Rejeitada moção de repúdio do Professor Galdino contra a FAS

por Assessoria Comunicação publicado 02/09/2013 13h40, última modificação 17/09/2021 10h30

Por 32 votos a três, foi rejeitada em plenário uma moção de repúdio à prefeitura de Curitiba e à Fundação de Ação Social (FAS) proposta pelo vereador Professor Galdino (PSDB). Na justificativa apresentada à Câmara Municipal, o parlamentar alega que no dia 27 de agosto tentou fiscalizar uma casa de acolhimento da FAS no Boqueirão, mas não foi autorizado a entrar no local (060.00007.2013).
    
Ao defender a moção de repúdio na tribuna, Galdino exibiu um vídeo que mostra ele e um assessor parlamentar conversando com uma senhora no portão da unidade (Centro POP, de resgate social, localizado na rua Padre Dehon, 2.968). A senhora entrega para o vereador um papel, com o nome de uma supervisora que poderia autorizar a entrada, já que ela não se sentia habilitada a isso. Galdino pega o papel, repassa ao auxiliar e começa a falar para a câmera de vídeo sobre o impedimento. Durante o monólogo, a funcionária se afasta e é filmada pela equipe do parlamentar.
    
“Fui impedido de entrar nas dependências do albergue. Nem a ditadura ousou isso contra o Legislativo”, disse Galdino, que comparou a casa de acolhimento a um “campo de concentração”. Sobre o cadeado usado para regular o acesso, afirmou que poderia causar um acidente fatal, pois num incêndio as pessoas teriam que abandonar a casa e pular o portão, “ficando espetadas”. O vereador considerou que a situação “abala a relação entre os poderes” e que a presidente da FAS, Márcia Fruet, estaria “escondendo” algo.

Debate

Cinco vereadores utilizaram a tribuna depois da exposição de Galdino para discordar, ora das expressões usadas pelo parlamentar, ora da abordagem dele mostrada em vídeo. O presidente da Câmara de Curitiba, Paulo Salamuni (PV), disse que Galdino tentou dar um “carteiraço” na unidade da FAS, pôs em dúvida a intenção real de fiscalizar defendida pelo outro vereador (no decorrer do debate, Geovane Fernandes, do PTB, informou que ele próprio já havia feito a visita àquela mesma unidade sem nenhum impedimento) e chamou de “spielberginiana” a ação mostrada em vídeo.
    
“Fiscalizar não é isso (que o Galdino fez), isso é patrulhar. Gravar a conversa e só mostrar partes dela. Ninguém tem o direito de entrar chutando uma porta ou pinçar meia verdade. Fiscalizar não é uma coisa spielbergniana de "luz, câmera e ação". As pessoas confundem às vezes autoridade com autoritarismo, confundem o poder legitimado com o poder ilimitado”, reclamou Salamuni, afirmando que o exercício do mandato requer serenidade, coragem e parcimônia. “Precisamos parar com atitudes como essa, que só apequenam a Casa. Querer se afirmar em cima de servidores humildes, que trabalham duro (no resgate social), onde já se viu? O que soma para a cidade essa ação espetaculosa?”, completou Salamuni.
    
Chicarelli (PSDC) parabenizou Galdino “pela coragem”. Além dos dois,  Julieta Reis (DEM) também apoiou a moção de repúdio. Tico Kuzma (PSB) discordou da forma adotada por Galdino em sua exposição, mas leu em plenário o artigo 25 da Lei Orgânica Municipal, que faculta aos parlamentares a realização de vistorias sem prévio aviso (“se avisarmos sempre, o poder público pode manipular”, afirmou). Valdemir Soares (PRB) e Serginho do Posto (PSDB) defenderam um pedido de desculpas do Legislativo à servidora expostas no vídeo exibido por Galdino. “Eu me senti envergonhado (com o vídeo). A Márcia Fruet faz trabalho de rua na FAS, tirando gente debaixo de marquise de forma anônima”, argumentou Soares.
    
“Usar termos como ditadura e campo de concentração (para se referir ao trabalho da FAS) é uma falta de decoro sem tamanho. Nós fizemos oposição durante quatro anos e em nenhum momento fizemos comentários nesse sentido. Nunca fomos desrespeitosos. A ditadura matou gente e até agora não se sabe onde os corpos foram enterrados”, afirmou Jonny Stica (PT).
    
O vereador Pier Petruzziello (PTB) subiu à tribuna para se queixar da expressão “campo de concentração”. “(O vereador Galdino) comparou uma senhora servidora pública à indústria da morte, que era tão macabra, que tinha câmara de gás, fornos crematórios e equipamentos de tortura. Ele não conhece o que passaram os judeus e merece um voto de repúdio pelo que diz”, rebateu Pier. Ele lembrou que, com o trabalho da FAS nos últimos dias de frio, recolhendo pessoas em situação de rua para casas de acolhimento como a citada por Galdino, não houve registro de morte neste inverno.
    
“Quem procura a FAS sabe que precisa de ajuda, diferente dos judeus que foram obrigados a ir para campos de concentração pela Alemanha nazista de Hitler”, concluiu Pier. Chico do Uberaba (PMN) pediu providências sobre o comportamento de Galdino para o Conselho de Ética, relembrando o caso da queda dele em plenário. Carla Pimentel (PSC), presidente do conselho, disse que o colegiado precisa ser provocado. “Não vamos admitir que o Conselho de Ética seja usado como instrumento de coerção”, protestou a vereadora.
    
O líder do prefeito, Pedro Paulo (PT), falou por último. Informou que naquela unidade são atendidas pessoas “em situação de rua” e que existem regras específicas das casas de acolhimento (antigos “abrigos”). Afirmou que as comparações foram “infelizes” e pediu “responsabilidade”. “A FAS está descentralizando o atendimento e melhorando a qualidade desse serviço público”, afirmou.