Valdemir Soares renuncia, mas nega ter votado por vereadora

por Assessoria Comunicação publicado 06/04/2016 15h05, última modificação 06/10/2021 08h34

Acusado de ter fraudado uma votação na Câmara Municipal de Curitiba, e após ter sido denunciado à Mesa Diretora pela vereadora Julieta Reis (DEM), o vereador Valdemir Soares (PRB) renunciou ao mandato durante a sessão desta quarta-feira (6). Em um discurso de 30 minutos, Soares, que estava no 4º mandato, voltou a negar que tivesse votado no lugar da colega, disse ter a consciência limpa e que a ação contra ele foi fabricada. Ele também pôs em dúvida o sistema de votações da Casa e falou sobre suas ações em benefício da população no período em que foi vereador. Após sua fala, não houve contestação por parte da Mesa Diretora ou outros parlamentares porque encerrou o tempo regimental da sessão.

“Saio pela porta da frente e vou continuar a fazer o trabalho social que sempre fiz. Sei que se eu me defendesse dessa acusação eu seria inocentado, mas por respeito a Curitiba decidi renunciar. Tenho a consciência limpa de que não votei pela vereadora e nunca tive nenhuma conduta que ferisse a ética e o decoro parlamentar. Mas, da forma como os fatos foram noticiados, não pareceu honesto da minha parte permanecer. E tão importante quanto ser honesto é parecer ser honesto”, disse.

Em relação ao sistema de votação, Valdemir Soares afirmou que ele “deixa interrogações” e pediu por mudanças. “Eu não quero com isso justificar uma questão minha, mas várias questões que, inclusive depois da posição da minha renúncia, começaram a aparecer. Meu único interesse em comentar isso é fortalecer a transparência nas votações para que assim como aconteceu [comigo] de forma extremamente desnecessária, uma ação fabricada, não venha a acontecer com outros.”

Ele argumentou que não podem mais ser admitidas situações em que um “vereador vota de um jeito e aparece de outro”, ou em que “um vereador esbarrou no console e o voto foi computado”. Ainda conforme Valdemir Soares, alguns vereadores o procuraram e disseram para que ele não renunciasse, pois outros parlamentares ausentes na mesma sessão do 31 também teriam tido seus votos computados. Na sessão desta terça-feira (5), o presidente da Casa, Ailton Araújo (PSC), afastou a possibilidade de um erro técnico e afirmou que nunca houve contestação das votações até então. (Leia a denúncia da vereadora Julieta Reis com um termo de aditamento)

No único momento em que foi aplaudido por parte do plenário, Soares agradeceu ao apoio recebido pela família e por membros da comunidade evangélica de todo o Brasil. Ele disse que seu filho aprovou a decisão de renunciar e o recebeu com um abraço. “Meu filho Lucas me disse que eu tomei a atitude correta, que deveria servir de exemplo para todos os políticos que são contestados nesse país”. (Leia a carta de renúncia na íntegra)

Antes do discurso
Antes ainda da renúncia oficial de Valdemir Soares, Jorge Bernardi (Rede) declarou apoio ao colega pela atitude já anunciada. “Isso demonstra seu caráter, firmeza, um exemplo que deve servir para o país. Nossa república está podre, o Eduardo Cunha já deveria ter renunciado. Em Brasília, o que tem acontecido com a presidenta e o vice-presidente é mil vezes mais grave do que aconteceu aqui.”

Bernardi criticou a Mesa Diretora da Câmara por ter, segundo ele, feito “vazamento seletivo para determinadas emissoras” das imagens que mostram o momento em que Valdemir teria votado por Julieta Reis e voltou a pedir a anulação da votação. Chicarelli (PSDC) foi outro a pedir a anulação do processo e criticou os vereadores que estavam ausentes na sessão do dia 31. “Muitos se esconderam de votar”, acusou.

Ailton Araújo rebateu as críticas e disse que quem acusa deve apresentar provas. Ele negou “vazamento” e esclareceu que as imagens foram solicitadas inicialmente por uma emissora que “teve a iniciativa de pedir” e que depois todos os que solicitaram também tiveram acesso, “assim como aconteceu em casos anteriores”. “Ora, se não apresentássemos as imagens, a Mesa poderia ser acusada de tentar encobrir alguma situação, o que vai contra a nossa diretriz de transparência”.

Esclarecimento
Em entrevista à imprensa, Noemia Rocha (PMDB) apresentou esclarecimentos sobre novo vídeo veiculado pela imprensa da sessão do dia 31 que levanta dúvidas sobre a parlamentar ter votado no lugar de Beto Moraes (PSDB), que estava ausente à votação. Conforme a parlamentar, a votação já havia sido encerrada, portanto ela não teria como ter registrado o voto no equipamento de Moraes.

Ainda segundo Noemia, o vídeo mostra o momento em que ela “aponta” para o equipamento e comenta com Rogério Campos (PSC) que eles iriam perder a votação por poucos votos, em função da ausência de alguns vereadores. “Eu jamais votaria no lugar de outro vereador”, declarou. Ela admitiu que ocasionalmente os vereadores podem errar seus votos, mas que o erro é identificado no painel e o voto é corrigido, conforme prevê o Regimento Interno. “Poderíamos ter uma senha individual nos equipamentos de votação, isso facilitaria nosso trabalho”, sugeriu.

A versão de Noemia foi confirmada por Rogério Campos. “Ela apontou, mas não apertou o botão, até porque a votação já havia sido encerrada pelo presidente”. Campos negou que exista a prática de vereadores votarem pelos outros. “Nunca ouvi falar. O que ocorre é apenas um tentar convencer o outro a mudar de opinião, o que faz parte do Parlamento.”

Ainda durante a sessão, Jonny Stica (PDT) apresentou requerimento à Mesa Diretora em que pede que sejam analisadas as imagens “do início ao fim” das votações ocorridas no dia 31 afim de identificar se houve “outras possíveis irregularidades”. No documento, Stica também solicita que o Conselho de Ética analise o material e que a íntegra da sessão seja disponibilizada à imprensa e que as análises sejam feitas até a próxima sessão plenária, dia 11 de abril.

Próximos passos
O presidente da Câmara, Ailton Araújo, informou nesta tarde que aceitou o pedido de renúncia e vai dar sequência aos trâmites administrativos necessários. O desligamento será publicado no Diário Oficial do Município (DOM) e a Câmara comunicará a Justiça Eleitoral sobre a vacância do cargo, para que informe ao suplente da vaga.