Tribuna Livre celebra os 68 anos do Curso Parto Amoroso
A Tribuna Livre promovida pela Câmara, nesta quarta (13) teve como tema o Curso Parto Amoroso, que presta apoio a gestantes e a casais grávidos. A iniciativa foi da vereadora Indiara Barbosa. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Nesta quarta-feira (13), a Câmara Municipal de Curitiba recebeu representantes do Centro de Apoio às Mulheres e ao Casal Grávido (Cemuc), entidade que promove o Curso Parto Amoroso. A atividade, que completa 68 anos neste mês de setembro, desenvolve também ações sociais, educacionais e culturais visando ao bem-estar das mães e dos casais que precisam de apoio por ocasião do nascimento de seus filhos. A iniciativa do convite foi da vereadora Indiara Barbosa (Novo). Compuseram a mesa Priscila Gonçalves Tenfen, Virginia Merlin, Rossana Franke de Oliveira e a ex-vereadora Rosa Maria Chiamulera, integrantes do Cemuc.
A vereadora Indiara Barbosa (Novo), autora do pedido para uso da Tribuna Livre pelas representantes do Cemuc, lembrou que a entidade completa 68 anos de existência em setembro. “Eu conheço o Cemuc há mais de dez anos e tive a oportunidade de fazer um curso lá, durante minha primeira gestação e, agora, por ocasião da minha segunda gravidez, novamente estive lá. Então, fico muito feliz em poder mostrar o trabalho do Cemuc aos vereadores e à comunidade.”
A vereadora esclareceu que o Cemuc, além da promoção de cursos, também beneficia diversas famílias por meio de doações a ONGs que são revertidas em itens como fraldas e roupas para os casais que aguardam filhos. A parlamentar comentou que esteve na Secretaria de Saúde para falar sobre o tema que também envolve os programas Mãe Curitibana e Saúde da Mulher. “A experiência da gestação fez com que eu pudesse acompanhar mais de perto o tema, e é importante que nós, na condição de vereadores, possamos contribuir [com a discussão]”, disse ela.
A Tribuna Livre é o espaço concedido durante as sessões plenárias das quartas-feiras, no qual os vereadores convidam especialistas e entidades para que falem sobre temas do interesse da coletividade.
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Parto Amoroso
Priscila Gonçalves Tenfen, publicitária e criadora da página do Curso Parto Amoroso, esclareceu que a inciativa principiou no dia 21 de setembro de 1955, completando, portanto, 68 anos de atividades voluntárias em 2023. “Tudo começou com a doutora Elisa Checchia Noronha. Ao perceber que suas pacientes apresentavam muitas dúvidas em relação à gestação e ao parto, ela criou um curso com aulas aos domingos com o objetivo de orientar as gestantes. Ela pedia às gestantes em melhores condições financeiras que levassem um enxoval de bebê para ser destinado às menos favorecidas”, explicou Priscila. Os resultados positivos apresentados pelo curso eram verificáveis na forma como as gestantes se comportavam no parto e isso foi percebido pela classe médica. “Havia uma diferença entre mães preparadas e mães não-preparadas”, disse ela. Ela destacou a presença de Jacinta, a primeira criança gestada e nascida após sua mãe ter participado do curso.
Inicialmente com outros nomes, como Parto Amoroso e Parto Sem Dor, o curso foi ampliado e, em 1995, foi criado o curso para os Casais Grávidos. "Neste momento, na Europa, os pais já tinham orientações sobre o tema, mas aqui essa prática ainda não existia. Essa inovação foi trazida para cá, e o curso passou a ser o primeiro do Brasil a atender também os pais”, comentou Priscila. Dois anos depois, em 1997, foi criado o Cemuc, sigla para Centro de Apoio à Mulheres e a casais Grávidos, que passou a ter personalidade jurídica. Em 1999, a entidade criou um convênio com a Associação Brasileira das Mulheres Médicas e criou o curso Mamãe Eu Quero Mamar, atividade que ajudou a melhorar os números relativos à amamentação em Curitiba.
