Política nas redes sociais é debatida em audiência na Câmara
O uso das redes sociais, como instrumento de mudança na sociedade e no processo político, foi debatido em audiência pública na tarde desta quinta-feira (29), na Câmara Municipal. A convite do vereador Cristiano Santos (PV), especialistas da área debateram como os novos meios de interação social influenciam o exercício da cidadania, a exemplo das manifestações ocorridas no Brasil, em junho de 2013. Durante a audiência, os participantes puderam apresentar questões que foram respondidas e comentadas durante as palestras.
Cristiano Santos deu destaque aos meios de comunicação como facilitadores do intercâmbio de informações e da interação social. Para o vereador, a sociedade apresenta hoje uma nova geração de eleitores. “Pela primeira vez, trouxemos este debate para o Legislativo. As redes sociais devem estabelecer o contato direto com o eleitor, como um espaço para receber críticas e sugestões”, pontuou.
Os vereadores Jonny Stica (PT), Pier Petruziello (PTB) e Valdemir Soares (PRB) também participaram do evento. Soares destacou o interesse dos internautas por aquilo que acontece na política. O parlamentar citou, como exemplo, as ferramentas de comunicação da Câmara Municipal, como a TV Online, Rádio Online, site oficial, Facebook e o Twitter.
“Entendo que o interesse nas redes sociais, por parte daqueles que participam da política, é a transparência, a vigilância e o humor. As pessoas são diferentes e isso fica claro através dos temas abordados nas redes. Quando falamos apenas de assuntos institucionais, o interesse é menor. Mas quando usamos o lado do humor, por exemplo, percebemos uma maior receptividade”, comparou Valdemir Soares.
Mundo sem intermediários
Para o professor e publicitário da UniBrasil, Ney Queiroz, a evolução dos meios de comunicação trouxe novas ferramentas para a interação, quando o cidadão deixa de ser apenas receptor, passando também a ser produtor de informações e conhecimentos. “Graças à tecnologia, temos cada vez mais um mundo sem intermediários, em que novos hábitos foram adquiridos pela sociedade. Precisamos repensar a mídia de massa, do seu monólogo, partindo para o envolvimento, em vez da separação”, considerou.
A possibilidade de debate aberto sobre a política pela internet foi comentada pelo jornalista e professor da Universidade Positivo, Felipe Harmata Marinho. Para ele, apesar dos meios de comunicação online terem a instantaneidade como vantagem, a credibilidade das informações e opiniões compartilhadas são discutíveis.
“Hoje estamos em um tempo de interseções, porque os espaços ainda são mistos, ou seja, existem as mídias tradicionais e as novas. Mas estas permitem registro sobre quase tudo, uma espécie de vigilância participativa. É uma atitude cidadã, em que as pessoas podem cobrar o cumprimento das leis ou exigir seus direitos enquanto consumidoras”, explicou Felipe Marinho.
O conceito de crowdsourcing foi apresentado pelo professor de marketing da Opet, Alceu Cruz, como sendo um modelo de produção que utiliza a inteligência e conhecimentos coletivos. “As pessoas contribuem para a criação de novos projetos. O resultado disso é uma participação maior dos cidadãos”, referindo-se a projetos sociais que podem receber a contribuição da população.
Comunicação pública
A comunicação em instituições públicas e suas peculiaridades foram citadas por Marcos Vinícius Giovanella, diretor de Internet e Mídias Sociais da secretaria municipal de Comunicação Social de Curitiba. Segundo Giovanella, a internet exige, em especial, a adequação da linguagem ao leitor. Conforme explicou, na comunicação da Prefeitura de Curitiba são realizadas pesquisas para conhecer o público eleitor da cidade e do público leitor das mídias oficiais.
“Tentamos usar a internet para a disseminação da informação. As notícias com linguagem jornalística formal estão disponíveis na área de comunicação institucional. Já nas redes sociais, dosamos a linguagem utilizada, prezando sempre pela proximidade com o leitor e a humanização das mensagens”, explicou o diretor.
De acordo com o professor de marketing da UniBrasil, Achiles Ferreira Junior, a construção da imagem do ator político é uma ação a longo prazo. Segundo o palestrante, as redes sociais são fundamentais no processo, mas que o maior erro é utilizá-las apenas nos períodos eleitorais.
“O político tem mudado sua postura por causa do eleitor, que também está se modificando. Por isso, não podemos esquecer o cenário político que será "comprado" pelo cidadão. Para causar proximidade com o internauta, o político precisa passar credibilidade”, acrescentou Ferreira Junior.
A liberdade permitida pela internet foi um dos temas destacados pelo professor do curso de Comunicação da PUCPR, Felipe Belão. O palestrante comentou a evolução da comunicação online e sua interferência na criação de perfis na rede. “O avatar é um perfil, mas não sua personalidade e do seu eu. É por isso que queremos um político que seja capaz de manifestar nossas opiniões, mas o que vemos são as manifestações dos avatares”, considerou.
O uso das informações disponíveis na rede, como ferramentas estratégicas para a política, foi defendido pela empresária na área de mídias sociais, Fernanda Musardo. O conceito de Big Data, apresentado por ela, diz respeito ao uso das inteligências através dos sistemas.
“Temos que nos preocupar em usar as informações já disponibilizadas na rede. Com tantas possibilidades de informações, como base da tomada de decisões, ainda existem muitos políticos se preocupando com coisas pequenas, como o número de "curtidas" na sua rede social”, dispara Fernanda Musardo.
Publicidade das gestões públicas
Durante o debate, o advogado Valter Carretas questionou o uso da publicidade das gestões públicas apresentar os dados e ações do Executivo, por exemplo, como “lindo e maravilhoso”, como se tivesse sido “feito para o cidadão”. Indagou ainda sobre a ética em relação a este tipo de publicação.
Sobre o assunto, o diretor da secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Curitiba, Marcos Vinicius Giovanella, revelou haver um “cuidado” com a possível ligação política com a publicidade oficial. “Procuramos não vincular o nome do prefeito ou da sua imagem a estas publicações”, assegurou.
A audiência pública contou com a participação de sessenta pessoas, entre estudantes, profissionais da área de comunicação e servidores da Câmara de Curitiba.
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