Reposição da inflação ao funcionalismo municipal avança na CCJ

por Fernanda Foggiato — publicado 05/01/2022 16h45, última modificação 05/01/2022 17h18
Nesta quinta-feira (6), a CMC terá reuniões das comissões de Economia e de Serviço Público. A ideia é finalizar a votação dos projetos de lei na próxima semana.
Reposição da inflação ao funcionalismo municipal avança na CCJ

O projetos foram acatados com unanimidade – lembrando que a análise da CCJ é por critérios legais, e não pelo mérito. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Em reunião extraordinária online, realizada no começo da tarde desta quarta-feira (5), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) acatou, com unanimidade, os seis projetos de lei em pauta. Dessas proposições, cinco são as que pretendem conceder a recomposição inflacionária a servidores públicos, aposentados, pensionistas, conselheiros tutelares e agentes políticos, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ou seja, não é prevista reposição salarial além da inflação.

O prefeito Rafael Greca assina quatro propostas de lei, protocoladas no dia 2 de janeiro, para a revisão geral anual aos servidores públicos e aos agentes políticos do Executivo, entre eles prefeito, vice-prefeito e secretários municipais (005.00001.2022 e 005.00002.2022), além dos conselheiros tutelares (005.00003.2022 e 005.00004.2022). A ideia é aplicar a recomposição inflacionária de 13,71%, apurada em 24 meses pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE. O valor equivale à retomada dos 3,14% (referentes ao período de outubro de 2019 a setembro de 2020), mais a aplicação, sobre esse índice, de 10,25% (de outubro de 2020 a setembro de 2021).

>> Entenda os projetos que tratam da reposição salarial.

Outro projeto de lei é de iniciativa do presidente e da segunda-secretária do Legislativo, respectivamente os vereadores Tico Kuzma (Pros) e Professora Josete (PT), membros da Comissão Executiva (005.00006.2021). A proposta é recompor o salário dos servidores em 19,22%, equivalente ao IPCA apurado em 29 meses.

Ou seja, o índice dos servidores efetivos da CMC é maior do que o da Prefeitura de Curitiba porque o período apurado é igualmente maior – 16,22% entre outubro de 2019 e novembro de 2021 e 3% a título de complementação do período da data-base referente aos meses de dezembro de 2021 e janeiro e fevereiro de 2022.

A projeto também prevê a revisão de 11,59% para os vereadores, correspondente à perda inflacionária acumulada, segundo o IPCA, no período de julho de 2020 (pró-rata) a setembro de 2021. O índice não incidirá sobre o subsídio presidente da Casa. A recomposição é assegurada, assim como aos agentes políticos do Executivo, pela Constituição Federal, conforme o inciso X do artigo 37 e o parágrafo 4º do artigo 39. No âmbito municipal, o respaldo é a lei 15.655/2020.

Cabe a esta Comissão tão somente analisar a existência ou não de vício capaz de ensejar a inconstitucionalidade, ilegalidade, afronta ao regimento e a técnica legislativa [nos termos do Regimento Interno, artigo 60], indicou o presidente da CCJ, Osias Moraes (Republicanos).

 >> Assista à reunião na íntegra.

Vice-presidente do colegiado e líder do prefeito, Pier Petruzziello (PTB) disse que é importante deixar claro que as proposições não estão em regime de urgência, cujo prazo, segundo o próprio Regimento Interno, não corre durante os recessos do plenário. “Todos os projetos estão amparados em legislação específica”, declarou o vereador, antecipando o voto favorável na discussão em plenário.

Foi do líder a relatoria da mensagem do Executivo para a retomada dos 3,14% aos servidores, empregados públicos, aposentados, pensionistas e agentes políticos do Executivo (005.00001.2022). Mauro Ignácio (DEM), na análise da proposta referente aos 10,25%, aponta que o impacto financeiro não extrapola o limite legal de gastos com pessoal (005.00002.2022). “Assim, ao que compete a esta Comissão de Constituição e Justiça analisar, não restam identificadas inconsistências que obstem o regular trâmite da matéria”, acrescenta o parecer.

