"Surpreendente": público elogia Ilíada no Palácio Rio Branco

por Assessoria Comunicação publicado 07/04/2017 11h40, última modificação 15/10/2021 11h12

Passava das 19h30 quando o ator Richard Rebelo entrou no Palácio Rio Branco, nesta quinta-feira (6), para declamar o Canto 16 da Ilíada. “Minha expectativa? Casa cheia!”, disse ele à reportagem. Com 50 pessoas no plenário da Câmara Municipal de Curitiba, o desejo foi atendido. Tanto as 38 posições ocupadas normalmente pelos vereadores da cidade, quanto as cadeiras destinadas aos visitantes do Legislativo, receberam pessoas interessadas no feito inédito: trazer a Ilíada para um dos principais prédios históricos da capital do Paraná.

Bruna Marcelino e Vinícius Peretti, estudantes de Letras da UFPR (Universidade Federal do Paraná), souberam da iniciativa pela internet. “Vimos no Facebook, e como estudamos a Ilíada nesse semestre, viemos”, contaram. Os dois têm 18 anos de idade e estavam desconfiados. “Eu achei que ia ser uma encenação, com atores, cenário...”, confessou Vinícius. Às 20h20, o estudante de Letras não escondia a surpresa. “Sabe quando você espera uma coisa e acontece algo melhor?”, disse. “Foi surpreendente!”, completou Bruna. Ela disse que passava todo o dia na frente do Palácio Rio Branco, achava o bonito, mas não sabia do que se tratava.

Márcia e Maria Rodrigues são irmãs. A primeira, veio “pelo inusitado”, “por ser fora do convencional”. A segunda, que já tinha visto outro canto ser apresentado pela Companhia Iliadahomero de Teatro, para ampliar a experiência. Antes mesmo da peça começar, Márcia, que não tinha o mesmo contato prévio da irmã com a proposta, achava que isso poderia atrapalhar. “Achei maravilhoso, apesar da dificuldade com o texto”, comentou ao final do espetáculo. Também souberam da iniciativa pela internet, também não conheciam o Palácio Rio Branco. “É um prédio muito bonito”, concordaram.

Antes de Richard Rebelo, o fundador da Iliadahomero, Octavio Camargo, explicou ao público o trabalho da companhia, criada em 1999, que ano passado interpretou integralmente os 24 cantos da obra. “É a obra mais antiga da literatura ocidental, fundadora da cultura ocidental e da ideia de democracia. Por isso interpretar ela aqui, dentro da Câmara de Vereadores, tem um conteúdo simbólico muito forte”, analisa Octavio. Para ele, a iniciativa do vereador Goura (PDT), é um chamado à população, para que ela ocupe seu lugar no espaço público, “frequente mais, participe dos debates, converse mais com os representantes”.

Em janeiro deste ano, Octavio e Richard estiveram na cidade de Teerã, capital do Irã, graças a uma parceria das embaixadas do Brasil e da Grécia. A mesma apresentação performada no Palácio Rio Branco fez parte de uma maratona de leitura de Homero na 35ª edição do Fadjr Festival Internacional de Teatro. “Tenho o desejo de que um dia [a companhia] vai ser vista aqui com a mesma importância que no Irã. Os gregos ficaram espantados”, disse Richard, ao final do espetáculo. Ele, sozinho e trajado casualmente, apenas com voz e gestos, à moda antiga, num diálogo com Homero, arrancou “surpreendente” e “maravilhoso” daquela plateia.