Solene em homenagem à mulher aborda violência e reforma da previdência
“Precisamos lutar pela criação de programas e ações [de combate à violência contra a mulher e o feminicídio] que sejam de fato priorizados pelo poder público. É importante que as políticas estabelecidas por gestores tragam ampliação no orçamento”, destacou a vereadora Professora Josete (PT), em uma sessão solene alusiva ao Dia Internacional da Mulher na noite dessa terça-feira (12). A cerimônia foi presidida pela vereadora Maria Leticia Fagundes (PV), que classificou a cerimônia como “um evento importante na cidade ao reunir representantes de diferentes segmentos da sociedade. A noite de hoje serve muito mais para refletir do que para comemorar”, disse, na abertura.
Professora Josete falou em nome das oito vereadoras da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), que prestaram homenagem a 31 mulheres que se destacaram em suas atividades no ano de 2018. Para ela, 8 de março “é um dia de reflexão e de luta”. A parlamentar apresentou números de um estudo sobre a violência contra a mulher elaborado pelo site Monitor da Violência. “Chamam a nossa atenção alguns aspectos. Primeiro houve uma redução de 6,7% no número de homicídios femininos. Em 2017 foram 4.558 vítimas, em 2018, 4.254. Estamos falando de homicídios femininos. As mulheres negras continuam morrendo mais, é um traço da nossa sociedade que a gente ainda não conseguiu superar.” Falou ainda sobre um estudo das Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em 2018: “O Brasil permanece como um dos países mais violentos para as mulheres”.
A vereadora lembrou da prisão, nessa terça, de acusados pelo assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco. “Daqui a dois dias completará um ano da morte de Marielle Franco. Uma mulher negra, lésbica, da periferia, que foi brutalmente assassinada porque ousou lutar pela igualdade e pela liberdade. Hoje se chegou a dois suspeitos, mas provavelmente esse crime teve mandantes, que continuam agindo. Não podemos permitir que nosso país continue mantendo essas injustiças.”
Josete fez uma crítica à reforma da previdência e o impacto que poderá causar na vida das mulheres, “pra toda sociedade, mas principalmente pras mulheres porque as mulheres são o grupo mais excluído da nossa sociedade e por isso uma reforma da previdência as atinge de forma tão cruel”. Segundo ela, em 2018 a taxa de participação dos homens no mercado de trabalho era de 71,5%; a das mulheres, 52,7% e deste total, 47% não possuem registro em carteira e estão na informalidade.
“Elas estão em ocupações menos valorizadas socialmente: a educação, saúde e serviços sociais, atividades que se caracterizam como extensão do trabalho doméstico não remunerado. Quando trazemos estes dados da realidade, fazemos um alerta. Essa reforma pretende ampliar o tempo de contribuição e reduzir os valores dos benefícios e essas mudanças impactam de modo particular as mulheres, que hoje, nas atuais regras, têm critérios mais flexíveis do que os homens pra se aposentar, em função das expressivas desigualdades de gênero, que ainda permanecem no mercado de trabalho como observamos nestes dados citados. Infelizmente as medidas propostas por este governo exigirão mais sacrifício das mulheres do que dos homens.”
Confira todas as fotos da sessão solene no Flickr da Câmara
Josiane Fruet Bettini Lupion, defensora pública do Estado do Paraná, fez um pronunciamento, em nome das homenageadas, sobre superação do machismo e luta por direitos iguais. Ela contou que teve clientes na defensoria que ganhavam mais que o marido. “E os maridos não admitiam esse ganho superior, então eles batiam, espancavam, queriam o dinheiro pra eles, e elas iam lá reclamar. Na verdade, elas iam pra lá desabafar [em meados da década de 1980]. Quando eu perguntava se elas queriam se separar, elas diziam que não podiam porque a bíblia dizia que elas tinham que ficar casadas por causa do Adão e da Eva. Por que é que a Eva foi comer a maçã e oferecer pro Adão? E daí Deus veio e acabou com a vida da mulher, "você vai ser submissa ao homem". Eu fico pensando, será que Deus é tão machão assim, que não quer o bem das mulheres?” Mas para Josiane, é necessário quebrar o ciclo de violência que vem de gerações. “Não se deve ceder num conflito entre a vontade de ser justa e o medo de fazer justiça. Busquem auxílio, enfrentem o combate de cabeça erguida, vocês não estão sozinhas.”
