Publicidade institucional sobre Semana da Visibilidade Trans divide opiniões
O debate sobre a publicidade aconteceu na sessão plenária desta terça-feira. Maria Leticia foi quem trouxe o tema à tona. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Uma campanha institucional da prefeitura, a respeito da Semana da Visibilidade Trans, divergiu opiniões no plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) nesta terça-feira (2). Lançada no último dia 27 nas redes sociais do Poder Executivo, a publicidade mostrava uma mãe e uma criança e trazia a mensagem “Crianças Trans Existem”, mas foi retirada do ar. A decisão de apagar o post foi criticada pelas vereadoras Maria Leticia (PV) e Carol Dartora (PT) e, ao mesmo tempo, defendida por Ezequias Barros (PMB), Osias Moraes (Republicanos) e Eder Borges (PSD).
Maria Leticia informou aos colegas parlamentares ter entrado em contato com Thamirys Nunes, mãe de uma menina trans, que teria sido convidada pela Prefeitura de Curitiba para ilustrar a publicidade institucional e cuja imagem, que não exibia o rosto da criança, foi apagada das redes sociais. Para a vereadora, publicar uma campanha como esta e depois retirá-la mostra “desconhecimento sobre as questões de gênero e orientação sexual” por parte das pessoas.
Na opinião de Carol Dartora, o Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, existe “justamente para que a gente possa falar desta forma de existir, para discutir políticas públicas para combater a violência que essas pessoas sofrem”. Invisibilizar o problema, continuou a vereadora, “não faz com que ele deixe de existir”. “Pessoas trans, desde a infância, sofrem com a violência: física, sexual e psicológica. Violência que as levam inclusive a morte”, complementou.
“Dizer que a sociedade está matando um determinado grupo de pessoas é incitação ao ódio, coloca um grupo contra o outro”, respondeu Eder Borges, que informou ter protestado “veementemente” contra a publicidade institucional. Na sua opinião, as crianças precisam ser poupadas destas “ideologias para dizer o mínimo malucas, impostas nos dias de hoje”. A iluminação de prédios públicos com as cores da bandeira trans, como a estufa do Jardim Botânico, foi considerada um “excesso” por ele.
Ezequias Barros também declarou que assim que soube da publicação, entrou em contato com a Prefeitura de Curitiba para pedir a retirada do material do ar “por considerar que não é importante”. “É inadmissível este tipo de propaganda por parte da prefeitura. É infeliz. Não sei quem foi a pessoa que colocou. Parabenizo o prefeito que, já no mandato passado, disse ‘nossas crianças não serão erotizadas’. Não estou aqui discutindo que não há o problema. Mas nós estatizarmos isso, trazendo como propaganda oficial, é desnecessário. Estou aqui para defender a família”, argumentou.
Segundo Osias Moraes, “cientificamente falando” nenhuma criança pode se identificar como trans. “Crianças recebem a nomenclatura de transgênero por adultos”, frisou, ao contar que também ligou para o Poder Executivo para cobrar a retirada da campanha das rede sociais. “Nós, vereadores, não aceitaremos este tipo de absurdo com uma criança. Não venha empurrar na nossa cabeça que isso é normal. Não é normal e cientificamente falando.”
Para Maria Leticia, o poder público deve garantir a manutenção das políticas políticas para essas pessoas. “Nós trabalhamos para toda a população e não para uma parcela dela”, ao defender que o estado deve acolher as pessoas trans. Do outro lado, Barros analisou que este tipo de pauta causa confusão mental na cabeça das crianças. “Essa é uma pauta da esquerda que nós combatemos aqui, a questão da erotização e sexualização das crianças”, disse, ao defender que a “questão do gênero” seja deixada de lado. “Este é o meu pensamento. Vou defender a família, vou defender os costumes.”
“O processo de erotização das crianças será efetivamente combatido por mim”, avisou Eder Borges. “O fato do que eu acho ou deixo de achar não deve pautar a administração pública. O que deve pautar são os princípios de democracia, de cidadania, de intolerância, de inclusão”, respondeu Dartora, ao lembrar que, a pedido da segunda secretária da CMC, Professora Josete (PT), o Palácio Rio Branco foi iluminado no dia 29 de janeiro com as cores azul, rosa e branca em alusão ao Dia da Visibilidade Trans.
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