"Só deveríamos pensar na raça humana, não na cor das pessoas", diz Pop
Zé Maria (SD) e Mestre Pop (PSC) debateram na Câmara de Curitiba, no pequeno expediente desta quarta-feira (25), um incidente que envolveu os dois na sessão plenária de ontem (24). Pop sentiu-se ofendido com uma piada expressa por Zé Maria – e testemunhada por mais três vereadores – na sala de reunião dos vereadores ao lado do plenário, classificando-a como racista.
“Você disse que é meu amigo. Amigo tem hombridade, ele oferece o ombro, ele consola. Amigo não usa a cor do amigo para fazer piada que ninguém acha graça. Só deveríamos pensar na raça humana e não na cor das pessoas. Quero que todos me respeitem, mas não pelo meu partido, ou pelo tanto de votos que ganhei ou por minha religião. Quero respeito como ser humano”, disse Pop a Zé Maria na tribuna.
Hoje, ele afirmou que não tem nada pessoal contra Zé Maria, mas que pretende protocolar junto à Mesa Diretora uma denúncia sobre o fato, entre outras medidas legais. O Regimento Interno da Câmara prevê as medidas cabíveis face a condutas irregulares. De acordo com o Código de Ética e Decoro Parlamentar, anexo ao texto do Regimento, a denúncia deve ser feita junto à Mesa Diretora, que dispõe de 5 dias úteis para se manifestar.
Desculpas
Zé Maria foi o primeiro a ocupar a tribuna para tratar do tema. “Estávamos conversando como amigos – assim considero o vereador Mestre Pop – e eu apenas reproduzi uma piada que tinha acabado de ler no whatsapp, jamais tive a intenção de ferir ninguém”. Ele lembrou que em três anos de convivência (inclusive como vizinhos de gabinete e também no plenário) nunca houve qualquer discussão. “Sei de onde você veio, Mestre Pop, sei da sua luta para ajudar crianças de rua”, disse Zé Maria.
“Todos sabem da minha índole; tive uma madrasta negra que cuidou do meu pai por 25 anos”, complementou. Ele declarou que recebeu apoio dos vereadores Cacá Pereira (PSDC), Dirceu Moreira (PSB) e Bruno Pessuti (PSC), que estavam presentes quando o fato se deu. “Mas infelizmente”, disse Zé Maria, “o vereador Mestre Pop se sentiu ferido. Olhando nos seus olhos, Mestre Pop, peço perdão”.
“A situação causou um transtorno muito grande para o Mestre Pop e também para mim e minha família. Meu neto, que completou 15 anos nessa segunda-feira, foi atingido. Vocês não sabem como foi a vida da minha família de ontem pra hoje”, revelou Zé Maria, que concluiu: “mais uma vez me perdoe, Mestre Pop. Deus ilumine teu caminho”.
Mestre Pop foi à tribuna para comentar o incidente e o pedido de perdão de Zé Maria. Ele parabenizou o colega por não tentar desmentir o ocorrido junto à mídia. “O vereador Zé Maria está no seu 3º mandato e a caminho dos seus 60 anos de idade. Ele tem mais experiência parlamentar e de vida do que eu, mas aprendi com meus pais que o ponto mais crucial da vida é o respeito pelo outro. É o último degrau da sabedoria que alguém pode alcançar”, argumentou Pop.
“Quando você me humilhou, Zé Maria, fiquei calado. Não senti raiva nem ódio, mas fiquei magoado e triste. Ontem conversei com minha mãe por telefone, com amigos de Minas Gerais com quem eu não falava há mais de 30 anos. As suas palavras não agrediram somente a mim, mas a todos os afrodescendentes. Perdão pra mim é fácil, eu nunca guardo ódio. Concedo perdão ao colega como ser humano. Mas pretendo realizar tudo que houver dentro da justiça para que isso seja esclarecido”, disse.
