Transporte público é tema de seminário

por Assessoria Comunicação publicado 31/03/2005 18h00, última modificação 19/05/2021 17h56
“A tarifa de ônibus sobe mais que o salário.” O comentário é do economista Sandro Silva, do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos), ao participar do seminário “Transporte público, transparência e controle social”, promovido pela bancada do PT na Câmara de Curitiba. O evento, que teve início nesta quinta-feira (31), foi aberto pelo presidente da Casa, vereador João Cláudio Derosso (PSDB), que destacou o trabalho realizado na cidade  para tentar reduzir o preço da tarifa de transporte. “Estamos analisando o que os municípios estão fazendo e o que nós podemos fazer para reduzir o valor hoje cobrado, pois sabemos o impacto que tem na vida das pessoas que utilizam esse meio de locomoção”, afirmou, salientando a importância desse tipo de seminário na busca de soluções para o problema, que não é só de Curitiba, mas de todas as capitais brasileiras.
Segundo Sandro Silva, “a Urbs, gerenciadora do transporte coletivo, faz o repasse automático às empresas do aumento de preços dos insumos que compõem a planilha do transporte. E não se cobra eficiência dos empresários”. Na opinião do economista, é necessária a revisão da lei que regulamenta o transporte. “É preciso uma discussão mais ampla”, analisa.
Para o diretor da Comec, Alcidino Bittencourt, a incidência de impostos diretos e indiretos custa 16,97% da tarifa. Além disso, são computados, ainda, 46% do custo com pessoal e 21%  com combustível. Os participantes do seminário são unânimes em não concordar com o sistema adotado pelos municípios de remunerar as empresas de transporte por quilômetro rodado dos ônibus.
Evolução
O engenheiro Garrone Reck,  professor do Departamento de Engenharia da UFPR e sócio de empresa que trata de organização de transporte urbano em cidades, mostrou aos participantes do seminário a história da evolução do transporte coletivo em Curitiba, desde o início dos bondes, em 1887, sua substituição por bondes elétricos, em 1911, passando pelo começo do serviço de ônibus de lotações, em 1936, às expansões do setor até a criação da RIT – Rede Integrada de Transporte. Garrone falou, também, das soluções já conhecidas e das inovações para o transporte público, como ciclovias, preservação dos espaços públicos e da prioridade para pedestres, no sentido de resgatar a cidade para as pessoas exercerem o direito fundamental de poder caminhar.
O palestrante disse que a mobilidade urbana sustentável precisa respeitar os usuários das vias públicas e o meio ambiente. E mostrou, através de estudos, que renda e motorização estão diretamente ligados, pois, na proporção em que aumenta a renda das pessoas, cresce o número de proprietários de veículos. Isso significa que redução na demanda do transporte público é igual à redução de freqüência de ônibus e aumento de carros como meios alternativos de locomoção, que, por sua vez, deixam as vias mais congestionadas, fazendo com que os ônibus se atrasem cada vez mais para executar seus percursos, deixando de ser meio de transporte atrativo. Com a queda de produtividade aumenta o custo operacional e, conseqüentemente o valor da tarifa.
“Precisamos perder a ilusão de que o capitalista vai abrir mão de seus lucros para bancar esse processo”, disse Garrone, afirmando, ainda, que esse ciclo vicioso só será rompido com a restrição de automóveis, preferência para os ônibus e subsídios pelos poderes públicos. “Mas, ao invés disso, estamos ampliando esse sistema vicioso com a preferência para o transporte privado em detrimento do público, incentivando a oferta de estacionamento nas áreas centrais e zonas congestionadas, além de subsídios, pois é concedida a gratuidade e descontos para determinados grupos de usuários do transporte coletivo, como idosos e estudantes, sem a garantia de fontes externas de financiamentos”, afirmou Garrone. “Para qualquer benefício que seja criado é preciso encontrar formas de financiamento. Se todas as pessoas beneficiadas com descontos e gratuidade pagassem pelo menos o valor de uma passagem, independente do número de trajetos, o transporte coletivo seria mais barato para todos”. Por isso, na opinião do engenheiro, são necessárias mudanças quando a estas questões.
O deputado estadual Tadeu Veneri (PT), que também participou do evento no Legislativo,  falou sobre o controle social e a participação popular, que começaram nas décadas de 70 e 80 e que também trouxeram reflexos para o sistema de transporte, quando a sociedade organizada começou a participar do planejamento das cidades.
Programação
Os trabalhos continuam nesta sexta-feira (1º), a partir das 9h, com painéis sobre a concepção do transporte público e experiências de outras administrações municipais. Os palestrantes serão Renato Bariani, ex-secretário de Transportes de Maringá; Célio Freitas Bouzada, coordenador de projetos especiais da BHTrans, e Túlio Manin, ex-diretor da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre.
A mesa de abertura do seminário foi formada pelos vereadores João Cláudio Derosso, presidente da Câmara; professora Josete (PT), Roseli Isidoro (PT), André Passos (PT), Marcio Pessati, vice-presidente do diretório estadual do PT; Luiz Herlain, presidente do Conselho Nacional de Cidades e da central de movimentos populares; Moacir Ribas Sezeck, presidente do Sindicondutores; e Tiago Bagatin; do DCE da UFPR. O evento foi organizado pela bancado do PT na Câmara de Curitiba, Central dos Movimentos Sociais (CMS), Dieese, Ambiens/Terra de Direitos, Central de Movimentos Populares, SindiUrbano (Sindicato de Trabalhores em Urbanização de Curitiba e Movimento Estudantil de Curitiba.