Prefeitura mostra obras de ciclomobilidade; ciclistas pedem 'mudança de cultura'
Com a pandemia, as audiências públicas da CMC são feitas por videoconferência. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Na audiência pública sobre ciclomobilidade realizada pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC) nesta sexta-feira (18), representantes da Prefeitura de Curitiba defenderam o Plano Cicloviário, que botou como meta para a capital do Paraná dobrar sua malha cicloviária em cinco anos. Mas a surpresa, na atividade coordenada por Maria Leticia (PV) e João da 5 Irmãos (PSL), foi o pedido dos ciclistas por ações educativas e informativas que ataquem a cultura do trânsito violento (407.00018.2021).
O arquiteto Antônio Pedro Taboada, coordenador do Plano Cicloviário, dentro do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), e Rosângela Maria Batistella, superintendente de Trânsito da Prefeitura de Curitiba, destacaram que a cidade ganhará de 85 a 90 quilômetros de infraestrutura viária até o final do ano, além da manutenção na malha já existente – de 208,5 quilômetros, contando ciclovias (31,1 km), ciclofaixa sobre calçada (25,1 km), ciclofaixa (18,7 km), via compartilhada (19,6 km), passeio compartilhado (100,8 km), ciclorrota (11,7 km) e via descaracterizada (1,5 km).
Referindo-se a críticas ao Plano Cicloviário, Taboada apontou que “planejamento não é projeto e projeto não é obra”, logo o papel do Ippuc é definir as diretrizes [no âmbito do planejamento], que indicarão as ações seguintes [licitar projetos executivos, que depois estruturarão concorrências públicas para a contratação das obras], numa concertação com diversos órgãos municipais – secretarias de Governo, de Trânsito, de Obras Públicas, Urbs, etc. “Isso é uma confusão muito grande que as pessoas criam”, disse.
“A ideia do Plano Cicloviário não é você sair do Tatuquara e chegar na Região Norte de Curitiba com uma única bicicleta. É a bicicleta como tiro curto, na primeira e na última viagem”, continuou o arquiteto do Ippuc, defendendo o uso compartilhado de modais de transporte nos deslocamentos. Nesse sentido, Batistella, disse que a prefeitura recebe pedidos para autorizar o compartilhamento das canaletas e das faixas exclusivas de ônibus com as bicicletas, mas que isto não é possível. “Seria temerário”, defendeu.
A opinião teve a concordância do diretor administrativo e financeiro da Urbs, Pedro Henrique Romanel, que se declarou ciclista. “O uso das vias dos ônibus por bicicletas é um problema para a Urbs”, disse, afirmando que a velocidade, o peso e o tempo de parada dos ônibus é, em geral, incompatível com o compartilhamento da via com bicicletas. As falas do Executivo foram questionadas em dois aspectos pelos participantes: primeiro, no traçado da expansão da malha cicloviária em Curitiba; depois, na necessidade de campanhas para mudar a cultura do trânsito em Curitiba.
Docente da PUCPR, na Escola de Arquitetura e Design, André Turbay lembrou que “o planejamento, o projeto e a obra são determinados pela política urbana”. “Quando se tem uma meta quantitativa, onde as vias serão implantadas é uma decisão política”, afirmou, questionando se o melhor para a cidade é reforçar a malha onde os residente têm acesso a outros modais, ou seria mais socialmente justo expandir a ciclomobilidade nas periferias. “Temos pessoas que dependem da bicicleta, que não a escolhem”, criticou.
Falando da cidade de São Paulo, Renata Falzoni, que é fundadora do Night Bikers do Brasil e criadora do portal Bike é Legal na internet, acrescentou que aumentar a ciclomobilidade é reforçar a economia local. “O sistema do transporte público e da mobilidade ativa precisa estar isolado do congestionamento, que é o excesso do uso do carro. Temos que esquecer o carro como solução. Dar à população a opção de não gastar com locomoção [usando bicicletas], é injetar dinheiro na economia local”, resumiu.
Do coletivo Cicloiguaçu, Mariana Auler deu o tom da participação da sociedade civil ao defender que “a gente tem que pensar a ciclomobilidade além do asfalto”. “As ciclovias não resolvem todo o problema, especialmente se formos encarar a questão da cultura [de mobilidade]. Há muita violência gratuita no trânsito. É uma cultura que exacerba o individualismo, pois você está protegido do exterior por uma camada de metal [do veículo] – e aí está o potencial transformador da bicicleta”, alertou. Sua fala ecoou nas manifestações de Saint-Clair Honorato Santos, Anderson Deoli, José Carlos Armelin, Priscila Santos, José Carlos Belotto, Henrique Jacobi e Rodrigo Casagrande. “Precisa mudar a concepção de trânsito”, indicou Auler.
Os ciclistas questionaram, por exemplo, o motivo de não haver publicidade institucional da Prefeitura de Curitiba, animada e divertida, para desenvolver nos motoristas o respeito aos ciclistas, já que, mesmo com a expansão prevista no Plano Cicloviário, “os ciclistas em algum momento vão dividir a via com os carros”. Outras sugestões foi retomar a Escola do Trânsito, de formação para o uso do espaço público direcionada às crianças, com atividades sobre ciclomobilidade.
Maria Leticia apontou que as perguntas feitas pelas redes sociais serão direcionadas às autoridades que participaram da audiência pública e, depois, com as respostas, comporão um relatório que será disponibilizado pelos mandatos. Também participaram da atividade os vereadores Herivelto Oliveira (Cidadania), Mauro Bobato (Pode), Noemia Rocha (MDB) e Alexandre Leprevost (SD).
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