Taxistas lotam galerias e cidadãos pró-Uber acompanham a sessão
“Estou aqui como consumidora. Tenho problema de visão e ando de táxi, mas gostaria de ter outra opção. Que tudo fosse correto [regulamentado] e eu pudesse escolher.” O apelo foi da empresária Diana Nonato, uma das cinco pessoas localizadas pela reportagem, que fizeram questão de acompanhar a sessão desta terça-feira (12) da Câmara de Vereadores, favoráveis à operação do Uber em Curitiba. Há um consendo entre eles de que para a prestação do serviço há a necessidade de regulamentação. Assim como ontem (11), taxistas lotaram as galerias do Palácio Rio Branco para acompanhar o debate do projeto que pretende multar em pelo menos R$ 1,7 mil o transporte de passageiros sem autorização do poder público municipal, aprovado em segunda votação (leia mais).
“Também gostaria que os taxistas melhorassem o serviço. Quando chove é uma loucura e muitos deles são explorados [pelos permissionários]. O Uber que se alinhe às normas”, completou Daiana. O dentista Daniel Abdo acompanhou a sessão desta terça. “Os taxistas vêm em peso, e a pessoa favorável ao Uber fica meio intimidada. Vim aqui dar a cara para bater”, defendeu. Para ele, no entanto, a categoria está correta em pedir a regulamentação do serviço: “Se for equiparado o pagamento de taxas e impostos, não tem por que não ter o Uber. Ganha quem tiver o melhor serviço”.
A regulamentação também foi defendida pelo jornalista Luiz Henrique Bolina. “Vi a repercussão na imprensa e resolvi acompanhar a sessão. Sou favorável a tudo que venha agregar, contanto que se tenha deveres e obrigações”, avaliou. “Usei o Uber uma vez. Se gostei? Sim, o motorista foi muito atencioso.” Outras duas pessoas pró-Uber localizadas pela reportagem prefeririam não conceder entrevista.
Nas redes sociais da Câmara Municipal de Curitiba, a maior parte das manifestações foi contrária à exclusividade dos táxis no transporte individual de passageiros. Em enquete realizada no Twitter da Câmara, 84 dos 100 votantes se posicionaram a favor do Uber, enquanto 16 se disseram contrários. “Respeitem os curitibanos! Então regulamentem, cobre ISS e deixe a população escolher. Consulte a população!”, opinou Guerino Salmazo Neto. Para Tally Lima, o seviço “é legal sim”, amparado no Plano Nacional de Mobilidade Urbana (lei federal 12.587/2012). “Uma vergonha pra Curitiba. Retrocesso puro pra uma cidade que aspira ser modelo”, escreveu Jedi Sapiens.
A página da Câmara no Facebook também recebeu manifestações. “Por que não fazem a regulamentação ao invés de tentar impedir o serviço? Curitiba sempre foi pioneira em matéria de transporte urbano. Não podemos mais andar para trás. Além de não ter metrô, não ter Uber! Atraso de vida!”, comentou Lavinia Arend.
Manifestação dos taxistas
O presidente da Associação das Rádio-Táxis de Curitiba e Região Metropolitana (Acert), Luiz Carlos Kubitzki, subiu à tribuna em nome dos taxistas. “A categoria não tem nada contra a tecnologia que venha trazer benefício à população de Curitiba. Somos profissionais que trabalham durante o dia e à noite. Atendemos toda a cidade. Corremos risco de assalto e nunca sabemos se vamos voltar com vida. Os assaltos a táxis são diários e nem vamos mais à delegacia prestar queixa, porque apenas perdemos tempo. Já estamos cansados”, argumentou.
“Já este aplicativo [Uber] atende o Centro, a avenida Batel. Não a periferia. Descumpre regras que de nós são cobradas. Por exemplo, só aceita o pagamento com cartão de crédito. Se o cliente cancelar uma corrida, terá que pagar uma taxa”, completou Kubitzki. “Precisamos que esta Casa conheça um pouco mais de nosso trabalho. Também possuímos aplicativos, mas temos sentido uma dificuldade muito grande com a mídia. Mas digo que este [Uber] é um aplicativo gringo, alienígena, que vem aqui explorar nosso sistema e, no momento que achar que não vale mais a pena, irá embora. Sou taxista há 18 anos e espero dirigir até quando puder. Não vou embora da cidade.”
Cerca de 60 taxistas acompanharam a sessão, lotando as galerias do Palácio Rio Branco. Durante os pronunciamentos dos vereadores, havia manifestações – aplausos e gritos de incentivos aos que votaram a favor do projeto de lei e vaias para os que votaram contra.
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