Felipe Braga Côrtes (PSDB) lembrou que antes mesmo da princesa Izabel assinar a libertação dos escravos no Brasil, em 13 de maio de 1888, a iniciativa foi tomada em Curitiba pelo então presidente da Câmara Municipal, Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul. “A atual postura da Câmara reproduz a conduta do barão. Nós nos pautamos pelo respeito a todas as raças e etnias, independente desse repeito ser previsto em lei”, completou.
Conselho Étnico-Racial
Denilto Laurindo, presidente do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (Comper) e Saul Dorval, integrante do instituto Brasil-África e também integrante do Comper, estiveram na sessão de hoje para se manifestar sobre o tema. Saul Dorval, que já exerceu a presidência do Comper, acredita que Zé Maria foi nobre ao pedir desculpas pelo seu ato. “O vereador inclusive já contribuiu com o centenário Clube 13 de Maio, entidade representativa dos negros em nossa cidade, mas uma denúncia foi feita junto ao Conselho Étnico-Racial e as medidas serão tomadas”, disse ele.
Dorval enfatizou a necessidade de um encontro entre os membros do Conselho Étnico-Racial e o prefeito Gustavo Fruet. “Devemos fazer valer no município o que diz no Estatuto da Igualdade Racial: racismo é crime”. Ele emendou “o vereador Mestre Pop merece parabéns por sua decisão: legislações devem ser cumpridas”.
Denilto Laurindo lembrou que manifestações de racismo são crimes inafiançáveis e injúrias raciais também são tipificadas pela lei penal. “O que aconteceu na Câmara foi uma manifestação de racismo por parte de um vereador. Será que vai chegar o dia em que teremos de colocar placas nos corredores dos órgãos públicos com a inscrição "racismo é crime" [como hoje fazemos em relação ao consumo de cigarros]?”, indagou Denilto. Ele também lembrou que o fato se deu justamente no mês em que se comemora nacionalmente a data da Consciência Negra.
“Ainda hoje constatamos indivíduos e famílias inteiras discriminadas pela cor da pele, não precisamos de indicadores pra verificar essa realidade”, salientou o presidente do Comper. Denilto também declarou que o Conselho vai fazer o que for necessário para que a situação se esclareça. “Devemos fortalecer as legislações que coíbem o racismo. Somente assim Curitiba será, de fato, "a cidade de todas as gentes", como é anunciado”.
“Você disse que é meu amigo. Amigo tem hombridade, ele oferece o ombro, ele consola. Amigo não usa a cor do amigo para fazer piada que ninguém acha graça. Só deveríamos pensar na raça humana e não na cor das pessoas. Quero que todos me respeitem, mas não pelo meu partido, ou pelo tanto de votos que ganhei ou por minha religião. Quero respeito como ser humano”, disse Pop a Zé Maria na tribuna.
Hoje, ele afirmou que não tem nada pessoal contra Zé Maria, mas que pretende protocolar junto à Mesa Diretora uma denúncia sobre o fato, entre outras medidas legais. O Regimento Interno da Câmara prevê as medidas cabíveis face a condutas irregulares. De acordo com o Código de Ética e Decoro Parlamentar, anexo ao texto do Regimento, a denúncia deve ser feita junto à Mesa Diretora, que dispõe de 5 dias úteis para se manifestar.
Desculpas
Zé Maria foi o primeiro a ocupar a tribuna para tratar do tema. “Estávamos conversando como amigos – assim considero o vereador Mestre Pop – e eu apenas reproduzi uma piada que tinha acabado de ler no whatsapp, jamais tive a intenção de ferir ninguém”. Ele lembrou que em três anos de convivência (inclusive como vizinhos de gabinete e também no plenário) nunca houve qualquer discussão. “Sei de onde você veio, Mestre Pop, sei da sua luta para ajudar crianças de rua”, disse Zé Maria.
“Todos sabem da minha índole; tive uma madrasta negra que cuidou do meu pai por 25 anos”, complementou. Ele declarou que recebeu apoio dos vereadores Cacá Pereira (PSDC), Dirceu Moreira (PSB) e Bruno Pessuti (PSC), que estavam presentes quando o fato se deu. “Mas infelizmente”, disse Zé Maria, “o vereador Mestre Pop se sentiu ferido. Olhando nos seus olhos, Mestre Pop, peço perdão”.
