SMS: mesmo imunizadas, gestantes devem manter prevenção à covid-19
O debate foi transmitido em tempo real nas redes sociais da CMC e está disponível no nosso canal do YouTube. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Por iniciativa da Comissão de Bem-Estar Social e Esporte, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) promoveu, nesta sexta-feira (20), uma audiência pública com objetivo de debater o impacto da pandemia da covid-19 na saúde de gestantes e puérperas da capital (421.00005.2021). Representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) responderam dúvidas e críticas em relação à assistência especializada a essas mulheres, que fazem parte do grupo de risco; e reforçaram a necessidade delas continuarem adotando todas as medidas de prevenção, mesmo após receberem as duas doses do imunizante.
Especialistas e representantes de diferentes entidades que atuam na fiscalização das políticas públicas de saúde e voltadas aos direitos das mulheres manifestaram preocupação com o crescimento das mortes maternas em geral, o fechamento de unidades básicas de saúde e maternidades de referência, como a do Bairro Novo – o que dificulta, na visão destas insituições, o acesso de gestantes em situação de vulnerabilidade, ao pré-natal – e a previsão da nova onda de casos da covid-19 em decorrência da variante Delta.
Sílvia Albertine, do Fórum Popular de Saúde (Fops), por exemplo, apontou problemas de infraestrutura que já existiam na cidade e que foram agravados pela pandemia, como a falta de profissionais; e lembrou que baixa cobertura vacinal na população em geral, incluindo as gestantes, pode potencializar um novo crescimento de casos em razão das duas novas cepas do coronavírus que já estão em circulação no país. Enfermeira obstetra e parteira tradicional urbana, Karen Estevam analisou o risco que gestantes e puérperas passaram a correr após o fechamento das maternidades do Bairro Novo e da avenida Victor Ferreira do Amaral:
“São duas maternidades importantes de Curitiba, que deixaram de prestar atendimento de pré-natal. Gestantes foram transferidas para maternidades de alto risco e centros hospitalares onde são atendidos pacientes com covid-19. Fechar o local onde há referência de nascimento de forma segura e respeitosa [Maternidade Bairro Novo] fez com que as mulheres ficassem desassistidas. Por que não fecharam outros ambientes?”, indagou Karem Estevam.
Pela Rede Feminina de Saúde (RFS), a socióloga e sanitarista Lígia Cardieri informou que as mortes maternas “explodiram no Brasil, no Paraná e em menor grau em Curitiba”, e apesar do número de mortes de gestantes ser pequeno – até hoje, a SMS registrou 5 óbitos de grávidas por covid-19 em 18 meses de pandemia –, esse “indicador precisa ser controlado” e o perfil dessas vítimas precisa ser divulgado, para que as gestantes e puérperas sejam melhor orientadas sobre os riscos da doença.
“A gestação, em especial, é um fator de risco para a covid-19. E esse é um assunto urgente. Estamos enfrentando o luto de tantas mortes, mas precisamos cuidar de quem dá a vida. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, o número de mulheres grávidas ou puérperas mortas por infecções respiratórias ou outras complicações triplicou em 2021. A média semanal de mortes subiu mais de 200%”, informou a vereadora Maria Leticia (PV), que é médica ginecologista e obstetra e ex-presidente da Comissão de Saúde.
O que diz a SMS
Diretor de Atenção Primária em Saúde da SMS, Juliano Schmidt Gevaerd explicou algumas unidades de saúde tiveram seus atendimentos alterados para atender “situações que não eram da sua rotina, porque as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] transformaram-se em leitos de retaguarda para conseguir internar pessoas e salvar suas vidas”. Também garantiu que Curitiba não fechou seus serviços de saúde, e a prova disso são as respostas “tanto no enfrentamento da pandemia quanto de outras questões, como no pré-natal”.
“O número de consultas de pré-natal não teve absolutamente nenhuma diminuição estatística se compararmos os números de 2019, 2020 e 2021, com consultas presenciais, atendimento telefônico e visitas às casas das gestantes”, reforçou o diretor da SMS. Sobre os óbitos registrados, o coordenador da Rede Mãe Curitibana, Edvin Javier explicou que nenhuma das 5 gestantes haviam sido vacinadas e que essas mortes aconteceram em 2021. “Olha a importância do uso da vacina para prevenção.”
Ainda conforme a Secretária de Saúde, as gestantes são tão atingidas quanto qualquer outro público, porque a doença tem transmissão respiratória. A incidência em gestantes é menor do que em mulheres entre 10 e 49. E a taxa de mortalidade também é menor se comparada às mulheres que estão nesta faixa etária: 3,3 mortes para cada 10 mil gestantes. E apesar de baixo, a SMS afirmou estar atenta ao índice de mortalidade, orientando que as grávidas não deixem de ser vacinar.
