Testemunhas de defesa negam devolução de salário à vereadora

por Assessoria Comunicação publicado 09/11/2017 13h10, última modificação 21/10/2021 11h05

A Comissão Processante retomou na manhã desta quinta-feira (9) os depoimentos das testemunhas de defesa na investigação que apura a denúncia contra a vereadora Katia Dittrich (SD). Foram ouvidos cinco funcionários que atualmente trabalham no mandato da parlamentar, que negaram terem sido coagidos a “devolver” parte de sua remuneração para permanecer nos cargos. As oitivas são continuação da sessão iniciada na véspera (leia mais) e que segue à tarde, a partir das 15 horas, com o depoimento da última testemunha de defesa, Natália Rosi Doro, e da própria parlamentar.


Depuseram pela manhã Emely Gabrielle Pereira Dias, Rosenei Aparecida de Oliveira, Júlio Sérgio de Souza Castro, Irlani Rosa de Jesus e Nicolas Théo Leprevost Guelmann. A testemunha César Prevedello Coelho foi dispensada pela defesa da vereadora, representada hoje pelo advogado Luiz Eduardo Peccinn. À imprensa, no fim do turno de oitivas, disse que, na opinião dele, a defesa da vereadora estaria “desmentindo” a denúncia contra a parlamentar, que “nunca houve conduta desabonadora”.

Serviço voluntário
A médica veterinária Emely Gabrielle Pereira Dias é funcionária comissionada de Katia Dittrich desde maio, mas frequentava o gabinete parlamentar já no início do mandato, esporadicamente, para prestar consultoria na elaboração de projetos de lei. Ela contou à comissão que, depois da contratação, não foi compelida a devolver parte de seu salário à vereadora, nem ouviu qualquer comentário a respeito dessa prática de cobrança dentro do mandato.

“Hoje ela [a vereadora] tem 41 cães. Ela compra a vacina e eu aplico, pois ainda presto serviço voluntário à causa animal”, relatou Emely, dizendo que o ativismo na área, por envolver um número muito grande de animais, depende muito de ações altruístas. “A Katia fazia bingos, rifas, mas as doações reduziram, [ela] recebe muito menos do que tinha antes, provavelmente por ter virado vereadora”, relatou. Questionada pela Comissão Processante se, neste cenário, nunca tinha contribuído financeiramente, Emely reforçou que Katia nunca pediu dinheiro a ela.

A pedido do advogado de defesa, ela traçou um perfil de cada denunciante. A ex-chefe de gabinete, Luciana Chuchene, era “uma pessoa difícil de lidar”. Em Samira Tomé, advogada do início do mandato, “não sentia muita confiança”. Julgou que era falho o trabalho dos ex-assessores de comunicação, Virgínia Costa e Diego Oliveira, atribuindo à falta de divulgação o arquivamento de proposições de Katia Dittrich pelas comissões temáticas da Câmara de Curitiba.

Emely relatou um episódio em que viu Ronaldo Filho “transtornado”, após ser comunicado que seria desligado do mandato, sendo devolvido à prefeitura. “Se te oferecerem um cargo aqui, não aceite, ela [Katia Dittrich] não vai ficar aqui mais de três meses”, teria dito o ex-assessor, que é um dos denunciantes, à veterinária. Como só foi nomeada em maio, a Comissão Processante perguntou se ela se sentia apta a emitir essas opiniões já que antes só vinha esporadicamente ao gabinete, para tratar dos projetos de lei. “Eu ficava pouco”, respondeu, “mas pelas situações que acompanhei eu me acho apta”.

Diferentemente dos denunciantes, todas as testemunhas de defesa ouvidas na manhã desta quarta descreveram o marido da vereadora, Marcos Whiters, como apenas um conselheiro dentro do gabinete. Emely frisou que, por ele também ser da causa animal, a vereadora o procurava bastante para opiniões.

Para Júlio Castro, servidor da Câmara há mais de 30 anos, que entrou no mandato de Katia após as exonerações dos denunciantes, é natural a proximidade da vereadora com seu marido. “Eles são um casal há décadas, sempre atuaram juntos na causa [animal], na política, estão sempre juntos. O Marcos dirige para a Katia, que ela não dirige. Ele tem uma atitude humilde e respeitosa, nunca vi o Marcos dar ordem a nenhum assessor”, frisou.

“Paga do bolso”
“Antes de confirmar a minha ida ao gabinete [para trabalhar]”, contou Júlio, “perguntei se tinha irregularidade e ela [Katia] disse que não”. “Pedi para ver todos os comprovantes bancários da vereadora, e as doações [para a causa animal] são na maioria pequenas, de R$ 50, R$ 100”, acrescentou, dizendo que se antes ela buscava doações para tratar dos animais, “hoje paga do bolso” e “mudou a estratégia para diminuir custos”, trocando hotéis por uma chácara onde os animais convivem.

Perguntado se, ao conversar com Salomão Sarraff, cujo depoimento foi tomado na véspera, sobre a gravação em que ele falava sobre a exoneração de Diego se dar em decorrência de ele não cumprir um “acerto”, disse que o colega de gabinete não se abriu com ele, afirmando “que não se lembrava de nada [relacionado ao fato]”. Negou que tenham pedido a ele que pagasse à vereadora para ficar no cargo, ou mesmo que contribuísse para a causa animal. “Ela pediu para eu adotar um cachorro”, afirmou, “e eu adotei um gato”.