De acordo com ela, hoje o curso agrega 50 profissionais, como médicos de diferentes especialidades, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, dentistas e enfermeiros que desenvolvem vários tipos de orientações e atividades. O curso também conta com a participação de advogados, contadores, músicos, fotógrafos e outros profissionais. “É uma missão que todos abraçam voluntariamente”, afirmou Priscila. Além do ensino, segundo ela, o Curso Parto Amoroso também incentiva o empreendedorismo feminino, abrindo espaço nas suas aulas para as mães que decidem empreender e, consequentemente, ter mais tempo para ficar com seus filhos. De acordo com Tenfen, o Cemuc já promoveu 50 lives com a participação de mulheres e casais de todo o Brasil.
Doações
Outro incentivo desenvolvido pelo Cemuc se realiza por meio de doações. “Esse é o legado que a doutora Elisa deixou. A proposta de entregar enxovais para mães com menor poder aquisitivo e nós mantemos isso. É uma visão e uma prática que nunca se perdeu”, esclareceu Priscila. Para ela, essa iniciativa materializa transparência e cidadania, fazendo com que as mães percebam que a vida vai além de suas próprias famílias. Nos últimos anos, de acordo com ela, foram entregues 100 mil fraldas, 90 mil novelos de lã, 7 toneladas de alimentos e produtos de higiene, entregues em maternidades e abrigos, não só de crianças, como também de idosos.
Além da arrecadação de doações, Priscila acrescentou que o Cemuc promove palestras sobre saúde feminina, eventos culturais - como a Exposição Fotográfica Negras Mães, realizada durante o período da pandemia e que exibia imagens de gestantes negras - e encontros festivos, como o que será realizado na 1ª Igreja Batista, em outubro. Ela também comentou sobre as parcerias realizadas para a promoção desses eventos, como a com o Rotary, que auxiliou na execução da Carreata das Mamães, que levou alimentos doados pela comunidade para a Maternidade Mater Dei. “Foram 400 kg de alimentos e centenas de fraldas entregues nesse dia”, esclareceu.
Premiações
O Curso parto Amoroso já coleciona prêmios e honrarias, com destaque ao prêmio Cidade de Curitiba (2017), concedido pela Câmara, e à honraria Paul Harris (2018), referente ao trabalho feito pela amamentação. Outros destaques são o 1º lugar no prêmio Impulso, na categoria Mídias Sociais (2019), o 3º lugar no Brasil no Hackaton de projetos sociais promovido pelo PMI (2020) e o certificado de reconhecimento público expedido pela Secretaria Estadual de Justiça e Trabalho por ocasião do Dia Nacional do Voluntariado (2021).
“Todo esse trabalho já orientou 50 mil alunos e hoje está concentrado nas instalações do Museu da Vida, no bairro Mercês, em Curitiba. É um trabalho que faz a diferença”, disse Priscila. Ela lembrou ainda que o Cemuc está desenvolvendo um curso online que estará disponível em breve e que também oferece produtos sociais, como uma agenda que orienta gestantes sobre os momentos importantes da gestação.
Em analogia ao Dia da Árvore, comemorado na mesma data de aniversário do Curso Parto Amoroso, Virginia Merlin correlacionou os temas para enaltecer a continuidades dos trabalhos realizados pelo Cemuc. “A árvore é plantada em solo fértil e dela precisamos cuidar diariamente para colher flores perfumadas e frutos doces”, disse a presidente do Cemuc.
Para a médica, o Curso Parto Amoroso é como uma árvore frondosa que oferece sombra a muitos jovens casais. Além disso, de acordo com ela, é um ponto de partida para muitos profissionais e um meio de empreendedorismo e de solidariedade que se materializa no voluntariado. “Nossa gratidão a todas as famílias que nos últimos 68 anos têm confiado ao Curso Parto Amoroso a orientação sobre gestação, parto e primeiros meses de vida de seus bebês”, finalizou.
