Racismo no posto de gasolina: vereadores de Curitiba recriminam agressão
Vereadora Giorgia Prates exibiu em plenário vídeo da agressão racista ao frentista de Curitiba. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)
“Neguinho”, “nordestino dos infernos”, “otário”, “macaco” e “volta pro Nordeste” são algumas das agressões verbais sofridas pelo frentista Juan de Castro, na noite da última sexta-feira (13), enquanto trabalhava em um posto de gasolina no bairro Boqueirão. Nesta segunda-feira (16), vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) condenaram o comportamento racista e pediram a responsabilização do cliente, cujas palavras preconceituosas foram filmadas e divulgadas na internet, com repercussão nacional.
“Temos que assistir ao vídeo com indignação”, afirmou Giorgia Prates - Manda Preta (PT), que é a presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMC. Ela exibiu em plenário o vídeo com a agressão ao frentista, logo no início da sessão desta segunda-feira. “Eu já perdi a conta de quantos casos de racismo eu fui chamada a acompanhar neste ano. Essas manifestações são uma prova contundente de que estamos falhando, de que o sistema está falhando em oferecer igualdade aos cidadãos”, continuou a vereadora, que cobrou manifestações firmes dos vereadores sobre o caso e que os atos gravados não fiquem impunes.
Do lado de fora da CMC, houve um ato simbólico do Sinpospetro (Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo e Lojas de Conveniências em Postos de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral). O dirigente da entidade, Lairson Sena, entrou no plenário e levou a demanda por responsabilização da agressão racista aos vereadores de Curitiba. No Sistema de Proposições Legislativas (SPL), foi registrada hoje uma moção em protesto, que será votada pela CMC, na qual Angelo Vanhoni (PT) declara repúdio às agressões racistas e xenófobas cometidas no episódio de preconceito (413.00010.2023).
Cadeia para o agressor, sistema racista e mais opiniões dos vereadores
“Cadeia para esse cidadão, que tem que pagar pelo crime”, disse o vereador Osias Moraes (Republicanos), ao abordar o assunto do racismo no posto de gasolina. Ele afirmou que a agressão foi “um ato covarde e vil”, “que jamais podemos aceitar”, mas que o episódio não pode ser usado para generalizar a cidade inteira. “Temos que ter muito cuidado, porque Curitiba é uma cidade acolhedora, que já acolheu vários cidadãos nordestinos com muito amor e carinho. Não posso aceitar que qualquer pessoa diga que Curitiba é uma cidade racista”, defendeu Moraes.
Fazendo o contraponto, Dalton Borba (PDT) discorda de Moraes, afirmando a existência do racismo estrutural na sociedade brasileira. “A gente pode fazer com que o agressor do frentista, pelo ato de preconceito, seja punido. Mas o racismo é parte de um sistema de exclusão social, que impede o acesso de pessoas a altos cargos, às universidades, que foi normalizado e se tornou invisível. Lutar contra a invisibilização do racismo é muito difícil. O racismo está entre nós e é uma posição muito grave a gente negar isso”, comentou.
“O que mais me chocou foi o agressor não se importar de estar sendo filmado”, apontou Noemia Rocha (MDB), que apelou para os valores familiares como uma forma de combater a discriminação, já que “fui educada desde muito para respeitar os outros”. Concordando com ela, Indiara Barbosa (Novo) classificou de “inadmissível” a situação vivida pelo frentista. Para Professora Josete (PT), Curitiba precisa de políticas públicas mais eficazes no sentido de “construir uma sociedade mais acolhedora”, pois “não podemos mais nos calar diante dessa situação”. Rodrigo Reis (União) e Sidnei Toaldo (Patriota) também repudiaram o ocorrido no fim de semana.
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