O vereador Dalton Borba (PDT) pontuou que a análise da CCJ não é baseada em mérito, mas na análise da legalidade e da constitucionalidade. “Além do mais, não se trata de aumento real”, disse ele sobre a retomada dos 3,14% aos conselheiros tutelares, projeto sob sua relatoria (005.00003.2022, confira o parecer).

A discussão política e do mérito se darão no plenário”, reforçou Indiara Barbosa (Novo). Foi dela parecer favorável, acatado em nova votação unânime, para a recomposição de 10,25% aos conselheiros – assim como no caso dos servidores, o índice será aplicado sobre os 3,15%, chegando-se aos 13,71% (005.00004.2022).

A revisão geral anual não se trata de aumento da remuneração e sim de recomposição de perdas inflacionárias”, aponta trecho do parecer, assinado por Osias Moares, referente à reposição para servidores do quadro próprio do Legislativo (005.00006.2021). “Quanto ao auxílio-creche e auxílio-saúde, a proposição apenas fixa o valor de benefícios já concedidos e sua atualização monetária, sem qualquer aumento real [no caso do auxílio-saúde, e previsto decréscimo de, 0,72%, conforme tabela anexa ao projeto].”

Estatuto dos Servidores

Renato Freitas (PT) emitiu parecer favorável à matéria, também assinada por Tico Kuzma e Professora Josete, para alterar dispositivos do Estatuto dos Servidores da Câmara Municipal de Curitiba (005.00005.2022). A proposta deixa claro que o Regime Integral de Trabalho (RIT), regulamentação aprovada em plenário em dezembro passado, é uma gratificação provisória, além de garantir o auxílio-funeral aos servidores comissionados da Casa (leia mais).

A regulamentação do RIT para os jornalistas e outras funções, avaliou Freitas, pretende suprir problema que deveria ser resolvido por meio de concurso público. Ainda na avaliação do vereador, a medida pode abrir brechas para “normalizar uma forma de serviço mais oneroso” e para “favoritismos” na administração do Legislativo.

No entanto, apesar das observações, a conclusão foi pelo trâmite por “inexistirem óbices constitucionais ou legais” às alterações do Estatuto dos Servidores. “Que isso [votos favoráveis, conforme os critérios analisados pela CCJ] não se confunda com concordância com os temas que serão debatidos em plenário na semana que vem”, complementou Denian Couto (Pode).

Próximas etapas

Com o aval da CCJ, as propostas de lei seguem para reuniões extraordinárias virtuais das comissões de Economia, Finanças e Fiscalização e de Serviço Público, nesta quinta-feira (6). O primeiro encontro será às 9 horas; o segundo, às 14 horas.

Após o trâmite nos colegiados permanentes, o presidente da Câmara, Tico Kuzma, poderá convocará o plenário para que os vereadores decidam sobre a abertura de sessão legislativa extraordinária, conforme o artigo 11 do Regimento Interno.

Depois disso é que poderão ser realizadas as sessões plenárias extraordinárias para a análise das propostas de lei. O trâmite é necessário já que as atividades ordinárias retornam no dia 1º de fevereiro. A ideia é finalizar as votações, submetendo as matérias à sanção do Executivo ainda na primeira quinzena de janeiro.

As reuniões das comissões, assim como as sessões plenárias, o transmitidas, em tempo real, pelos canais da CMC no YouTube, no Facebook e no Twitter.

Distribuição de projetos

Freitas criticou o processo de distribuição das relatorias na CCJ, por considerar que os projetos do prefeito são direcionados à base. “O nosso Regimento Interno possui um procedimento de distribuição dos processos que a meu ver é antidemocrático. […] já que o presidente tem o arbítrio de distribuir os processos como lhe der na telha”, avaliou.

Temos sido democráticos e distribuído quase igualitariamente os projetos”, rebateu Osias Moraes, negando má-fé na condução dos trabalhos. Indiara Barbosa, que relatou um dos projetos relativos aos conselheiros tutelares, lembrou que não é da base, e sim independente.

A CCJ é formada pelos vereadores Osias Moraes, presidente, Pier Petruzziello, vice, Beto Moraes (PSD), Dalton Borba, Denian Couto, Indiara Barbosa, Marcelo Fachinello (PSC), Mauro Ignácio e Renato Freitas.