Seminário debate inclusão social da pessoa surda

por Assessoria Comunicação publicado 07/04/2006 18h20, última modificação 08/06/2021 11h01
Com o objetivo de implementar políticas públicas que atendam as necessidades das pessoas com deficiências auditivas foi realizado nesta sexta-feira (07), no auditório do Anexo II da Câmara de Curitiba, seminário proposto pelo gabinete do vereador Tito Zeglin (PDT). Para o parlamentar, é muito importante discutir as formas de ajudar este segmento da sociedade, através de políticas concretas que venham ao encontra do anseio das pessoas. "Só podemos fazer isso ouvindo os surdos para conhecermos suas reais necessidades para elaboração de legislação adequada. Como a inclusão no mercado de trabalho, por exemplo. Com este conhecimento, poderemos apresentar sugestões nas esferas municipal, estadual e federal. É primordial começar a caminhada para fazer alguma coisa concreta e propiciar a estas pessoas melhor qualidade de vida", afirmou o parlamentar.
Para a presidente do Centro de Apoio ao Surdo –CAS Curitiba, Rosana de Oliveira, "este é um momento muito importante para a conscientização de toda a sociedade, pois todos os portadores de necessidades especiais devem receber a mesma oportunidade das pessoas ditas normais do acesso ao trabalho passando pelo lazer e cultura. Neste sentido precisamos ser mais velozes. Precisamos de novo paradigma de educação. Não podemos mais ter a visão de que o aluno com deficiência auditiva é um problema a ser sanado, mas sim, a idéia de que é um aluno com uma cultura diferente, e que se faz urgente adequá-los à sociedade", afirmou Oliveira. Ressaltou, ainda, que a lei federal 10.436 de abril de 2002 oficializou a Libra (linguagem de sinais) como linguagem brasileira dos surdos.
Prevenção
Já, o otorrinolaringologista e professor da Universidade Federal do Paraná, Rogério Hamerschmidt falou sobre a importância da prevenção, que tem início na gravidez e no nascimento da criança, fazendo-se exames como o teste da orelhinha, que segundo o médico, deveria ser obrigatório em todos os hospitais. "Mesmo a surdez total pode ser revertida para audição normal quando detectado no recém-nascido". Hamerschmidt alertou que a exposição de ruídos intensos, medicamentos, anestesias e cirurgias são as principais causas que podem levar à surdez na idade adulta. O especialista apresentou, ainda, as várias formas de tratamento, como próteses auditivas, além do implante de coclear, conhecido como o ouvido biônico, que, hoje, é realizado apenas em Campinas, em São Paulo, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Como médico do Hospital das Clínicas, disse que está tentando fazer com que esse implante possa ser feito aqui também, uma vez que o HC "é o maior patrimônio em termos de saúde do País." Segundo Hamerschmidt, o implante custa cerca de R$ 60 mil, e é pago pelo SUS (Sistema Único de Saúde). "Precisamos criar condições para que as pessoas tenham vida normal", concluiu.
Para a assistente social, Roseclelia Malucelli Borne, do Centro de Reabilitação Sidney Antônio – Cresa, da Universidade Tuiuti, que abordou o tema "Inclusão do surdo ao mercado de trabalho" é preciso que toda a sociedade faça grande esforço no sentido de incluir essas pessoas no mercado de trabalho e o processo de cotas, criado por lei federal, ajudou bastante. "Mas, precisamos retirar todas as barreiras, permitindo que usufruam dos bens sociais a quem tem direito e o momento é oportuno" afirmou Borne.
Comunicação
Na primeira palestra da tarde, a fonoaudióloga Silvania Maia Silva Dias comentou as formas de comunicação mais comuns usadas pelos surdos: gestualismo, oralismo, comunicação total e bilingüismo, assim como a história do surgimento da linguagem por sinais. Com as duas grandes guerras mundiais, muitos homens combatentes tornaram-se surdos durante a batalha, por causa das bombas. Assim, os Estados Unidos começaram a aperfeiçoar e criar alternativas para a comunicação dos surdos, expandindo para os demais países.
Silvania é a favor de priorizar a fala do surdo, sem deixar de lado os sinais. Para ela, o ciclo lingüístico de sinais se completa com a fala. O surdo tem como língua-mãe os sinais, mas muitos conseguem desenvolver a fala também. "Respeito aquilo que o surdo consegue, mas também cobro aquilo que sei que ele pode", disse a fonoaudióloga.
A palestrante explicou ainda que a linguagem de sinais é universal, independente do país em que se esteja. "Há poucas diferenças, possibilitando que a maioria dos surdos possam se comunicar em qualquer lugar do mundo", disse.
Existe lei paranaense, aprovada em 1998, que reconhece o sinal como língua no Estado. No prazo de 10 anos, as escolas devem se adaptar na formação de intérpretes para auxiliar os estudantes surdos.
Relato
Em seguida, o engenheiro civil Clóvis Dallegrave Silva Junior, contou diversas experiências pessoais de várias épocas da sua vida, com dificuldades, alegrias e sucessos.
Aparelhos
José Guth Costa, gerente do Centro Auditivo Capital, ressaltou a eficiência dos aparelhos auditivos e no bem-estar que proporcionam aos surdos. "Nossa missão é tornar prazerosa a vida daqueles que vão utilizar o aparelho", e colocou-se à disposição para esclarecer dúvidas aos interessados.
Religião
Para finalizar, o padre Ricardo Hoepers, assessor da Pastoral dos Surdos do Paraná, destacou o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, que trata da pessoa com deficiência. "A surdez não deve aprisionar, mas levar a pessoa à liberdade interior", disse Hoepers. O padre lembrou que a sociedade religiosa tem se preocupado com os portadores de necessidades especiais, e está adaptando a leitura bíblica e a interpretação, facilitando o acesso à fé e à religião a todos.
Para o padre, é necessário proporcionar esse acesso em cultos, missas, catequeses, que possibilite ao surdo participar ativamente. "Não adianta chamar a sociedade, sendo que muitos ficam de fora por não conseguirem participar de verdade. A melhor possibilidade seria a colocação de intérpretes nas igrejas, servindo até como responsabilidade social", destacou.