Taxistas e "uberistas" trocam acusações e insultos na Câmara Municipal

por Assessoria Comunicação publicado 13/04/2016 14h00, última modificação 06/10/2021 10h02

Um homem foi retirado à força das galerias da Câmara de Vereadores, nesta quarta-feira (13), pela equipe de segurança e vigilância patrimonial da instituição, por provocar um tumulto entre dezenas de taxistas e “uberistas” – consumidores, motoristas que utilizam o aplicativo de “caronas pagas” e gente ligada à empresa Uber, que fornece a tecnologia – durante a sessão plenária. Os grupos, que bateram boca e trocaram acusações e insultos durante cerca de 10 minutos, foram isolados em alas diferentes do Palácio Rio Branco, para evitar violência física entre eles.

Adílson Benelli, 41 anos, que é taxista há duas décadas, queixou-se de ter sido agredido por um “clandestino” enquanto era conduzido para fora das galerias pela equipe de segurança. “Levei um chute nas costas, na perna. Vou prestar queixa, fazer exame de corpo de delito”, afirmou. “A gente não veio aqui para agredir. Só queria ouvir o que o Marcelo Araújo tinha a dizer”, explicou Benelli. Num primeiro momento, a equipe de seguranças do Legislativo pediu que as agressões verbais parassem. Adílson insistiu e foi retirado.

Taxistas x uberistas
“Não teve chute. Ele que não queria sair e agora quer se passar por vítima”, respondeu Daniel Abdo, 32 anos, que diz ser consumidor do Uber. “Quando eles gritam que é para a gente sair da Câmara, pra conhecer os taxistas que estão esperando pela gente lá fora, eu considero isso uma ameaça”, disse Abdo. “Eles queriam brigar, e a gente veio parar aqui, nessa sala, sem poder sair pela frente do prédio”, reclamou. A Guarda Municipal e a Polícia Militar foram chamadas para acompanhar a situação no Legislativo. Em pouco tempo, aproximadamente 60 taxistas estavam ao redor do Palácio Rio Branco.

Para Fábio Taborda, da Associação União dos Taxistas de Curitiba (UTC), o que houve foi uma “divergência de opinião”, uma “discussão saudável que, no calor das opiniões, virou empurra-empurra”. Chamando todos as pessoas ligadas à defesa do Uber de “clandestinos”, ele reclamou de os taxistas terem sido retirados primeiro das galerias. “Isso só reforça a mentira que eles são os bonzinhos e nós os bandidos. Não está certo, nós não somos”, disse.

Wilson Lopes, do conselho fiscal do Sinditaxi (Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná), disse que a classe veio para ouvir o pronunciamento de Marcelo Araújo. “Estamos acompanhando essa questão do Uber, defendemos que eles tenham direito de falar também, até para deixarem de ser invisíveis”, apontou. De maneira entrecortada, vários taxistas conversaram com a reportagem durante a confusão, repetindo os argumentos que o Uber opera na ilegalidade e deveria ser proibido de operar sem regulamentação em Curitiba.

Infração regimental

Convidado por Chicarelli (PSDC), Marcelo Araujo, presidente da Comissão de Trânsito da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil), iria se pronunciar durante a sessão plenária sobre o funcionamento do Uber em Curitiba, mas teve a palavra cassada após agredir verbalmente o líder do prefeito, Paulo Salamuni (PV). Ele foi interpelado pelo vereador quando dizia haver uma suposta ligação de advogado próximo ao Executivo com a empresa do aplicativo. Ao reagir, desacatou Salamuni.

O presidente do Legislativo, Ailton Araujo (PSC), embasou a cassação da palavra no artigo 6º do Código de Ética e Decoro Parlamentar, inciso V, de que é uma infração ético-disciplinar “praticar ofensa moral a qualquer pessoa nas dependências da Câmara, ou desacatar, por atos ou palavras, outro parlamentar, a Mesa ou comissão, ou os respectivos presidentes”. A sessão plenária chegou a ficar suspensa.

Nessa hora, cada grupo tinha cerca de 20 pessoas na parte superior do plenário, cuja ligação com o térreo é uma única escada. Depois de separados os grupos e controlado o conflito, taxistas e “uberistas” voltaram a se encontrar, agora na praça Eufrásio Correia, fora da Câmara Municipal, onde novamente trocaram acusações. Houve empurra-empurra, e a Guarda Municipal precisou intervir para evitar o confronto.

Paulo Salamuni, depois do ocorrido, conversou com representantes dos taxistas adiantando que recomendará ao Executivo que sancione a lei aprovada nesta semana pela Câmara Municipal, que amplia a multa para quem for flagrado explorando o transporte clandestino de passageiros (leia mais). “Não tem nada disso”, disse o vereador, em resposta aos comentários de Marcelo Araújo. “Tanto que aprovamos a lei aqui e eu vou pedir para o prefeito [Gustavo Fruet] sancionar”, disse.

Prisão “paralela”
Enquanto os fatos acima se sucediam dentro do Palácio Rio Branco, os taxistas que estavam do lado de fora “prenderam” um homem na Visconde de Guarapuava, que correu da praça Eufrásio Correia. Ele teria roubado o celular de um pedestre e foi detido por taxistas que estavam concentrados em frente à Câmara Municipal. A Polícia Militar foi acionada e levou o suspeito algemado.