Primeiro Centro de Acolhimento em Terapia Canabinoide fica em Curitiba
Nívea Souza e Vitor Brasil, da Santa Casa, falam sobre uso da cannabis medicinal em Curitiba. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Dois meses depois da capital do Paraná ganhar o primeiro Centro de Acolhimento em Terapia Canabinoide do país, em junho deste ano, a iniciativa da Santa Casa de Curitiba foi apresentada hoje aos vereadores da capital. Nesta quarta-feira (30), para debater a situação do uso medicinal da cannabis em Curitiba, a Câmara Municipal (CMC) recebeu, na Tribuna Livre, o coordenador-médico do projeto, Vitor Jorge Woytuski Brasil, e a diretora-médica corporativa da Santa Casa, Nívea Pereira de Souza. “A cannabis é um divisor de águas para a medicina futura”, afirmou o coordenador do centro.
O médico Vitor Brasil apresentou aos vereadores o estudo de caso da sua mãe, que, com mais de 80 anos de idade, sofria com restrição de movimento no pescoço e membros superiores, em parte causada por uma doença degenerativa, além de um quadro de dor crônica, que a fazia ficar recolhida, com a cabeça tombada para frente, o que dificultava a alimentação, por exemplo. O uso da terapia canabinoide, associada à fisioterapia, causou um resultado até então inédito na familiar do profissional, que tem 20 anos de clínica médica, que foi a recuperação dos movimentos. “Há um potencial de uso terapêutico para mais de 30 milhões de pessoas”, projetou.
O debate sobre o uso da cannabis medicinal em Curitiba foi proposto por Maria Leticia (PV), com o apoio de Mauro Bobato (Pode), que cedeu sua indicação à Tribuna Livre para que a parlamentar pudesse convidar a Santa Casa. “É importante os vereadores conhecerem o Centro de Terapia Canabinoide, que tem o objetivo de ofertar o acesso a novas plataformas de tratamento e medicamentos, prestando informação a pacientes, médicos, associações e entidades hospitalares. Neste projeto, eles têm essa parceria com a Anna, que é uma startup do setor, com esse interesse em combinar pessoas, tecnologia e acolhimento em um só lugar”, frisou a vereadora.
“Possuímos um sistema, no nosso organismo, chamado de endocanabinoide. É um sistema de sinalização celular, semelhante ao circulatório, e, popularmente, dizemos que nós produzimos [no nosso corpo] substâncias muito parecidas com o que tem de específico na cannabis sativa, e é por isso que vemos essa propriedade terapêutica. O sistema endocanabinoide está em conexão com todos os outros órgãos do corpo, o que dá essa possibilidade terapêutica ampla”, explicou Vitor Brasil, ao iniciar o debate sobre o uso medicinal da cannabis em Curitiba.
“Temos diversos componentes da planta, sendo que os mais conhecidos são o THC e o CBD. O THC é o de maior controvérsia, por ser psicoativo, mas tem potencial para alívio de dores e náuseas. O CBD é sem efeito psicoativo, sendo anti-inflamatório, ansiolítico e anticonvulsivante. Podemos pensar o uso terapêutico para situações crônicas, como dor, ansiedade, epilepsia e esclerose múltipla, com pesquisas em andamento para doenças neurodegenerativas e náuseas em tratamento de câncer. Também tem ocorrido um uso muito frequente entre as crianças autistas”, enumerou o coordenador-médico do projeto.
“A Santa Casa, apesar de 143 anos de história, é uma entidade extremamente inovadora, sempre buscando, através da ciência, atender os nossos pacientes. Para abrir o centro, fomos tocados pelo nosso corpo médico, com 600 profissionais, dos quais muitos são prescritores. No nosso time de neuro, temos muitos que prescrevem para transtornos do movimento. Montamos um comitê multidisciplinar, com apoio jurídico, dentro da legislação brasileira, e com a startup Anna montamos o centro, que atende pessoas daqui e de fora de Curitiba. Pessoas do Brasil inteiro buscam informação conosco”, contou a diretora-médica corporativa da Santa Casa, Nívea Pereira de Souza.
A Tribuna Livre foi coordenada pelo presidente interino da CMC, Tito Zeglin (PDT), com Nívea e Vitor Brasil respondendo a perguntas de Rodrigo Reis (União), Jornalista Márcio Barros (PSD), Bruno Pessuti (PSD), Alexandre Leprevost (Solidariedade), Sidnei Toaldo (Patriota), Amália Tortato (Novo), Pier Petruzziello (PP), Professora Josete (PT), João da 5 Irmãos (União) e Indiara Barbosa (Novo). “A terapia canabinoide precisa evoluir de estigma para reconhecimento terapêutico, para que haja regulamentação para uma orientação médica que resulte em uso seguro e eficaz”, resumiu o coordenador do centro.
Como funciona a Tribuna Livre na Câmara de Curitiba
A Tribuna Livre é o espaço democrático de debates mantido pela CMC, para ser o canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas em pauta são sugeridos pelos vereadores, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, a apresentação de uma campanha de conscientização, a discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc.
Conforme o Regimento Interno do Legislativo, as Tribunas Livres ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária, após o espaço do pequeno expediente. Se você participa de uma entidade, representa uma causa ou atividade coletiva, entre em contato com um dos vereadores para sugerir a realização da Tribuna Livre. O RI veda a participação de representantes de partidos políticos; candidatos a cargos eletivos; e integrantes de chapas aprovadas em convenção partidária. A Tribuna Livre é transmitida ao vivo pelos canais da Câmara de Curitiba no YouTube, no Facebook e no Twitter. Clique aqui para consultar os temas já abordados na Tribuna Livre em 2023.
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