Tribuna Livre discute inclusão dos transgêneros na sociedade

por Assessoria Comunicação publicado 19/02/2014 13h00, última modificação 22/09/2021 07h27

A Câmara de Curitiba recebeu, na Tribuna Livre desta quarta-feira (19), integrantes do Grupo Esperança, organização não governamental voltada aos direitos de travestis e transexuais. Segundo Professora Josete (PT), proponente da tribuna, em homenagem aos 20 anos da organização, a sociedade brasileira é muito desigual, em especial para aqueles que não se enquadram nos padrões impostos.

“Nossa sociedade ainda precisa muito amadurecer. No dia a dia, os transgêneros enfrentam os preconceitos e a homofobia, porque a sociedade não aceita que a pessoa se assuma como é, na sua sexualidade e identidade de gênero”, declarou a parlamentar.

A presidente do Grupo Esperança, Liza Minelli, agradeceu o espaço aberto pelo Legislativo, ressaltando a importância da inclusão dos transgêneros na sociedade. “Vivemos até pouco tempo com a ditadura militar, a reclusão e a repressão. Por isso tivemos que nos organizar para nos fortalecer e fazer valer nossos direitos. Paramos de achar que era normal sermos presos pelos policiais”, desabafou.

Entre as atividades promovidas pelo Grupo Esperança, está o projeto de promoção e defesa dos direitos humanos, oferecendo assessoria jurídica a portadores com HIV/AIDS e hepatites virais.  Liza Minelli considera que é importante a ampliação do serviço de defensoria pública oferecida pelo Estado. “Embora tenha sido realizado concurso público e defensores estão sendo contratados, ainda não são suficientes”, reiterou.

O combate à violência é uma das frentes de luta da instituição. Sobre os crimes e assassinatos contra os transgêneros, Liza Minelli revela que falta interesse público na investigação sobre os crimes de homofobia praticados no Brasil. “No nosso país não se dá a devida atenção nas investigações sobre este tipo de crime”, afirmou.

O presidente do Legislativo, Paulo Salamuni (PV), ressaltou a importância de se dar o mesmo tratamento a todos que sejam recebidos na Casa. “Temos que tratar a todos com o mesmo respeito e entusiasmo, independente da sua ideologia, religião ou opção sexual. Todos são exatamente iguais”.

A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública, Carla Pimentel (PSC), ressaltou que a sociedade deve se tornar mais humana. “Nossa sociedade precisa olhar e ver o outro como ser humano, por isso o nosso dever em combater o preconceito e a violência. Este ano, a comissão de Direitos Humanos fará um grande trabalho nessa área”, respondeu Carla.

Participaram ainda do debate os vereadores Pedro Paulo (PT), Bruno Pessuti (PSC), Jonny Stica (PT), Julieta Reis (DEM) e Tico Kuzma (PROS).

Conheça o poema de Letícia Lanz, lido pela vereadora Professora Josete, na abertura da Tribuna Livre:

Um dia celebrarão o dia da pessoa

Nesse tempo que às vezes eu penso que nunca chegará,
ninguém mais vai se lembrar do dia
em que houve essa divisão absurda entre homem e mulher,
índio, preto, branco e pardo
homo, bi, hétero e coisa nenhuma,
como se para o Universo fizesse diferença
as pseudo-diferenças que inventamos
apenas para justificar os nossos dogmas sagrados

Nesse dia, posto que não haverá mais categorias,
hão de comemorar apenas o dom de ser gente,
sem nenhuma releitura política ou mercadológica da ocasião
sem nenhuma alusão exclusiva a virtudes
ou defeitos dessa ou daquela categoria
sem necessidade de denunciar a falta de respeito por esse ou aquele
posto que todos, indistintamente, serão naturalmente bem-vindos
sem que ninguém lhes peça carteirinha à porta do evento
para saber se são, mesmo, gente.

Nesse tempo,
impossível e utópico para a mesquinhez dos nossos hojes,
ninguém mais será ninguém, sob nenhum pretexto.
Ninguém mais ficará de fora,
chupando o dedo e remoendo de inveja,
arquitetando planos sutis e nefastos
de como tomar a festa de assalto
ou como imitar os atributos dos convidados pra poder ser recebido.

Ah, tempo bendito que não chega!
Os corações estão minados de medo e mágoa
e as mentes por demais instruídas em conceitos e padrões!

Mas se um dia vieres,
se um dia venceres a incredulidade de uns e a ingenuidade de outros,
faça de conta que nós
– classificados, divididos e rotulados desse tempo de antes -
jamais existimos em tempo algum nesse mundo!

Quando esse tempo chegar, revoguem o passado
e celebrem apenas o presente do ser gente,
e a diversidade de se ser gente
enfim incorporada e compreendida
como a mais pura e essencial manifestação
da própria vida.