Durante seu discurso, ela contou sobre diversos casos que atendeu como defensora pública, de mulheres vítimas da violência. “Maridos cortavam as patas do cachorro que eram o xodó da mulher, queimavam os gatos que eram o mimo da mulher, para atingir a mulher”. Lembrou também de uma mulher que tinha quatro filhos de 2 a 7 anos e que, recém-separada, foi morta na frente das crianças pelo ex-marido. “Ele só não cortou ela em pedaços porque os filhos gritaram muito e os vizinhos acudiram.” Também relatou casos curiosos: “Houve uma senhora que trouxe um bolo pra gente comemorar a morte do marido dela.” Já a desembargadora Lenice Bodstein, representando o Tribunal de Justiça do Paraná, destacou que “62% dos chefes de família economicamente rentáveis do Brasil são mulheres. E as senhoras homenageadas representam as mulheres que fazem acontecer”.
Apresentações musicais
Durante a cerimônia, a vereadora Julieta Reis (DEM) apresentou a orquestra Ladies Ensemble, que tocou para as homenageadas. “A única orquestra profissional formada exclusivamente por mulheres em atividade no Brasil é paranaense e de Curitiba. Uma orquestra da maior qualidade”, avaliou Julieta. Dentre o repertório, o grupo executou peças da compositora brasileira Chiquinha Gonzaga. Julieta também reforçou a luta contra o feminicídio. “Nossa luta, de todas as mulheres, é por igualdade e justiça. Isso significa não à violência, basta! Basta da morte de mulheres pelo fato de serem mulheres.” Teve também uma apresentação musical da cantora Janine Matias.
As homenageadas
Dona Lourdes (PSB) premiou Áurea Maria Zanquettin Lemes, Kellen Cristina Pitella Ribas e Francinedi Martins. Fabiane Rosa (DC) indicou Carla Forte Maiolino Molento, Cleusa Pereira, Rita de Cássia Maria Garcia e Sheila Rosana Ferreira. De Julieta Reis: Florize Suckow Herrmann, Josiane Fruet Bettini Lupion, Maria Cristina Albiero Betes e Sueli Gulin Calabrese. Katia Ditrich (SD) homenageou Cristiane Justino Venâncio (conhecida como Cris Cyborg), Isabel Ossoski, Isabelle Campestrini e Márcia Martins.
As indicadas de Maria Letícia Fagundes (PV) foram Blanca Hernando Barco, Rosilete dos Santos, Suelen Carla Ribeiro e Susiane do Rocio Bichta. Maria Manfron indicou Elenice Malzoni, Hilda Culpi Serenato, Maria Regina Trevisan Parise e Roseli Esmanhoto Ferro. Já Noemia Rocha (MDB) homenageou Caroline Montes de Lima Leal, Eliane Mara Stevão de Matos, Marlici Cristina Dias Cavalli dos Santos e Silvana Soledad Dominguez Paredes Piragine. E Professora Josete (PT) indicou Andreia de Lima, Giselle Alessandra Schmidt e Silva, Megg Rayara Gomes de Oliveira e Michelli Santos da Silva. Confira um breve currículo de cada uma delas aqui.
Dentre os presentes, assistiram à solenidade o vereador Mauro Bobato (Pode), Claudia Afanio, representando o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR), desembargador Gilberto Ferreira; o presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), José Lupion Neto; o cônsul honorário do Reino do Marrocos, Ardisson Naim Akel; a tenente Ana Paula Costacurta, representando a Artilharia Divisionária AD/5; o procurador do Grupo Presbiteriano Makenzie, João Pedro Fruet Lupion; a presidente do Instituto Curitiba de Saúde, Dora Pizzatto; a coordenadora do Conselho da Mulher Executiva da Associação Comercial do Paraná, Maria Cristina Coutinho; a capitã Rafaela Diotalevi, representando o Corpo de Bombeiros do Paraná; a delegada Marcia Rejane Vieira Marcondes, coordenadora das Delegacias da Mulher do Paraná, representando a Secretaria de Estado da Segurança Pública; o coronel José Paulo Betes, da Associação da Vila Militar; Caroline Costa, representando o comando da Polícia Militar do Paraná.
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