Solidariedade
“Isso não vai ficar assim”, disse ter ouvido do ex-vereador Zé Maria, na noite em que foi divulgado o resultado da apuração dos votos, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), a turismóloga Irlani Rosa de Jesus. A frase, sem mais contexto, teria sido uma resposta a um cumprimento dela ao então parlamentar, que não se reelegeu. Irlani é funcionária de Katia Dittrich desde julho, relação que se estabeleceu durante o pleito, pois ela foi candidata a vereadora pelo Partido Solidariedade, após insistência de Zé Maria.

Irlani relatou problemas com a legenda, que não teria dado o apoio que ela julgava necessário na contabilidade da campanha. “Só a Katia me ajudava nessas questões”, comentou, após pontuar que ouviu do partido que “teria que se virar” para resolver problemas de validação dos dados financeiros junto ao TRE-PR. Instada pela Comissão Processante a explicar melhor esse episódio com o ex-vereador Zé Maria, se teria relação com a eleição de Katia, a própria Irlani disse “se tratar de coisa muito rápida”, acrescentando que nas atividades de campanha a legenda dava por certo a conquista de três vagas na Câmara Municipal.

Ela também negou que ocupar o cargo no mandato de Katia Dittrich se dê mediante acordo para “devolver” dinheiro à vereadora. Dos denunciantes, só comentou de Ronaldo Filho, pois não chegou a trabalhar com os demais. Relatou que o conheceu em 2000, quando os dois ingressaram no serviço público municipal, que então ele era “tímido” e “sociabilizava pouco”. Depois ela mudou de colégio e o reencontrou em 2015, no Solidariedade. “Ele estava diferente, sempre queria estar à frente de tudo, em todas as reuniões estava junto, para chegar ao Zé [Maria], ao [deputado federal] Francischini, tinha que passar por ele”, comentou.

“Abandonaram ela”

“O partido abandonou totalmente ela agora”, comentou Nicolas Leprevost Guelmann, que está com Katia desde o início do mandato e a conheceu na campanha eleitoral. Ele disse ter se filiado ao Solidariedade em decorrência do ingresso no quadro da Câmara Municipal pelo cargo comissionado dedicado à liderança do partido. “Nessa situação [da denúncia que pode levar à cassação do mandato] o partido deveria pelo menos perguntar se está tudo bem, [mas] cortaram relações”, acrescentou. Nicolas, que afirmou não participar das atividades partidárias, atribuiu isso ao ex-assessor Ronaldo Filho. “[Ele] é um dos mobilizadores do partido, deve ter conversado com o pessoal lá”, disse.

Ele negou à Comissão Processante ter recebido pedido para devolver parte do salário à vereadora e que parou de fazer doações à causa animal após assumir o cargo “para não dar esse tipo de problema”. Desde a saída do jornalista Diego, assumiu a comunicação do mandato da vereadora Katia Dittrich. Uma vez que o advogado de defesa pediu a Nicolas comentasse a convivência com os denunciantes, ele falou que seu antecessor na função era “normal”, que copiava textos para redes sociais do perfil dele e que se metia no trabalho dos outros, “queria dar pitaco em tudo”. Virgínia, a outra jornalista, “pecava bastante nos textos” e “não tinha contato com jornalistas”. A respeito de Samira, reclamou de os pareceres jurídicos terem muitos erros de português.

“Particularmente não tenho nada contra ela [Luciana, ex-chefe de gabinete]”, apontou Nicolas, “[mas] era uma pessoa difícil de lidar, queria mandar mais que a vereadora, creio que se voltou contra [o mandato] pois viu que não ia mandar como ela queria”. Ele recuperou a tese apresentada por outras testemunhas de defesa, que a denunciante teria ciúmes da proximidade de outra assessora, Thais Ramos, com a vereadora. Também descreveu episódios de raiva, como a disputa por vaga no estacionamento e a exigência para que falassem com ela antes de procurar diretamente a parlamentar.

“O Ronaldo só começou a ficar esquisito depois de a prefeitura pedir ele de volta”, relatou Nicolas, que afirmou ter uma boa relação com o ex-colega de gabinete. “A vereadora me sacaneou e isso não vai ficar assim”, ele disse ter ouvido do denunciante antes do desligamento do outro do mandato. “Ele estava com muito ódio”, acrescentou. “Cada caso é um caso”, resumiu, falando das exonerações dos denunciantes, “Samira, Virgínia e Diego foi pelo trabalho. Luciana e Maíra pediram exoneração e o Ronaldo foi devolvido [para a prefeitura]”. Nicolas também usou a expressão “conselheiro” para qualificar o papel do marido da parlamentar no gabinete, “mas a última palavra é da vereadora”.

Foi Nicolas quem convidou Rosenei Aparecida de Oliveira, líder comunitária do Sambaqui, uma comunidade do Sítio Cercado, para o gabinete de Katia Dittrich. “Não tinha nem visto propaganda política dela”, disse, ao ser perguntada sobre como conheceu a parlamentar. “Daí recebi a visita dela na vila, andamos pelo bairro, conheceu a horta comunitária e alguns moradores que eu atendo [antes de me convidar para o gabinete]”, relatou. Negou ter que dar dinheiro da remuneração à vereadora, nem que tenha ouvido qualquer boato nesse sentido dentro do gabinete. Por ter entrado em julho no gabinete, não abordou nada dos denunciantes, “[pois] não posso falar de pessoas de quem eu nunca ouvi falar”.

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