“A situação causou um transtorno muito grande para o Mestre Pop e também para mim e minha família. Meu neto, que completou 15 anos nessa segunda-feira, foi atingido. Vocês não sabem como foi a vida da minha família de ontem pra hoje”, revelou Zé Maria, que concluiu: “mais uma vez me perdoe, Mestre Pop. Deus ilumine teu caminho”.
Mestre Pop foi à tribuna para comentar o incidente e o pedido de perdão de Zé Maria. Ele parabenizou o colega por não tentar desmentir o ocorrido junto à mídia. “O vereador Zé Maria está no seu 3º mandato e a caminho dos seus 60 anos de idade. Ele tem mais experiência parlamentar e de vida do que eu, mas aprendi com meus pais que o ponto mais crucial da vida é o respeito pelo outro. É o último degrau da sabedoria que alguém pode alcançar”, argumentou Pop.
“Quando você me humilhou, Zé Maria, fiquei calado. Não senti raiva nem ódio, mas fiquei magoado e triste. Ontem conversei com minha mãe por telefone, com amigos de Minas Gerais com quem eu não falava há mais de 30 anos. As suas palavras não agrediram somente a mim, mas a todos os afrodescendentes. Perdão pra mim é fácil, eu nunca guardo ódio. Concedo perdão ao colega como ser humano. Mas pretendo realizar tudo que houver dentro da justiça para que isso seja esclarecido”, disse.
Felipe Braga Côrtes (PSDB) lembrou que antes mesmo da princesa Izabel assinar a libertação dos escravos no Brasil, em 13 de maio de 1888, a iniciativa foi tomada em Curitiba pelo então presidente da Câmara Municipal, Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul. “A atual postura da Câmara reproduz a conduta do barão. Nós nos pautamos pelo respeito a todas as raças e etnias, independente desse repeito ser previsto em lei”, completou.
Conselho Étnico-Racial
Denilto Laurindo, presidente do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (Comper) e Saul Dorval, integrante do instituto Brasil-África e também integrante do Comper, estiveram na sessão de hoje para se manifestar sobre o tema. Saul Dorval, que já exerceu a presidência do Comper, acredita que Zé Maria foi nobre ao pedir desculpas pelo seu ato. “O vereador inclusive já contribuiu com o centenário Clube 13 de Maio, entidade representativa dos negros em nossa cidade, mas uma denúncia foi feita junto ao Conselho Étnico-Racial e as medidas serão tomadas”, disse ele.
Dorval enfatizou a necessidade de um encontro entre os membros do Conselho Étnico-Racial e o prefeito Gustavo Fruet. “Devemos fazer valer no município o que diz no Estatuto da Igualdade Racial: racismo é crime”. Ele emendou “o vereador Mestre Pop merece parabéns por sua decisão: legislações devem ser cumpridas”.
Denilto Laurindo lembrou que manifestações de racismo são crimes inafiançáveis e injúrias raciais também são tipificadas pela lei penal. “O que aconteceu na Câmara foi uma manifestação de racismo por parte de um vereador. Será que vai chegar o dia em que teremos de colocar placas nos corredores dos órgãos públicos com a inscrição "racismo é crime" [como hoje fazemos em relação ao consumo de cigarros]?”, indagou Denilto. Ele também lembrou que o fato se deu justamente no mês em que se comemora nacionalmente a data da Consciência Negra.
“Ainda hoje constatamos indivíduos e famílias inteiras discriminadas pela cor da pele, não precisamos de indicadores pra verificar essa realidade”, salientou o presidente do Comper. Denilto também declarou que o Conselho vai fazer o que for necessário para que a situação se esclareça. “Devemos fortalecer as legislações que coíbem o racismo. Somente assim Curitiba será, de fato, "a cidade de todas as gentes", como é anunciado”.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba