Setembro Amarelo: APPSIQ pede fim do estigma dos transtornos mentais

por Pedritta Marihá Garcia — publicado 15/09/2021 13h40, última modificação 15/09/2021 13h40
Na Tribuna Livre da CMC, vice-presidente da APPSIQ, Associação Paranaense de Psiquiatria, Glauber Higa Kaio defendeu a necessidade de quebrar o tabu sobre o suicídio, como forma de prevenção.
Setembro Amarelo: APPSIQ pede fim do estigma dos transtornos mentais

Glauber Kaio: “A gente nunca deve achar que quem fala que vai se matar só quer chamar a atenção. Devemos escutar muito bem essas pessoas, não julgar e tentar se aproximar da melhor forma possível.” (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A cada 100 pessoas, 17 vão ter pensamentos suicidas, 5 vão planejar o suicídio, 3 irão tentar e 1 será atendida no pronto-socorro. Esse dado preocupante foi apresentado na Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) desta quarta-feira (15). A convite da Mesa Diretora da CMC (076.00035.2021), Glauber Higa Kaio, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), participou da sessão plenária para reforçar a necessidade de falar sobre essa pandemia, que assola o Brasil, é silenciosa e precisa ser debatida, para que o estigma em torno dos transtornos mentais seja quebrado. 

A presença do psiquiatra marca mais uma das ações do Legislativo de apoio à Campanha Internacional de Combate ao Suicídio e Valorização da Vida, Setembro Amarelo. Alexandre Leprevost (Solidariedade), vice-presidente da CMC e vereador que intermediou a participação da APPSIQ na Tribuna Livre, lembrou que o movimento acontece em todo o mundo desde 2014 e que a data que marca a campanha é 10 de setembro – Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. 

“O tema continua sendo um tabu na sociedade. O suicídio é considerado um motivo de vergonha, de condenação, é sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais e até mesmo com o profissional de saúde”, disse o parlamentar.Anualmente, mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo tiram suas vidas, sendo que só no Brasil são 12 mil mortes em média. Além disso, durante o último ano, com a pandemia da covid-19, os especialistas têm alertado para um aumento de doenças mentais, como depressão e ansiedade.

Glauber Higa Kaio defendeu a necessidade de falar sobre o suicídio não só em setembro, mas durante todo o ano, a fim de quebrar preconceitos em relação a isso e aos transtornos mentais – um dos principais fatores que levam as pessoas a tirarem a própria vida. “O estigma em relação aos transtornos mentais precisa ser combatido. Na América Latina, o Brasil é o país que apresenta maior prevalência em relação à depressão; o país é o campeão mundial em transtornos de ansiedade. Mas é muito difícil as pessoas aceitarem que têm isso e buscarem ajuda”, disse. 

Ainda segundo o presidente da APPSIQ, o país é o 8º no mundo em número absoluto de suicídios. Somente em 2016, foram 11.433 mortes registradas, cerca de 30 por dia. Os homens, continuou, são os que mais morrem vítimas de suicídio e há prevalência muito maior de casos nas regiões Sul e Centro-Oeste em comparação com as demais regiões do país. O suicídio é a 3º causa de morte entre os jovens. 

Fatores de risco
Ao plenário, Glauber Higa Kaio explicou que a população mais vulnerável e que corre risco de tentar suicídio são pessoas que já tentaram tirar suas próprias vidas e que apresentam algum transtorno mental, sendo os principais o transtorno bipolar, transtorno depressivo maior, esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline, transtornos alimentares, transtornos por abuso de substâncias, como drogas e álcool. “A primeira semana após a tentativa de suicídio é a mais crítica, pois a pessoa pode tentar novamente neste período”, disse.

Aqueles que têm conflito sobre a identidade sexual; possuem doenças clínicas incapacitantes; sofreram abusos na infância e na adolescência; que têm histórico de suicídio familiar; que vivem sozinhas ou sentem muita solidão; ou têm baixa tolerância à frustração e tiveram perdas recentes também são suscetíveis à tentativas de suicídio. 

O psiquiatra ainda atentou para a gravidade de frases como “me sinto um fardo”, “não tenho mais razão para viver”, “quero sumir”, “quero dormir e não quero acordar mais”, “minha dor nunca vai passar”, “vou me matar”, que não devem ser desconsideradas por quem as ouvi-las. “A gente nunca deve menosprezar essas falas, não achar que quem fala que vai se matar só quer chamar a atenção. Devemos escutar muito bem essas pessoas, não julgar e tentar se aproximar da melhor forma possível.” 

Também são sinais de um potencial suicida comportamentos como isolamento social, abandono de atividades, ações imprudentes, sono desregulado, situações de despedida e aumento do uso de álcool ou drogas. Por outro lado, qualquer pessoa pode ter ou buscar estimular fatores protetores ao suicídio: autoestima elevada, bom suporte familiar, frequência a atividades religiosas, ter crianças em casa, gravidez desejada e planejada, estar empregado, ter laços sociais bem estabelecidos, ter relação terapêutica positiva. “Todas pessoas podem ter fatores de risco e fatores protetores. Por isso, sempre temos que aumentar os fatores protetores”, frisou. 

Dúvidas dos vereadores
Após sua explanação, o psiquiatra tirou dúvidas dos parlamentares em relação ao tema. Ao vereadorNori Seto (PP), Glauber Kaio explicou que quanto mais se falar sobre saúde mental, na imprensa e nas redes sociais, menor será o preconceito sobre os transtornos mentais e maior será a prevenção ao suicídio. Ele orientou, no entanto, que é preciso tratar o suicídio com cuidado, para “não exaltar o fato”. 

Pela sua experiência, continuou o convidado ao responder Herivelto Oliveira (Cidadania) e João da 5 Irmãos (PSL), a maioria das pessoas que se suicidam são pacientes com transtorno bipolar na fase depressiva; e o principal fator de risco é aquela pessoa que já tentou suicídio anteriormente ou que tem um transtorno mental. “Falar mais sobre transtornos mentais, para diminuir o preconceito e orientar as pessoas a procurarem o tratamento mais cedo”, reforçou, ao orientar Jornalista Márcio Barros (PSD) sobre como melhorar a comunicação em torno do tema. 

Às vereadores Noemia Rocha (MDB), Professora Josete (PT) e Amália Tortato (Novo), que indagaram sobre os impactos da pandemia no crescimento dos suicídios no país e no mundo, afirmou que já se observou um aumento do número de casos no período, mas que estudos ainda serão realizados. Os maiores alertas são em relação aos idosos com mais de 65 anos, que têm maior tendência de agravamento de quadros depressivos, em função do isolamento social; e à “quarta onda” da covid-19, que será o agravamento das doenças mentais. Líder do prefeito, Pier Petruzziello (PTB) também participou do debate. 

Palácio Iluminado e live
A CMC deu início às ações do Setembro Amarelo no começo do mês, quando o Palácio Rio Branco, que é sede do Poder Legislativo da capital, foi iluminado com a cor da campanha e permanecerá assim até o dia 30. O objetivo é chamar a atenção da população que passa pelo entorno do Legislativo sobre a necessidade de cuidar da sua saúde mental, para que gestos extremos de socorro, como o suicídio, possam ser prevenidos. 

Além da iluminação cênica do palácio, a Câmara de Curitiba volta a receber, na live do Instagram desta quinta-feira (16), o vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, Glauber Kaio. Ele, juntamente com a psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), Priscila Nascimento, e a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL), vão falar sobre a campanha de prevenção ao suicídio. O debate será mediado pela jornalista da Diretoria de Comunicação da CMC, Michelle Stival da Rocha.

Tribuna Livre
A Tribuna Livre é um espaço democrático de debates mantido pela CMC, para ser canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas discutidos na Tribuna Livre são sugeridos pelos vereadores, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc. 

Conforme o Regimento Internodo Legislativo, as Tribuna Livres ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – geralmente, após a votação dos projetos de lei e demais proposições, a menos que ocorra a inversão da pauta. Se você participa de uma entidade, representa uma causa ou atividade coletiva, entre em contato com um dos vereadores para sugerir a realização da Tribuna Livre. O RI veda o uso desse espaço por representantes de partidos políticos; candidatos a cargos eletivos; e integrantes de chapas aprovadas em convenção partidária. 

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