Plano Diretor: "Paisagem urbana é qualidade de vida"

por Assessoria Comunicação publicado 04/09/2014 19h40, última modificação 27/09/2021 09h58

A Câmara Municipal debateu, na sexta audiência pública para a revisão do Plano Diretor (PD) de Curitiba, como aliar o planejamento da paisagem urbana, uso dos espaços públicos e acessibilidade à qualidade de vida da população. O evento foi realizado nesta quinta-feira (4), pela Comissão de Urbanismo, Obras Públicas e Tecnologias da Informação.

“A paisagem não se resume ao jardinismo. É o ecossistema urbano”, explicou a arquiteta e urbanista Letícia Hardt, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap). “Tudo que se reflete no espaço acaba sendo representado na paisagem. O uso de espaços públicos é fundamental para manter o sentimento de cidadania na população.”

Na palestra sobre a paisagem urbana, a presidente da Abap defendeu que o PD, instrumento para planejar o planejamento da cidade para os próximos dez anos, contemple temas como áreas de preservação permanente, arborização viária, capacidade de carga de espaços como o Parque Barigui, restauração de habitats de predadores de animais nocivos ao homem, despoluição visual, alternativas para aumentar a permeabilidade do solo e calçadas.

"Acho necessário reavaliar, sair da zona conforto. Muitas vezes, precisa implantar não só o espaço físico, mas convidar a população, ter atividades. Pensar em novos espaços, novos usos”, completou Letícia. O presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Sérgio Pires, também chamou a atenção para como se pode usufruir da paisagem urbana.

Medellín
“Unir vontade política e arquitetura traz resultados fenomenais”, destacou o arquiteto e urbanista colombiano Diego León Sierra Franco. Ele falou sobre o projeto de revitalização de Medellín, apontado como referência internacional. “Ainda há violência e narcotráfico, mas avançamos muito. Estamos no caminho”, declarou.

Franco apresentou iniciativas implantadas na cidade colombiana. Dentre elas, a urbanização de favelas, construção de espaços públicos e de lazer (como a recuperação de um lixão, hoje um parque) e a realização de concursos, com prêmios, para projetos voltados ao desenvolvimento de Medellín.

No item mobilidade urbana, o arquiteto defendeu a prioridade ao pedestre, primeiramente, e depois ao transporte coletivo. “O carro é um estorvo. Queremos soterrar as vias rápidas, que só acrescentam dióxido de carbono e outros resíduos. Onde hoje há ruas vamos fazer espaços públicos. Queremos a cidade para o pedestre", indicou o palestrante convidado.

“Temos que nos reinventar, e o Plano Diretor dá esta oportunidade. Medellín é exemplo em temas que não avançamos”, avaliou o presidente da Comissão de Urbanismo da Câmara Municipal, Jonny Stica (PT). “(A revitalização) prova que é perfeitamente possível a qualificação dos espaços públicos. Arquitetura constrói cidadania”, ponderou Jeferson Navolar, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR).

“A pessoa que mora em um ambiente degradado tem qualidade de vida degradada. Cabe a nós (Poder Público) mudar tal realidade”, afirmou Bruno Pessuti (PSC). Os vereadores Toninho da Farmácia (PP) e Pier Petruzziello (PTB) também acompanharam a audiência pública. A mesa dos trabalhos teve, ainda, o presidente da Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA), João Virmond Suplicy Neto.

Acessibilidade
A secretária municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Mirella Prosdócimo, palestrou sobre a acessibilidade. “É necessário que o Plano Diretor tenha estudos e estratégias para eliminar ou minimizar barreiras que causam situações de preconceito. A acessibilidade vai muito além do piso tátil. É claro que a cidade precisa de pontos de ônibus, orelhões, lixeiras e postes, mas as coisas têm que estar em seu devido lugar, para que não interrompam a passagem”, disse.

Ela destacou que a adaptação da cidade à pessoa com deficiência e mobilidade reduzida beneficia outros segmentos da população, como uma mãe com criança de colo. “Ao avançar na acessibilidade vamos promover o acesso à cultura, por exemplo. É uma ferramenta de transformação”, completou Mirella.

Debate
As considerações do público tiveram o debate de temas abordados nas palestras, a exemplo da importância da prioridade ao pedestre, da arborização viária e da realização de concursos. Também foram apresentadas outras contribuições, como a diferenciação dos projetos de edifícios e que o PD trate do monitoramento do perfil da população da cidade.

"A paisagem deveria ser o ponto central do Plano Diretor, e não um apêndice", opiniou o professor Alessandro Filla, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em uma das intervenções.

Grupo de estudos
Os tópicos discutidos nesta audiência pública e na anterior, sobre habitação, serão aprofundados no 3º Grupo de Estudos da Revisão do Plano Diretor. A atividade será no dia 13 de setembro (sábado), das 9h às 12h, na sede do CAU/PR (Av. Nossa Senhora da Luz, 2530).

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