuste fiscal da gestão Rafael Greca e em outras esferas de poder, o também servidor estadual Mauro Ignácio (PSB) criticou a invasão da Alep, “semelhante ao que aconteceu nesta Casa, 15 dias atrás, e em 2017”. Para o parlamentar, a postura do parlamentar do MDB, contrário ao Plano de Recuperação, é coerente, “sem ser populista e demagogo”, enquanto outros vereadores, então críticos ao prefeito, “hoje se calam”.
Quem também defendeu o Plano de Recuperação foi Mauro Bobato (Pode): “Não existem milagres [nas contas públicas]”. “Tenho parentes que não falam comigo por causa do ajuste fiscal”, contou. “Você [Silberto] sempre defendeu seu ponto de vista, sem fazer juízo de valor [de quem votou a favor]”, avaliou o parlamentar. Ele ainda ponderou que nessas votações “existe o fator humano, do servidor ficar chateado”.
Professora Josete (PT) e Marcos Vieira (PDT) se posicionaram a favor das demandas do funcionalismo estadual. Para a vereadora, eles estão sofrendo com a “falta de diálogo” e a priorização de outras áreas. “Não há a menor preocupação com os servidores públicos do Paraná”, afirmou. A situação, em seu ponto de vista, repete-se na esfera municipal, onde “o prefeito escolheu asfalto ao invés de cuidar das pessoas”. “O serviço público é necessário para garantir a vida digna da população. Curitiba veio na mesma linha, de criminalização do serviço público.”
Josete criticou a aprovação do empréstimo de R$ 250 milhões, nesta terça, sendo parte dos recursos para a pavimentação e sem haver “o detalhamento das ações previstas”. Para ela, deveria haver mais investimentos em obras de habitação de interesse social, por exemplo, devido às “412 ocupações irregulares” da cidade. “Já disse aqui, não sou contra pavimentação. Acho que todo cidadão quer ter na frente de sua casa asfalto qualidade. No entanto, também precisamos ter que olhar sobre outras áreas fundamentais das políticas públicas.”
Na opinião de Marcos Vieira, presidente da Comissão de Educação da CMC, o mais preocupante são os indicadores da educação, como os resultados que o Brasil obteve no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados nesta terça. “O caminho para sair dessa crise é educação”, completou. O financeiro é importante, avaliou, mas não a prioridade. “Nós trabalhamos por motivação. E um profissional desmotivado não vai fazer um atendimento da maneira que a sociedade merece”, apontou.
“Demagogia”
“Eu não sou servidor estadual, não sou deputado estadual. Se eu usasse esta tribuna para fazer algum tipo de defesa dos servidores, aí sim seria demagogia”, declarou Professor Euler (PSD). O vereador é independente e se posicionou contra o Plano de Recuperação e outras mensagens do Executivo, como o congelamento de planos de carreira por mais dois anos, aprovado recentemente com protesto do funcionalismo. “No momento em que tenho como atuar, como votar, aí faço sim. Mas eu não tenho medo. Se é uma coisa que tenho na vida é coragem. Se eu fosse deputado estadual, conversaria com o governador Ratinho Junior [de seu partido]”, acrescentou Euler.
Segundo o vereador, ele iria propor contribuições ao projeto em pauta na Alep, “nem que me custasse sair da política”. “Vou falar o que é demagogia de verdade. Ser da base do antigo prefeito Fruet, saber que não asfaltou quase nada e continuar na base dele. Seguir o próximo governo que asfalta tudo e seguir na base. São coisas muito excludentes”. Sem citar nomes de vereadores, também definiu como “demagogia” a participação em eventos de diferentes pré-candidatos, ou quem “se rende a ficar na base em troca de cargo ou obra em bairro”. “O prefeito me fez essa proposta. Me chamou no gabinete dele. Eu não me sujeitei a isso”, disse.
Voltando a citar a coerência, Ignácio subiu à tribuna: “Da mesma forma que o deputado Goura esteve aqui duas semanas atrás, na votação, e se posicionou, isso é coerência ao que ele defende. Da mesma forma o Professor Silberto”. “Tenho usado o mandato para atrair investimentos para minha região [Santa Felicidade]. Chega de se esconder em discurso demagógico e populista. Temos que ter coragem e responsabilidade”, argumentou. Em sua avaliação, pessoas da oposição se colocam contra a cidade” e querem vê-la “na lama”, sem obras, saúde e educação, por exemplo.
No horário destinado à liderança do prefeito na Casa, Pier Petruzziello (PTB) rebateu as declarações de Euler. Para ele, “político bom é aquele que faz pensando no coletivo, e não em um pequeno grupo”. “Quero de forma bastante objetiva, clara e sem enrolação, dizer que governar é liderar. Fazer o que tem que ser feito, independentemente de popularidade”, indicou. “Sentar à mesa, numa cadeira, num debate, e tomar decisões muito difíceis. O governador Ratinho, o qual eu não tenho vínculo, acertou.”
“A história se repete”, continuou Pier Petruzziello, “a ponto de um dos mandatários ser deputado estadual”, em referência a invasões da Câmara de Curitiba, à votação na Ópera de Arame e agora à situação na Alep. “Não podemos fazer mais ‘o que vale para Chico vale para Francisco’. Ou é a favor do que o governador fez ou é contrário. Senão está em cima do muro”, declarou.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba