Tribuna Livre: campanha “Mulheres Também Infartam” é apresentada na CMC
A campanha “Mulheres Também Infartam” é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
A doença cardiovascular mata oito vezes mais que o câncer de mama. No mundo, problemas como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) são responsáveis por um terço das mortes de mulheres, representando 35% dos óbitos. E só em 2019, das 257 milhõs de mulheres diagnosticadas com uma doença cardiovascular, 8,9 milhões morreram. Esses foram alguns dos alertas feitos pela médica Viviana de Mello Guzzo Lemke à Câmara Municipal de Curitiba (CMC) nesta quarta-feira (23). A convite de Pier Petruzziello (PTB) (076.00017.2021), ela participou da Tribuna Livre e apresentou aos vereadores a campanha “Mulheres Também Infartam”.
Especialista em cardiologia intervencionista e diretora do Departamento de Defesa Profissional da Associação Médica do Paraná (AMP), Viviana Lemke é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista e coordenada o grupo Mint – Mulheres Intervencionistas, que desenvolve a campanha em todo o país. A ação, que pode ser acompanhada em seus canais oficiais no Facebook e Instagram, visa conscientizar a população, em especial às mulheres, a necessidade da prevenção ao infarto e outras doenças cardiovasculares – como hipertensão, AVC, trombose venosa.
Após ouvir da vereadora Maria Leticia (PV), uma saudação em nome de todos os vereadores, Viviana Lemke elencou dados e características que justificam por que as mulheres devem priorizar os cuidados com sua saúde e, assim, evitarem os diferentes tipos de infarto ou procurarem atendimento médico tardiamente. Segundo a especialista, as doenças cardiovasculares em mulhers são pouco estudadas, pouco reconhecidas, subdiagnosticadas e pouco tratadas em todo o mundo, por isso a atenção deve ser redobrada.
“A doença cardiovascular é a causa mais comum entre as pessoas, sendo responsável por 47% de todas as mortes das mulheres e 39% das mortes entre homens. A doença esquêmica, ou seja, o infarto, mata 18% das mulheres e 17% dos homens; já o AVC [acidente vascular cerebral] é a segunda causa mais comum das doenças cardiovasculares, é responsável por 12% das mortes entre as mulheres e 8% dos homens”, informa a convidada da Tribuna Livre.
A aterosclerose – obstrução no vaso sanguíneo causada por placas de gordura – é a principal causa das doenças cardiovasculares e de acordo com a coordenadora do grupo Mint, “todos os órgãos do corpo precisam de oxigênio para sobreviver e quando ocorre a obstrução, o sangue que leva o oxigênio não consegue chegar e este fenômeno é chamado infarto – que pode ocorrer em qualquer parte do corpo”. “No caso do coração, é o infarto do miocárdio. Mas ele pode ser cerebral, o AVC. Pode ser um infarto renal ou infarto de intestino”, diz.
Fatores de risco
Viviana Lemke também orientou sobre os fatores de risco que levam ao infarto e outras doenças cardiovasculares, não modificáveis não modificáveis (idade, sexo, histórico familiar) e modificáveis (obesidade, diabetes, hipertensão, tabagismo, sedentarismo). Em especial, nas mulheres, menopausa precoce, diabetes gestacional, parto prematuro, síndrome do ovário policístico; e fatores de risco psicossociais como abuso e violência do parceiro íntimo e pobreza, também podem aumentar as chances de sofrerem o infarto, por exemplo.
“As mulheres também têm maior prevalência de depressão, ansiedade e estresse, em comparação com os homens. E a depressão não tratada em pacientes com infarto está corelacionada com maior risco de morte em um ano após o infarto”, alerta. Outros problemas que, associados, podem elevar o risco de óbito em decorrência de doenças cardiovasculares como o infarto é a diabetes e o hábito de fumar. “Mulheres diabéticas têm três vezes mais risco de morrer de infarto do que as que não são diabéticas; têm 50% mais chances de morrer de infarto do que os homens com diabetes. Mulheres fumantes têm mais chances de sofrer infarto do que os homens fumantes”, emenda a cardiologista intervencionista.
Somado a isso, ainda há o fato de que, nas mulheres, os sintomas da doença são atípicos, como dificuldades para respirar, dor na mandíbula, fadiga, dor ou queimação no pescoço, sensação de indigestão, dor na clavícula. “Dor no peito nas mulheres não é um sintoma tão frequente quanto nos homens. As mulheres são mais propensas a apresentarem infarto sem dor e estas apresentam uma maior mortalidade, provavelmente pela apresentação tardia a hospital, que leva a um subdiagnóstico e a um subtratamento”, completa Lemke.
Dúvidas das vereadoras
Após a apresentação da Campanha “Mulheres Também Infartam”, a convidada de Pier Petruzziello e Maria Leticia conversou com os parlamentares, mais especificamente com as vereadoras, que elogiaram a iniciativa e fizeram questionamentos sobre o tema. Indagada por Professora Josete (PT) sobre o uso do anticoncepcional como fator de risco para o infarto, Viviana Lemke explicou que o medicamento está ligado às ocorrências da doença porque atua na parte hormonal da mulher e, consequentemente, “falando de uma forma mais simples, faz com o que o sangue fique mais grosso e tenham uma chance maior de trombose: pulmonar, de membros inferiores ou que causa infarto”.
Por isso, continua a especialista, ela recomenda que os colegas ginecologistas encaminhem suas pacientes para avaliação cardiológica antes de prescreverem o anticoncepcional, “principalmente se a mulher tiver fator de risco”. “Uma mulher que fuma, uma mulher obesa, uma mulher sedentária deve ser orientada fortemente a mudar esses fatores de risco. Ela deve fazer exercícios [físicos] e não pode fumar. A mulher que fuma não pode tomar anticoncepcional via oral, porque o risco desta somatória é muito grande”, destaca.
Questionada por Indiara Barbosa (Novo) sobre a realização de estudos sobre o impacto da pandemia da covid-19 no crescimento ou diminuição dos óbitos por doenças cardiovasculares, Viviana Lemke informou que um levantamento apoiado pela SBHCI e feito em 40 hospitais do Brasil, com mais de 1.300 pacientes – chamado Registro Brasileiro de Cardiologia Intervencionista –, mostrou que os pacientes estão atrasando a procura ao hospital e morrendo em casa. “As mulheres têm essa característica de demorarem mais a ir ao hospital, porque elas não entendem bem a sua dor porque normalmente os seus sintomas não são típicos. O homem quando tem a dor típica, sua, que é aquela dor forte no peito, ele corre para o hospital. A mulher também, quando ter este tipo de dor, só nas costas, um incômodo, e vai deixando [de procurar atendimento médico].”
“Qual a dica de ouro para que você indica para as mulheres?”, pediu a vereadora Amália Tortato (Novo). “Cuide de sua saúde integral. A saúde integral não é só a saúde do corpo, mas a saúde da mente, é o bem-estar psicológico. Para algumas mulheres isto significa fazer yoga, para outras significa fazer exercícios pesados, malhar. Para outras significar estar cozinhando com sua família, para outras significa viajar. A depressão, a ansiedade e o estresse têm mais importância no infarto para as mulheres”, respondeu. Ainda segundo a especialista, em resposta à Maria Leticia, a principal arma para que a campanha chegue ao maior número de mulheres possível é a própria população, que precisa ser educada de que infarto “não é só coisa de homem”. A participação de Viviana Lemke na Tribuna Livre ocorreu logo após o pequeno expediente da sessão plenária de hoje e pode ser conferida, na íntegra, no canal do YouTube do Legislativo.
Tribuna Livre
A Tribuna Livre é um espaço democrático de debates mantido pela CMC, para ser canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas discutidos são sugeridos pelos vereadores, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc.
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