Vereadora nega doações de assessores e diz que foi agredida na rua

por Assessoria Comunicação publicado 09/11/2017 18h15, última modificação 21/10/2021 11h17

“Estou na causa [animal] há 11 anos, salvei muitas vidas; não é porque eu fui traída que vou deixar de ser a pessoa que eu sou”, afirmou a vereadora Katia Dittrich (SD), em depoimento, na tarde desta quinta-feira (9), à Comissão Processante que investiga a acusação de que ela supostamente exigia parte dos salários de ex-funcionários de seu gabinete. Para a parlamentar, a denúncia faz parte de um “complô” para cassá-la. Ela afirmou  ainda que “nunca” pediu contribuição aos funcionários ou ficava com parte de salários.

Segundo o relator do colegiado, Osias Moraes (PRB), ele tem 5 dias para receber as notas taquigráficas, mais 5 dias para analisar e mais 5 dias para dar o parecer. “É possível que possamos pedir novas provas e também algumas pessoas que não foram ouvidas do gabinete.” Perguntado sobre a conclusão do processo, Moraes disse que “até o final do ano nós queremos dar uma resposta”.

À imprensa ela alegou que seus funcionários contribuem de “forma física”. “Faço eventos de adoção e preciso de gente que segure os cachorros, limpe os dejetos, me ajude a fazer fichas de vacinação, inscrição.” Afirmou também que vem sofrendo agressões na rua. “Pra imprensa que não sabe, a vereadora Kátia vai ao mercado, ela vai ao jogo de futebol, e o que acontece, ela já foi agredida no mercado, num jogo de futebol. Ou seja, eu fui condenada? Fui condenada? E por que que as pessoas estão fazendo isso comigo na rua? Eu não posso ir ao mercado? Eu não tenho quem faça mercado pra mim, eu sou uma pessoa de vida simples, tenho calo de vassoura na mão.”

Depoimento
Katia argumentou que demitiu os funcionários do gabinete por “incompetência”, ou por não terem “traquejo para lidar na política”, por “erros de português”, ou por terem prometido fazer divulgações da imagem dela que não teriam chegado a ocorrer. “Sempre tive boa relação com todos, inclusive com uma boa amizade”, afirmou Katia Dittrich, que disse já conhecer os denunciantes antes de tê-los contratado.

Sobre a denunciante Samira Tomé (ex-advogada do gabinete), ela disse que “tinha muitos erros de português” e “não sabia fazer pareceres, nem fazer memorandos ou protocolos.” Já a jornalista Virgínia Vargas da Costa “tinha dificuldade, não aceitava postar foto do governador, do prefeito, falava que não ia me engrandecer em nada. Não atingiu serviço satisfatório.” Sobre o jornalista Diego Xavier, alegou que ele faltava e que não apresentou o trabalho que prometeu fazer antes de ser contratado.

No primeiro dia de oitivas (26 de outubro), Luciana Mara Chuchene, que foi chefe de gabinete de Katia de janeiro a julho deste ano, afirmou que fez, sob coação, um “aporte único”, no valor de R$ 5 mil neste ano à vereadora. Questionada pela Comissão Processante sobre o assunto, a vereadora disse que quis transladar uns cachorros do hotel para a chácara, mas que foi uma oferta espontânea de Luciana. Conforme a vereadora, Luciana teria dito: "sou sua amiga e quero lhe ajudar fazendo um empréstimo”. “As pessoas dos hotéis me pressionavam muito, os funcionários viam que eu vinha nervosa trabalhar e se ofereciam para ajudar”, complementou.

Cristiano Santos emendou que Luciana alegou em seu depoimento não ter sido reembolsada do empréstimo. “Eu dei o dinheiro pra ela [em mãos], não fiz depósito. Era uma relação de amizade, não pensava que as pessoas queriam me prejudicar.” “Paguei e continuo pagando. Não depositei porque nunca pensei que as pessoas tivessem armando um complô contra mim.” Segundo Katia, “hoje está mais fácil porque consegui alugar chácara para abrigar os cachorros”, pois antes ela tinha que pagar hotel para os animais resgatados.

Ela também foi questionada sobre uma afirmação da jornalista Virgínia de que Katia teria ido à sua casa em dezembro com o marido para pedir uma “contribuição” mensal, “que todos do gabinete fariam”, quando fosse contratada. “Fui na casa dela levar a lista de documentos que ela tinha que apresentar para a contratação”, rebateu Katia.

Já a afirmação do jornalista Diego Xavier, de que teria entregado R$ 1 mil de seu salário por exigência da vereadora (com um comprovante de depósito do jornalista anexado à denúncia), ela  alegou que ele havia emprestado dinheiro dela, para ajudar a mãe dele que estava doente, e o depósito era a quitação desta dívida. “Eu não tinha o valor total [quando a vereadora emprestou a ele], tinha cerca de R$ 520. Fiz dois saques, um de R$ 180 e outro de R$ 300 no mesmo dia”, recordou, dizendo que entregou o dinheiro em mãos para ele.

Apesar de a vereadora garantir que não existia nenhum pedido de doação no gabinete dela, durante o depoimento os vereadores da comissão colocaram um áudio de uma entrevista à imprensa do advogado da vereadora afirmando que ela pedia doação por parte dos funcionários à causa animal. “Pro pessoal do gabinete nunca pedi. Eu peço para os meus amigos mais próximos.” Disse que as vacinas ela compra com o dinheiro “do próprio salário”. “Às vezes deixo de comprar uma coisa pra mim pra comprar pra eles [os animais].”

Sobre a alegação dos ex-funcionários de que era o marido dela quem coordenava os trabalhos do gabinete, ela disse que Marcos Whiters só dá “apoio”. "Ele é muito meu amigo, meu conselheiro". Para ela, “quando eles falam do meu marido, eles querem atingí-lo. Meu marido é um homem que não tem boca, é um homem muito bom.” “Marcos não dá ordens nem no meu gabinete nem na minha casa. A minha palavra sempre é a última", disse.

“Complô”
“O dia que ele ficou sabendo que ele foi pedido para a prefeitura, não deixou eu explicar para ele, achou que era um problema pessoal. Ele acabou sumindo com os documentos da dona Rose, mas no fim da tarde ele devolveu”, disse Katia Dittrich sobre Ronaldo da Silveira Filho. Ele é servidor e estava cedido pela prefeitura ao mandato da vereadora e apresentou um áudio na denúncia que mostra uma conversa dele com Salomão Sarraff. Feito em maio, o áudio mostraria os dois funcionários de Katia Dittrich conversando sobre a exoneração, do gabinete, do jornalista Diego Xavier, com referência a ele “não fazer o acerto”. Katia falou que o “acerto” em questão seria sobre o que foi combinado antes da contratação do jornalista em relação aos trabalhos que ele se comprometeu a fazer.

Ela alegou que Silveira Filho tinha interesse na saída dela, já que seu primeiro suplente é o ex-vereador Zé Maria, para quem Silveira Filho já havia trabalhado. “Zé Maria pediu para absorver alguns funcionários dele, veio e falou do Salomão e do Ronaldo, que eles podiam ajudar muito no trabalho, pois tinham experiência na Câmara.” Segundo ela, durante a eleição, o Solidariedade “achava que ia fazer de 3 a 4 cadeiras. Zé Maria falava que com o trabalho que tinha com as pessoas com deficiência nunca perderia a eleição, que conseguiria 15 mil votos”.

Testemunha de defesa
Antes do depoimento de Katia Dittrich, Natália Rosi Doro, advogada do gabinete desde fevereiro (substituindo Samira), foi a última testemunha de defesa a prestar informações à Comissão Processante. Ela disse que “nunca ninguém falou ter sido coagido em relação ao salário”, e que ouviu “que a Samira não estava prestando serviço satisfatório, então resolveram exonerá-la por questão profissional”.

Ela acha que o jornalista Diego Xavier foi exonerado porque “ele se propôs a fazer vários tipos de trabalhos, dizendo que tinha vários contatos na mídia, ia fazer "lives" [transmissões ao vivo] no Facebook pra vereadora, fazer ela ter um alcance na mídia muito grande, mas quando ele entrou nada disso se concretizou. O pessoal achou que ele prometeu muito e não cumpriu nada”.

Já Virgínia teria ofendido um dos funcionários do gabinete e tido um desentendimento com uma funcionária do setor de Anais da Câmara. “Acho que pela postura pessoal ela foi exonerada.” Ela afirmou que Ronaldo, que também havia trabalhado para Zé Maria, estaria levando informações sigilosas de dentro do gabinete para o partido Solidariedade. “Ela decidiu que não queria mais ele aqui porque estava levando informações.” Para ela, “o partido tem interesse na vaga”. “Existe um vereador querendo a vaga dela.”

Disse também que o marido da vereadora, Marcos, não dá ordens no gabinete. “É uma pessoa até presente, nós gostamos muito dele, mas o perfil dele é de aconselhamento da Kátia.” Disse que ele não dá ordens para ela. “Quem toma todas as decisões é a Kátia. Nem quando a Kátia sai de viagem ele fica responsável pelo setor.”

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