Psicólogo sugere cuidados ao próprio sofrimento causado pela crise da covid-19
Psicólogo e psicanalista, Willian Mac-Cormick Maron foi convidado pela Escola do Legislativo para as atividades alusivas ao Janeiro Branco. (Foto: José Lázaro Jr./CMC)
Aprender a reconhecer e lidar com o mal-estar gerado pelas vicissitudes da vida. Foi sobre isso que o psicólogo e psicanalista Willian Mac-Cormick Maron falou, em palestra na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), nesta quinta-feira (28). O evento, promovido pela Escola do Legislativo da CMC, integra uma série de ações executadas pela Casa para alertar à importância da saúde mental, em alusão ao Janeiro Branco, mês dedicado à conscientização acerca do bem-estar emocional.
O Janeiro Branco passou a fazer parte do calendário da capital em 2018, a partir da lei municipal 15.160/2018, de autoria da vereadora Noemia Rocha (MDB). A normativa prevê a realização de ações educativas para a difusão da saúde mental, a partir da cooperação entre o poder público e a iniciativa privada, ou setores da sociedade civil organizada. A população pode participar do evento encaminhando questionamentos pelas redes sociais e também pelo chat do YouTube, onde a explanação foi transmitida ao vivo e pode ter a íntegra conferida aqui. Fotos da visita do psicólogo ao Legislativo estão disponíveis no Flickr da CMC.
Segundo Mac-Cormick, a pandemia de covid-19, que há quase um ano mudou profundamente o dia a dia de bilhões de pessoas pelo mundo todo, afetou diretamente a saúde mental da população, tendo em vista as muitas vidas perdidas, a privação da liberdade e a perda de postos de trabalho. “A gente viu muito claramente como aumentaram os índices de ansiedade, de processos depressivos, de processos de luto, de alterações do sono e do apetite. Isso tudo pode ser visto nas pesquisas”, pontuou.
Além disso, o psicólogo salientou como a perda de entes queridos e dissolução de relações pessoais interferem na qualidade de vida. “Muitas pessoas entraram em processos ansiosos, de ansiedade extrema com as notícias, as repercussões”, disse. Também apontou a dificuldade das pessoas em enfrentar os processos de luto que aumentaram nesse período. Segundo o profissional, o luto não está apenas na morte física de alguém, mas ainda na extinção de relacionamentos, de trabalhos, da própria noção de realidade e da liberdade.
“Nós passamos por múltiplos processos de luto, que mudaram e vêm mudando nossa forma de se relacionar com a saúde, com o outro, a sociedade, com o público e com o trabalho”, disse Mac-Cormick, apontando ainda os impactos das novas relações profissionais, como o estabelecimento do home office e a possibilidade de que muitas empresas de fato adotem permanentemente essa modalidade.
Também foram abordados temas como a insegurança trazida pela covid-19, a disseminação de notícias falsas e a negação da pandemia, como mecanismo de defesa (quando o sujeito nega algo por ter dificuldade em lidar com aquilo), além do impacto das redes sociais sobre o psiquismo. Para isso, a sugestão do profissional é a busca por informações confiáveis e o uso cauteloso das redes sociais, como forma de evitar um “bombardeio” de dados que podem levar a processos ansiosos.
A quem sofre com os impactos psicológicos da pandemia, Willian Mac-Cormick recomendou a ajuda especializada, por meio da psicoterapia, para que o paciente consiga ser ouvido por profissional habilitado e tenha suas demandas acolhidas. “O lugar de escuta do ser humano é o outro ser humano. Mas não é qualquer um, é um ser humano apto, que transmita segurança, acolhida, empatia, pra poder receber aquilo que é falado”.
O psicanalista frisou a importância do acompanhamento terapêutico, já que o sofrimento psíquico pode levar também a dores físicas e até mesmo ao adoecimento do paciente. “Respirar, reencontrar pequenos prazeres até então perdidos na rotina”, acrescentou o psicanalista, como forma de ajudar a enfrentar o mal-estar causado pela pandemia da covid-19.
O evento do Janeiro Branco foi conduzido pela jornalista da Escola do Legislativo, Claudia Krüger, e teve a abertura oficial realizada pela presidente do órgão, vereadora Professora Josete (PT). A parlamentar salientou a importância de se discutir este tema dentro da CMC e em como a Escola pode contribuir em trazer este tipo de debate à sociedade.
A Escola do Legislativo
Em funcionamento desde 2013, a Escola do Legislativo tem o papel de auxiliar no aperfeiçoamento profissional de servidores da instituição e de vereadores, além de contar com atividades que contemplam também a comunidade em geral. Pode ainda estabelecer convênios e parcerias com outras instituições, sejam elas públicas ou privadas, como o que resultado no projeto Parlamento Jovem, uma parceria entre a Casa e o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), entre outros.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba