Passagem de ônibus barata depende de mais subsídio, defende empresário
“A tarifa [social], quem faz é o município. A tarifa e a diferença do subsídio quem faz são vocês. Quanto maior o subsídio ao passageiro, menor é a tarifa para o passageiro”, disse Gulin Neto. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
“Valor da passagem, quem estabelece é a prefeitura. Quanto maior for o subsídio ao passageiro que ela for dar, menor é [o valor da] passagem”. A afirmação foi feita à Comissão Especial Para Discutir o Novo Contrato do Transporte Coletivo - Tarifa Zero pelo diretor da Auto Viação Redentor, Angelo Gulin Neto, em reunião técnica nesta terça-feira (30). Ele foi o segundo representante das empresas de ônibus a ser ouvido pelo colegiado especial, que tem 120 dias para elaborar um relatório que possa contribuir com a nova licitação do serviço público.
A agenda foi uma uma continuidade das reuniões técnicas iniciadas no começo deste mês. Instalada em abril, a comissão temporária ouviu o engenheiro Edilson Miranda, que apresentou uma proposta para a implantação da tarifa zero em Curitiba; o presidente da Urbs (Urbanização de Curitiba), Ogeny Maia Neto, que defendeu a implantação da “governança” a fim de reduzir os custos do sistema; e o diretor da Auto Viação São José, Dante Franceschi Filho, que argumentou pela manutenção do subsídio para custeio do sistema.
Vice-presidente do Setransp (Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba), Angelo Gulin Neto está à frente da Viação Redentor, uma das três empresas que compõem o Consórcio Transbus, que detém a concessão do lote 2 do serviço público. Segundo o convidado, a Redentor é responsável por 70% da operação do consórcio. Assim como o diretor da Viação São José, na última reunião do colegiado, ele foi sabatinado pelos vereadores sobre a operação do sistema, sobre os custos da tarifa e sobre as alternativas para redução do valor da passagem de ônibus.
“Temos as linhas, tabelas, veículos, todos determinados pelo órgão gestor [Urbs]. Esse órgão já dá o custo para nós do sistema. A partir do momento em que ele dá o caderninho para a gente e fala ‘cumpra’, ele sabe o quanto está mandando a gente fazer e o quanto a gente está mandando [de recursos] para gastar por aquilo. A grande discussão nossa nunca foi a tarifa. A grande discussão é ‘o custo que vocês estabeleceram pelo sistema que precisa ser cumprido’. Se ele custa R$ 30, R$ 40, R$ 50, R$ 60, R$ 70, R$ 80, R$ 90 milhões, são vocês que estabelecem este custo. E nós queremos receber o custo que vocês estabeleceram pelo sistema”, disse Gulin Neto, ao ser questionado por Rodrigo Reis (União), sobre o motivo de Curitiba ter uma passagem “tão cara”, mesmo oferecendo um serviço de qualidade.
Presente na reunião, assim como na última realizada pela Comissão Especial do Transporte, quando o diretor da Viação São José foi ouvido, Luiz Alberto Lenz César, diretor executivo da Setransp, argumentou que a tarifa social vai variar conforme quanto cada município se “predispõe a colocar em subsídio” no seu sistema de transporte público. Ele também alertou que não adianta “colocar uma tarifa zero”, porque ela levará mais pessoas para os ônibus, o que vai demandar mais investimentos, e, se não houver recursos para investir em mais linhas e mais veículos, uma hora “chegará o ponto em que vai ser necessário aumentar a tarifa”.
“A tarifa [social], quem faz é o município. A tarifa e a diferença do subsídio, quem faz são vocês. Quanto maior o subsídio ao passageiro, menor é a tarifa para o passageiro [social]”, emendou o diretor da Viação Redentor. Ao ouvir exemplos de São Paulo (SP) e de Araucária (PR), cujas passagens de ônibus pagas pelos usuários são mais baratas que a de Curitiba, ele respondeu que isto ocorre porque o subsídio aportado por cada município é maior – resguardando-se os respectivos orçamentos e tamanho do sistema do transporte coletivo de cada cidade.
Indagado por Giorgia Prates – Mandata Preta (PT) se as empresas de ônibus procuraram a Prefeitura de Curitiba para tentar uma redução do custo da passagem para o usuário, o vice-presidente da Setransp voltou a enfatizar que a tarifa técnica é calculada pela Urbs e que não há espaço para reduzi-la. “Não existe outro mecanismo de baratear a tarifa neste momento, de imediato. A única maneira é aumentar o subsídio. Se [a prefeitura] pagar R$ 2,20 ao passageiro, a tarifa vai ser R$ 5,00. Se a pagar R$ 3,20 ao passageiro, a tarifa vai ser R$ 4,00. Simplesmente é assim que funciona.”
Mais investimentos
“O único divisor para melhorar o custo do sistema é o passageiro”, completou Angelo Gulin Neto, ao argumentar que a tarifa só será menor com mais pessoas circulando nos ônibus da cidade. Para trazer mais pessoas para o transporte coletivo, continuou ele, ao responder o presidente do colegiado, Herivelto Oliveira (Cidadania), é preciso melhorar o sistema viário da capital, com a ampliação do número de vias exclusivas, e o fim dos “gargalos viários que travam os ônibus, principalmente nas pontas dos bairros”.
“O pessoal acha que é inseguro o sistema de transporte. [Pede] mais velocidade [de deslocamento para pegar o ônibus no ponto/estação tubo]. Não adianta ter o melhor veículo do mundo se o ponto está caindo. […] O percurso do transporte não é simplesmente a viagem de ônibus”, afirmou o diretor da Viação Redentor ao vereador Jornalista Márcio Barros (PSD). Para ele, é preciso um sistema mais rápido. “A pessoa, a partir do momento que ela entra num biarticulado, num expresso, ela tá tranquila, ela sabe que vai ter velocidade, que vai chegar [no trabalho, em casa]. Mas ela precisa chegar até aquele momento. E esse primeiro elo de ligação é algo que precisa ser melhorado dentro do transporte.”
A Comissão do Transporte
Formada por oito parlamentares, a Comissão Especial do Transporte foi criada a partir da iniciativa de Herivelto Oliveira, eleito presidente do colegiado. Serginho do Posto (União) foi escolhido vice-presidente. A relatoria está com Bruno Pessuti (Pode) e a vice-relatoria com Dalton Borba (PDT). Também são membros os vereadores Giorgia Prates – Mandata Preta, Jornalista Márcio Barros, Professor Euler (MDB) e Rodrigo Reis.
A partir das entrevistas, reuniões e visitas técnicas, o colegiado pretende reunir elementos técnicos que possam ajudar na elaboração da futura licitação do transporte coletivo de Curitiba. A atual concessão do serviço público vence em 2025. O grupo tem o prazo de 120 dias para elaborar um relatório.
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