Plenário discute justificativas de deputados por impeachment

por Assessoria Comunicação publicado 20/04/2016 15h40, última modificação 06/10/2021 09h08

Os bordões como “por Deus” e “pela família”, teor de diversas justificativas dos votos dos deputados federais a favor da aprovação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, no último domingo (17), foram criticados por vereadores de Curitiba, na sessão desta quarta-feira (20). Também geraram polêmica as declarações de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), a favor do golpe militar de 1964 e do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi, órgão de repressão do 2º Exército, em São Paulo.

Na mesma linha dos pronunciamentos em plenário da última segunda-feira (18) sobre o processo de impeachment (leia mais), Jorge Bernardi (Rede) abriu o debate. Além de voltar a defender o posicionamento de seu partido, de que a solução é realizar novas eleições, por Dilma e o vice-presidente, Michel Temer, serem “a cara e a coroa da mesma moeda”, o vereador disse que “o que se viu no último final de semana foi algo deprimente”. “Os votos proferidos pelos deputados envergonharam a maioria da população brasileira. Infelizmente este é o nosso Parlamento”, avaliou.

Para Pier Petruzziello (PTB), a nação presenciou “um verdadeiro show de horror”. “É preciso ter um debate de alto nível. Conversar com as pessoas. Falta à classe política ouvir, precisamos escutar a população. Acho que esse Parlamento tem feito isso, trazido diferentes pessoas, segmentos, argumentos. Isso é importante porque foge do mico que vimos no domingo”, defendeu. O vereador, no entanto, criticou atitudes como a de Chicarelli (PSDC), que há cerca de um mês circula em plenário com duas bonecas em carrinhos de bebê, em protesto ao fechamento de turmas de berçário nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs).

“Isso vira um mico. Faz com que todos percamos o respeito perante a população”, completou Petruzziello. A comparação revoltou Chicarelli, que precisou ser contido por colegas e foi repreendido pelo presidente da Casa, Ailton Araújo (PSC), pelo teor das afirmações, feitas fora do microfone, enquanto o orador ainda estava na tribuna. “Vossa excelência está perturbando a ordem [da sessão]”, disse.

Petruzziello chegou a ameaçar processar Chicarelli, devido a uma declaração de que teria “defeito até no corpo”, em referência à amputação de seu antebraço esquerdo. “Um cara que ofende a deficiência física de uma pessoa vai ter que pagar por isso. Tenho grande orgulho de estar vivo e ser uma pessoa com deficiência. Não era esse o discurso que eu queria fazer, mas provou o que eu estava falando”, rebateu o vereador do PTB. Depois da polêmica, Chicarelli se retratou e foi desculpado por Petruzziello e pelo presidente.

Outros parlamentares se manifestaram, tanto sobre a votação do impeachment quanto pela confusão. Tito Zeglin (PDT) apontou “comentários desnecessários”. As “dedicatórias de votos à família e levianamente a Deus”, avaliou Pedro Paulo (PDT), foram “rechaçadas”. ”Cada um representa um segmento da sociedade e está aqui de forma democrática. Não é possível que tentemos resolver tudo na base do grito. Pense antes. Esta Casa tem que estar nas páginas políticas dando bons exemplos, e não por chacotas”, falou Helio Wirbiski (PPS). Sobre o convite para crianças do projeto Cidade Mirim, do Colégio Opet, visitarem a Câmara, Felipe Braga Côrtes (PSDB) acrescentou que fica “um pouco assustado se elas presenciarem algumas situações”.

Caso Bolsonaro
A Professora Josete (PT), Bruno Pessuti (PSD) e Jonny Stica (PDT) criticaram o posicionamento de Bolsonaro. Já o Professor Galdino (PSDB) defendeu o deputado federal: “Se o Lula e a Dilma, se eles podem idolatrar Fidel Castro, Bolsonaro pode idolatrar quem quer que seja. Até mesmo o Brilhante Ustra. Sou contra o patrulhamento ideológico, seja de direita ou de esquerda”.

“A sociedade brasileira tem que fazer uma reflexão se é contra intolerância, ódio, racismo, fascismo, homofobia, machismo. Qualquer vereador tem o direito de vir aqui a esta tribuna e fazer críticas, desde que o preconceito não seja o fio condutor”, argumentou Josete. Ela citou como exemplos negativos a declaração sobre a deficiência física de Petruzziello e o processo de injúria racial (leia mais).

“Houve excessos de todos os lados [em relação à atitude do deputado federal Jean Wyllys, do Psol-RJ, em direção a Bolsonaro], mas também analiso que o excesso de alguns é aceito com mais tranquilidade que o excesso de outros. Sou contra o cuspe, mas não vejo a mesma indignação quando o voto dele é em homenagem a um torturador. Esta Casa não pode reforçar posicionamentos preconceituosos e fascistas”, sustentou Josete.

“Quero parabenizar a Professora Josete pela fala”, saudou Bruno Pessuti, que disse estar “aliviado” por ter trocado o PSC pelo PSD, durante a janela partidária, por não estar no mesmo partido de Bolsonaro. Jonny Stica defendeu a responsabilização do deputado federal pela declaração: “Vejo aqui muita apologia do Professor Galdino, mas de acordo com o relatório da Comissão Nacional da Verdade, no período em que ele [Brilhante Ustra] chefiou o DOI-Codi foram registrados pelo menos 45 mortes e desaparecimentos forçados. É o fim dos tempos fazer apologia a isso, a um crime”.