Registros de violência infantil não refletem a realidade, diz Cecovi

por Assessoria Comunicação publicado 26/05/2010 18h20, última modificação 29/06/2021 12h03
Para cada caso notificado de violência contra crianças e adolescentes, outros 20 não chegam à rede oficial de registros. O dado é da coordenadora do Centro de Combate à Violência Infantil (Cecovi) e consultora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Maria Leolina Couto Cunha. Ela participou da Tribuna Livre desta quarta-feira (26), na Câmara Municipal de Curitiba, a convite da vereadora Mara Lima (PSDB). A parlamentar ressaltou a missão do Cecovi, de promover a cultura de paz dentro da família, velando para que a criança e o adolescente se mantenham a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração e violência.
Durante a explanação, foram apresentados dados estatísticos dos abusos cometidos em Curitiba. Maria Leolina informou que os crimes aumentam a cada ano e os índices notificados na rede oficial não refletem a realidade, reiterando a necessidade de conscientizar a população sobre a gravidade da violência sexual e, principalmente, de estimular e encorajar as vítimas a revelarem situações que envolvam este tipo de crime. Em 2006, foram registrados 485 casos. Três anos depois, em 2009, as ocorrências aumentaram para 677, número que, segundo ela, deve ser multiplicado por 20 para se ter uma ideia aproximada da real situação. Com relação aos agressores, a coordenadora disse que cerca de 60% deles são conhecidos, sendo 30% os próprios pais.
Conforme Maria Leolina, o Cecovi é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que trabalha na prevenção à violência doméstica há 11 anos, com atendimento direto à criança e ao adolescente, levantamento e capacitação de profissionais que trabalham frente à realidade da violência contra a criança, como jornalistas, professores e conselheiros tutelares, entre outras atividades na área.
As ações, explicou, são focalizadas em três públicos-alvo: crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos, famílias e profissionais que atuam na área da infância e adolescência. “Priorizamos, entre nossas atividades, a capacitação técnica de profissionais, sobre o fenômeno da violência intra e extra-familiar na infância e adolescência.” Os diversos cursos de especialização e capacitação à distância desenvolvidos pelo Cecovi também foram citados na apresentação.
Mito
Sobre o mito de as crianças inventarem estarem sendo vítimas de abuso sexual, a coordenadora enfatizou que 92% falam a verdade e que é preciso ficar alerta para sinais que possam indicar que a criança está senso abusada.

 

Box

Os vereadores elogiaram o trabalho desenvolvido pelo Cecovi, falaram sobre a importância do debate e lamentaram os casos detalhados por Maria Leolina Couto Cunha.Para Emerson Prado (PSDB), é preciso encontrar mecanismos para avançar em atividades como estas, de prevenção contra drogas, exploração sexual e outras. “O poder público não pode criar barreiras. Deve, sim, encontrar formas para combater e evitar crimes como os que muitas vezes ocorrem em silêncio”, disse. Omar Sabbag Filho (PSDB) completou as informações apresentadas pela coordenadora, abordando dados sobre gravidade da situação em Curitiba. Na opinião do vereador, os pais precisam de capacitação para serem pais, orientando com bons rumos para a infância e juventude. “Há uma enorme tendência em repetir na família que se forma o padrão de comportamento, como uma cadeia ininterrupta. Para combater os maus exemplos, é preciso que sejam criadas políticas públicas que rompam tal cadeia negativa de padrões de conduta, visando a formação de um novo cidadão”, avaliou.
O vereador Professor Galdino (PSDB) e a vereadora Noemia Rocha (PMDB) questionaram de que maneira o poder público pode efetivamente evitar casos de violência e sobre os avanços conquistados na área. Noemia destacou o trabalho de luta contra a pedofilia defendido pelo senador Magno Malta (PR-ES) e as ações da Igreja no combate às drogas, pedofilia e violência. Neste sentido, o vereador Valdemir Soares (PRB) também lembrou da trabalho incessante da igreja evangélica e lamentou o alto número de agressões cometidas contra crianças pelos próprios familiares. Os tucanos Paulo Frote, Serginho do Posto e Celso Torquato, primeiro-secretário, lembraram que a Câmara está a disposição para tratar o tema.