Vereadores analisam visita técnica ao Chile e Colômbia

por Assessoria Comunicação publicado 23/07/2007 17h55, última modificação 17/06/2021 07h32
O investimento público em infra-estrutura é determinante para o bom funcionamento de um sistema de transporte coletivo. Esta é uma das principais conclusões do relatório dos vereadores que integram a Comissão de Transporte da Câmara de Curitiba sobre visita técnica a Santiago (Chile) e Bogotá (Colômbia), onde conheceram o sistema de transporte coletivo destas cidades, em busca de inovações, e puderam traçar um comparativo. Os parlamentares debatem, desde o ano passado, a mensagem do prefeito Beto Richa que dispõe sobre a organização do sistema em Curitiba para substituir a lei em vigor, de outubro de 1990, e que determina, entre outros itens, a licitação como requisito para a delegação do serviço de transporte a terceiros. A proposta foi elaborada pela Procuradoria Geral do Município e pela Urbs.
No relatório os vereadores ainda destacam a importância da implantação do projeto de forma gradativa, o que não ocorreu na capital chilena, onde o investimento em infra-estrutura também não foi suficiente, gerando caos. Em Bogotá, ao contrário, foram determinadas oito fases, cuja conclusão está prevista para 2030, quando o sistema, que já vem obtendo resultados positivos, atenderá 100% da demanda. Formado pelo presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), Angelo Batista (PP), Valdenir Dias (PSB), Julieta Reis (PSB), Roberto Hinça (PDT), Pedro Paulo (PT), José Roberto Sandoval (PTB), João da Suco (PSDB), Geraldo Bobato (DEM), Felipe Braga Côrtes (sem partido) e Zé Maria (PPS), o grupo informa que deverá apresentar emendas à proposta da prefeitura. Entre as sugestões, a construção de passarelas que facilitam o acesso às estações e bicicletários nos terminais, implantados com sucesso na capital da Colômbia.
No início dos trabalhos legislativos do segundo semestre, informa Derosso, o relatório será detalhado em plenário aos demais vereadores.
Problemas em Santiago
Criado com a principal característica de um transporte planejado, integrado entre ônibus e metrô, ágil e eficiente, o projeto chileno, o Transantiago, inaugurado em fevereiro, começou a ser desenvolvido há mais de três anos, no governo do então presidente Ricardo Lagos, da frente dos partidos socialdemocratadas do país, e substituiu o rudimentar e desorganizado sistema anterior, onde cada motorista era dono de seu ônibus, num total de 8 mil coletivos em circulação. Hoje, esse número foi reduzido para 5,1 mil e deve chegar a 6 mil até o final do ano, garantindo, entre os benefícios, a diminuição do volume de emissões de poluentes, um grave problema na cidade.
Em 2010, toda a frota estará renovada. O investimento nos ônibus será de US$ 500 milhões. Já o motorista, que antes trabalhava 12 horas por dia, com ganho equivalente a US$ 700, atualmente recebe cerca de US$ 1 mil, com carga horária de até sete horas diárias.
A um custo de 380 pesos, equivalentes a US$ 0,75, a tarifa permite quatro integrações. O sistema é de bilhetagem eletrônica com cartões e a malha de transporte formada por cinco rotas troncais (com ônibus articulados) e dez alimentadoras, além das estações de transferência e um centro de informação ao usuário. É chamado Sistema de Informação ao Usuário do Transantiago e integra, junto com o Administrador Financeiro do Transantiago (TFA), responsável pelo gerenciamento geral em termos de venda e recolhimento das tarifas, e o governo, a quem cabe a infra-estrutura, o tripé de manutenção do sistema.
O Transantiago, porém, vem gerando protestos dos usuários, principalmente pela falta de investimento em infra-estrutura para o funcionamento do sistema por parte do governo, que também não teria considerado, buscando uma implantação a curto prazo, o histórico da cidade e a cultura do povo.
Exemplo em Bogotá
O Transmilênio, de Bogotá, entrou em operação em dezembro do ano 2000, baseado em quatro pilares: respeito à vida, por meio de um serviço seguro e moderno, ao tempo das pessoas, à diversidade humana e à qualidade do serviço a preços justos, além da preocupação com o meio ambiente. Até então, o transporte de massa vinha sendo explorado politicamente, sem benefícios à população, já acostumada às precárias condições. As empresas que atuavam também não mantinham relação trabalhista estável com seus funcionários, os horários eram extensos e a remuneração feita por passageiro.
Foram retirados das ruas 5 mil ônibus e substituídos por 1.020 articulados, que circulam 300 quilômetros por dia cada um, transportando 48 passageiros sentados e 120 em pé. Junto com os alimentadores, 400 no total, atingem 171 bairros da capital colombiana, hoje com 7,5 milhões de habitantes, com cobertura de 84 quilômetros. Os alimentadores fazem rotas circulares, onde não há cobrança de tarifa, trazendo os passageiros para as estações, situadas a cada 400 metros, quando pagam e embarcam nos articulados.
O sistema de controle dos ônibus é por GPS, via satélite, para verificação de atrasos e avanços, a bilhetagem eletrônica e o pagamento às operadoras, por quilômetro rodado (hoje em torno de 4,5 mil pesos colombianos ou US$ 9). O motorista ganha 800 mil pesos, cerca de US$ 400, e tem jornada de oito horas, não contínuas. A velocidade média dos ônibus subiu de 10 km/hora para 24 km/hora, reduzindo sensivelmente o tempo de viagem. O número de acidentes também caiu.
A proposta para solucionar o problema de transporte público previa inicialmente a implantação do metrô, mas optou-se pelo ônibus, cujo custo é dez vezes menor.
O projeto do Transmilênio tem oito fases, duas já desenvolvidas, atendendo 28% da demanda. Os 72% restantes ainda cabem ao antigo sistema. A primeira fase, o eixo Norte-Sul, recebeu investimentos de US$ 2,4 milhões por quilômetro, compreendendo corredores exclusivos, estações, passarelas que facilitam o acesso dos usuários, vias para os articulados, rampas para pessoas com deficiência, passagem de nível, bicicletários, que são gratuitos, e pequenas praças, entre outras obras de infra-estrutura. Na fase dois foram destinados US$ 14 milhões para cada quilômetro. A terceira etapa terá início em 2009 e a última deverá ser concluída em 2030, quando a cobertura será de 100%. Antes, porém, em 2015, deverão ser alcançados 80% do que necessita a população de Bogotá.
O sistema é operado por 14 concessionárias, sete responsáveis pelos articulados e outras sete, pelos alimentadores, que recebem, respectivamente, 71,9% e 13,9% do dinheiro arrecadado com a tarifa, que atualmente é de 1,3 mil pesos colombianos, US$ 0,65. A operação de arrecadação é feita por duas empresas também particulares, definidas por licitação, com contratos de concessão que variam de 10 a 12 anos, e a distribuição, semanal, por meio de um fundo, uma conta bancária. Dos recursos restantes, 9,1% vão para estas operadoras e 5% para a Transmilênio. São 1,3 milhão de passageiros por dia e não há qualquer tipo de isenção, sendo o sistema rentável.