“Na gestão, a infecção não é só respiratória, mas também sistêmica, nos vasos sanguíneos, isso compromete não só o feto, mas a desfechos que a gente não espera. As vacinas têm se mostrado seguras para essas mulheres, que mesmo imunizadas, precisam evitar aglomerações, usar máscaras e fazer a higienização adequada da mãos”, disse Patrícia Ribeiro, servidora da pasta.
“Produtos experimentais”
Médica especialista em cirurgias de cabeça e pescoço e “estudiosa das vacinas da covid-19”, segundo relatou na audiência pública, Maria Emilia Gadelha, apresentou sua análise técnica em relação à imunização das gestantes e puérperas com “produtos experimentais” – se referindo às vacinas que vêm sendo adquiridas pelo Ministério da Saúde e distribuídas aos estados e municípios brasileiros. “[Os imunizantes] estão na fase 3 de experimentação. Estão sendo aplicados em que haja um critério para se fazer a avaliação de segurança, principalmente. A discussão começa na segurança, antes de se falar em eficácia.”
“As vacinas, que prefiro chamar de produtos experimentais, tem tecnologias novas em que não houve tempo de maturação de observação dos efeitos adversos”, emendou, ao criticar notas técnicas do MS que recomendam “de forma irresponsável” a vacinação em grávidas, sem que haja documentação científica sobre estudos de segurança”. “Gravidez é um estado imunológico chamado t helper 2 (th2) que faz com que a mãe tolere, aceite um novo ser que está em crescimento. Se ela não tolerar, naturalmente terá um aborto espontâneo ou terá complicações, como parto prematuro. Isso acontece quando o ambiente imunológico é modificado. [...] Com exceção da Coronavac, todas as plataformas vacinais todas são th1 e simulam uma infecção viral. Portanto, já está sendo observado em grupos de médicos a quantidade de mulheres que estão abortando precocemente”, afirmou a médica.
Novas variantes
Questionado na audiência pública sobre qual será a estratégia da Prefeitura de Curitiba em relação à possibilidade de uma nova onda de casos, em decorrências das novas variantes, como a Delta, o diretor do Centro de Epidemiologia da SMS, Alcides Augusto Souto de Oliveira, afirmou que a estratégia será mesma: “olhar a dinâmica da doença”. “A Delta é mais transmissível, acomete a todos os públicos, porém não com tanta gravidade. No Brasil, especificamente, internados e vítimas fatais são idosos que já receberam duas doses das vacinas ou que não receberam a vacina. Jovens abaixo de 50 anos são acometidas da doença, mas não têm a forma mais grave.”
Oliveira reforçou que as medidas de prevenção continuarão sendo as mesmas: uso de máscaras, distanciamento social, higienização das mãos e vacinação. E que elas requerem uma parceria entre as redes pública e privada de saúde e a população. “A doença precisa entrar em equilíbrio. O uso da máscara ainda vai permanecer por alguns meses. A nossa geração ainda não tinha vivido este tipo de pandemia. É uma vivência diária. Ora poderemos avançar em nossas ações, ora poderemos retroceder nas ações”, argumentou.
“Vamos continuar cuidando das mulheres [gestantes e puérperas]. São duas vidas. Temos que pensar por duas vidas. Uma vida já é muito importante, e duas vidas é muito mais, e às vezes é mais que duas vidas. Enquanto poder público e sociedade civil devemos estar unidos para ajudar o outro e neste momento, as grávidas. Devemos fortalecer políticas públicas e fortalecer esse elo que nos une na preocupação com a saúde”, finalizou a presidente da Comissão de Saúde, Noemia Rocha (MDB). A vereadora ainda colocou o colegiado – que tem outros 4 integrantes – à disposição da população para questionar a prefeitura, de forma oficial, sobre outras demandas relacionadas à saúde do município.
Além das vereadoras, autoridades e especialistas já citados, também participaram do debate João da 5 Irmãos (PSL), Marcelo Fachinello (PSC), Oscalino do Povo (PP) e Pastor Marciano Alves (Republicanos), integrantes da Comissão de Saúde; e Professora Josete (PT), que integra a Comissão de Serviço Público da CMC. Com cerca de duas horas de duração, a audiência pública foi transmitida pelas redes sociais do Legislativo e está disponível, na íntegra, no YouTube. Para saber mais sobre as audiências públicas já realizadas pela CMC em 2021, clique aqui.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba