SUS de Curitiba: onda de calor e mais respostas aos vereadores
As audiências públicas do SUS são feitas a cada quatro meses, determinadas por lei federal. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Nesta segunda-feira (25), em audiência pública na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), 19 dos 38 vereadores participaram do debate com a secretária da Saúde da capital, Beatriz Battistella Nadas, após a apresentação dos indicadores do segundo quadrimestre de 2023. Mesmo com a trégua nos termômetros, um dos temas que esteve em pauta foi o atendimento à população durante a onda de calor que atinge o Brasil.
Outros assuntos questionados em plenário foram os serviços e a estrutura do SUS de Curitiba, como as Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS), o pagamento do piso da enfermagem, a demanda por pediatras, um novo auxílio emergencial aos hospitais filantrópicos e o atendimento à população em situação de rua. Confira os principais debates da audiência pública:
Sugestão contra a onda de calor em Curitiba
O fim de inverno atípico, com os termômetros ultrapassando os 30 graus em Curitiba, retornou à pauta da CMC. “Uma sugestão, que a gente precisa pensar [...], além da nossa luta contra os borrachudos, é a luta contra o calor que deverá estar na cidade de Curitiba nos próximos meses. Então, quem sabe criar ambientes de acolhimentos ou indicar através das nossas mídias sociais como a nossa população, principalmente os mais idosos, podem se prevenir do calor que poderá ser mortal. Assim como a gente já luta contra o frio, a gente vai ter que criar mecanismos para combater o calor”, propôs Bruno Pessuti (Pode), vice-líder do governo na CMC.
Contra a onda de calor, a secretária da Saúde frisou o cuidado com o meio ambiente. Segundo Nadas, “a luta contra o calor em Curitiba já tem uma história bastante antiga, desde o tempo em que nós, como cidade, adotamos o cuidado com os resíduos”. “E, recentemente, o prefeito adotou duas estratégias muito importantes, a Pirâmide Solar [do Caximba], que, de um passivo ambiental que era o aterro do Caximba, passa a ser um ativo, produzindo energia para nossa cidade, uma energia renovável, uma energia limpa, fazendo que haja uma diminuição das despesas com energia elétrica, e também o plantio de árvores, já foram mais de 300 mil mudas de árvores distribuídas e plantadas pelos curitibanos”, afirmou.
“E o caminho é este. Nós temos que pensar, sim, que os ambientes precisam de conforto térmico, que é adotar o uso do ar-condicionado para o aquecimento ou o resfriamento dos ambientes, mas tudo isso tem um ônus importante”, continuou. Além disso, a representante do Executivo defendeu o convênio entre a Prefeitura de Curitiba, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e o Boston Consulting Group (BCG), com a participação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, voltada à prevenção a desastres vinculados às mudanças climáticas.
Na sessão plenária da última quarta (20), os vereadores aprovaram uma sugestão ao Executivo contra a onda de calor em Curitiba. A indicação, apresentada por Nori Seto (PP), lista ideias como a instalação de tendas em pontos estratégicos para proteger pessoas na rua das altas temperaturas, o fornecimento de água potável na vias de mais movimento, o acesso a prédios públicos com ar-condicionado, a disponibilização de ventiladores a unidades de acolhimento e o fortalecimento de campanhas informativas sobre como enfrentar as altas temperaturas (205.00364.2023).
Ajuda emergencial aos hospitais filantrópicos de Curitiba
Alexandre Leprevost (Solidariedade), Noemia Rocha (MDB) e Pastor Marciano Alves (Solidariedade) perguntaram se haverá novo auxílio financeiro do Município aos hospitais filantrópicos que prestam serviços ao SUS de Curitiba. Admitindo que os recursos foram importantes para a manutenção dos serviços à população, Nadas pontuou que “existem tratativas com a prefeitura, com a Secretaria de Finanças, para identificar a possibilidade da manutenção desses recursos”.
Usuários da região metropolitana nas Upas de Curitiba
Após visita à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Boa Vista, Rodrigo Reis (União) perguntou sobre a demanda gerada por usuários da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) nas Upas da capital. Na urgência e na emergência, lembrou Nadas, “não há como se negar o atendimento, isso é uma questão da ética dos profissionais da saúde”.
“Existe um conselho dos secretários municipais da região metropolitana [de Saúde], do qual eu faço parte, nós temos câmaras temáticas que discutem isso, e nós temos a 2ª Regional de Saúde, uma estrutura do governo estadual”, explicou. “Nós temos que construir caminhos. Nós não podemos fechar a porta, então estamos nesta discussão com o governo estadual e os governos municipais, tentando fazer frente. Mas, eu repito, o financiamento também é pouco para esses municípios da região metropolitana.”
Contratação de pediatras para as Upas e unidades básicas
A presença de médicos pediatras para o SUS de Curitiba também foi questionada em plenário. Relatando receber demandas da população, João da 5 Irmãos (União) perguntou sobre a contratação desses especialistas para as UBS, enquanto Marcos Vieira (PDT) falou da demanda nas Upas.
Nadas argumentou que a estratégia da rede de atenção primária – ou seja, das unidades básicas – “têm uma lógica” de acolher “tudo aquilo que a população apresenta de problemas de saúde e naquilo que for necessário ser realizado o encaminhamento a uma especialidade”. “A atenção primária é com a finalidade de acolher tudo o que comunidade apresenta e cuidar de mais de 85% do que acontece lá”, declarou.
“O Ministério da Saúde já tem claro isso. Não há previsão de colocação de pediatra dentro das unidades de pronto atendimento. Elas são unidades para acolhimento das queixas agudas”, complementou a secretária municipal em resposta a Marcos Vieira. No entanto, conforme ela, as Upas de Curitiba têm pediatras “em alguns horários” e, se necessário, pediatras do Hospital Pequeno Príncipe prestam apoio aos atendimentos.
Saúde mental e população em situação de rua
“Meu questionamento hoje é sobre a população em situação de rua e o tratamento da dependência química”, disse Indiara Barbosa (Novo). Eder Borges (PP), por sua vez, perguntou se a Secretaria Municipal da Saúde tem “alguma perspectiva para que atitudes sejam tomadas evitando a degradação do Centro, mas também esse problema sanitário que vem causando o Mesa Solidária”.
Contribuindo para o tema, Alexandre Leprevost citou o relatório da Comissão de Saúde e Bem-Estar Social sobre o programa em que são distribuídas refeições às pessoas em vulnerabilidade social indicou melhorias principalmente para a unidade da praça Tiradentes. Em resposta aos vereadores, a secretária da Saúde de Curitiba explicou o fluxo da assistência à saúde mental, que contempla a dependência química. Alertando para o consumo de álcool e de drogas pelos jovens, ela também pediu a reflexão sobre a população em situação de rua.
“Nós temos, como sociedade, que parar de produzir uma população que busca nas ruas sobreviver. É muito complexo esse problema e envolve muito o desenvolvimento socioeconômico das famílias”, afirmou Nadas. “São vários os problemas que impactam na saúde da população. [...] Precisamos de muito mais diálogo, precisamos de muito mais solidariedade entre as pessoas e do compartilhar de uma vida mais saudável.”
Primeiro repasse para o piso da enfermagem
Conforme sinalização do Ministério da Saúde, a primeira remessa de recursos para o novo piso da enfermagem deverá ser paga até o fim de setembro, afirmou Beatriz Battistella Nadas. De acordo com ela, cerca de 8 mil profissionais receberão os recursos, retroativos a maio. “Os nossos profissionais [servidores municipais da enfermagem], na jornada de trabalho, já estão acima do teto”, complementou. As perguntas foram feitas pelos vereadores Angelo Vanhoni (PT) e Noemia Rocha.
Obras e insumos no SUS de Curitiba
Destacada pela secretária municipal da Saúde, a inauguração da UBS Umbará II, na tarde desta quarta (27), foi citada por Marcos Vieira e por Mauro Bobato (Pode). Salles do Fazendinha (DC) comemorou a reabertura da UPA Fazendinha, em junho passado, além de agradecer pela reforma da UBS Estrela e a diminuição do tempo de espera pelo atendimento na UBS Santa Amélia, ambas no Fazendinha.
Também surgiu, no debate, a necessidade de se modernizar outros equipamentos: Oscalino do Povo (PP) falou da UBS Fanny Lindoia; Noemia Rocha, da UBS Osternack; e Leprevost, da UBS Caximba. Quanto ao Bairro Novo da Caximba, a representante do Executivo disse existir a previsão de uma nova unidade básica para atender “a realidade atual da saúde” da população.
Giorgia Prates – Mandata Preta (PT) e Noemia Rocha perguntaram sobre a falta de insumos no SUS de Curitiba – o que a secretária negou. “Nós não temos falta de medicamentos”, declarou. Pela “logística do abastecimento” com o governo estadual, citou Nadas, pode haver atrasos na entrega de insumos, como a insulina.
Telessaúde e atendimentos especializados
As cabines da UPA Fazendinha para as teleconsultas, comentou Nadas, devem ser ampliadas para outras unidades. “A telessaúde, a saúde digital, veio para ficar”, avaliou. Em apoio ao modelo da telessaúde, Amália Tortato (Novo) destacou que antes de se deslocar a uma UPA, a população tem essa opção de serviço.
Professora Josete (PT) questionou a representante sobre a oferta das práticas integrativas nas unidades básicas. Conforme a vereadora, hoje são ofertados os serviços de acupuntura, auriculoterapia, ioga, terapia comunitária e dança circular “dentro da realidade das unidades e das capacidades que a equipe [de servidores da UBS] pode desenvolver nessas áreas”.
Em resposta a Marcos Vieira, Beatriz Battistella Nadas falou sobre a espera por atendimentos especializados. “Hoje nós temos que 90% das especialidades são atendidas em menos de um mês e 95%, em até 90 dias”, afirmou. A demanda mais elevada, segundo ela, está em áreas como a ortopedia, “em função dos sinistros automobilísticos, que represam os procedimentos eletivos”. Ela também argumentou que o tempo de espera pelo atendimento depende da complexidade de cada caso.
Ambulatório Encantar e laudo do TEA em Curitiba
Pier Petruzziello (PP) elogiou o Ambulatório Encantar, voltado ao atendimento da pessoa com o Transtorno do Espectro Autista, “que é destaque em âmbito nacional”. “Tanto é um sucesso que não cabe mais ninguém lá”, respondeu a titular do SUS de Curitiba.
Já Amália Tortato perguntou sobre a demora pelo laudo do TEA. “Estamos, sim, com demora para os laudos para o diagnóstico das síndromes, porque são os neuropediatras que fazem esses laudos e, infelizmente, a quantidade de neuropediatras que atuam no Sistema Único de Saúde é muito inferior à necessidade que temos. Se pudéssemos contratar mais, contrataríamos, sim, mas não tem disponível no mercado, [...] e esta é uma realidade brasileira”, admitiu a secretária da Saúde.
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