Perguntas
Rodrigo Braga Reis (União) declarou estar feliz pela realização dessa Tribuna Livre. “Quando vemos mulheres à frente do seu tempo, dedicando a vida para ajudar outras pessoas, é algo que emociona. Esperamos que o trabalho tenha continuidade sabendo que sempre terão o apoio dessa Câmara Municipal”, disse o parlamentar.
Para Amália Tortato (Novo), falar de maternidade é fundamental e diz respeito a todas as mulheres, especialmente às mães. “Sou mãe de uma bebê de três anos e meio e tive muito apoio por parte de minha sogra no momento pós-parto, que é de dificuldade. Minha pergunta se refere justamente a esse momento pós-parto, se o Cemuc oferece apoio nesse momento.”
O presidente da Câmara, vereador Marcelo Fachinello (Pode) disse ser pai de uma menina de três meses e comentou que sua dúvida também é sobre o momento pós-parto. “Eu já sabia desse dado de que 25% das mulheres apresentam depressão pós-parto, então gostaria de saber quais os sinais indicativos dessa situação”, indagou ele.
Em resposta, a doutora Rossana Franke de Oliveira esclareceu que a amamentação é o foco do curso. “Não adianta preparar o quarto e os móveis e não preparar a amamentação que é o leite que está ali de graça, é quentinho e vai alimentar o seu bebê. Durante o curso, é feito um preparo da mama e é orientado que a mãe faça uma consulta antes do nascimento que pode ser feita de forma gratuita no consultório da doutora Virginia Merlin. Além do curso, há um grupo de Whatsapp com as mães, no sentido de prestar um suporte”, disse ela. A médica enfatizou a importância do papel dos pais antes e depois do nascimento, principalmente no que diz respeito à chamada depressão pós-parto.
Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) disse que como fotógrafa acompanhou atividades do Cemuc no Hospital Mater Dei e a amamentação na rua XV. Para ela, é um fundamental trabalho de orientação e acolhida a essas mães. Ela indagou se há apontamentos específicos sobre a situação das mães solo e das mães de periferia. Professora Josete (PT) declarou que se trata de um trabalho muito importante. “A sociedade como um todo romantiza muito a maternidade, pois é óbvio que uma criança sempre traz muita felicidade, mas há também os desafios. Minha pergunta é sobre quais temas vocês abrangem com os pais”.
A médica Rossana esclareceu que, no curso, as mães solo não são vistas dessa forma. “Tentamos trazer para o grupo, incluir, não deixar que elas se sintam sozinhas. É o que acontece com os encontros promovidos pelas Amigas de Barriga, em que essas mães solo são trazidas para o convívio”, disse ela. Sobre as mães de periferia, ela disse que o material recebido (fraldas, alimentos, etc) é distribuído na forma de enxovais. “Mas é um grupo que conta com poucos voluntários. Precisamos de mais pessoas que se somem a essa equipe”, disse a médica, que também frisou a importância da doação de leite materno. “Esse leite vai para os hospitais e ajuda a salvar vidas”, esclareceu. Sobre a presença dos pais no cursos, Rossana disse que, ao longo da licença de 20 dias (no caso de funcionários de “empresas cidadãs”), eles recebem orientações sobre como ajudar a mãe e sobre como lidar com o bebê em situações, como a do banho no chuveiro, que apresenta riscos.
Noemia Rocha (MDB) perguntou como a Câmara pode contribuir com o projeto, além de abrir espaço na Tribuna Livre. Para Priscila Gonzalez Tenfen, o número de pessoas que frequentam o curso ainda é pequeno considerando o número de nascimentos em Curitiba. “Queremos poder levar o curso às comunidades, às pessoas que não dispõem de internet de qualidade para acompanhar as aulas. Então, a ideia é essa. Nós queremos ter um produto que possa ser vendido, mas que esse produto também possas ser doado em igrejas ou entidades que atendam as pessoas nas suas próprias comunidades. Nesse sentido, precisaríamos de mais visibilidade e verbas”, disse ela.
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