Parquinho infantil: audiência pública na Câmara reúne ideias para Curitiba
A audiência pública sobre os parquinhos infantis durou cerca de três horas. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Depois de receberem demandas da população sobre os parquinhos infantis de Curitiba e de conhecerem o perfil de Dâmaris Thomazini no Instagram, onde ela já avaliou 24 desses espaços públicos, com críticas às instalações, os vereadores Marcos Vieira (PDT) e Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) realizaram uma audiência pública sobre o tema. Nesta sexta-feira (27), eles reuniram, na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), mães, representantes da sociedade civil e do Executivo para fazer um diagnóstico e coletar sugestões para melhorar os parquinhos infantis.
“Vamos somar forças para transformar a cidade. Queremos novas propostas para os parquinhos públicos, nos parques e praças, mas também para os dentro dos CMEIs [Centros Municipais de Educação Infantil] e escolas de Curitiba”, disse Marcos Vieira, ao final da atividade, que durou cerca de três horas. A vereadora Giorgia Prates defendeu que as crianças devem ser vistas como sujeitos de direitos e que “elas merecem espaços públicos que as incentivem a explorar e a aprender com o ambiente”. Os convidados da sociedade civil compartilharam da mesma reunião.
Escorrega, trepa-trepa e gangorra: mães pedem modernização dos parquinhos
“É a quinta vez que venho à Câmara neste ano”, começou dizendo Dâmaris Thomazini, que faz avaliações dos parquinhos infantis em seu perfil no instagram. “Após me tornar mãe, comecei a observar com mais atenção os espaços públicos destinados às infâncias em Curitiba. Vi nos parquinhos um descaso de décadas. A cidade que se diz inovadora tem oferecido às crianças brinquedos de metal que esquentam sob o sol, ferrugem, parafusos expostos, espaços sem cerca perto do trânsito e estruturas sem acessibilidade”, enumerou a convidada pelos vereadores para a audiência.
À frente do Projeto LIA - que é um acrônimo para Lazer, Inclusão e Acessibilidade -, Shirley Ordônio contou sua experiência como mãe de uma criança com paralisia cerebral e que é cadeirante, cuja primeira vocalização foi brincando em um parquinho público, num balanço improvisado por ela e pelo marido. “Foi ali que nasceu o Projeto LIA, que hoje é um movimento nacional pela inclusão”, relatou, após exibir vídeos de parquinhos inclusivos pelo país, incentivados pela sua atuação social. Ela destacou a importância da conscientização sobre esses equipamentos, “porque já vi [crianças] usando balanço para criança cadeirante como barco viking”.
Para Letícia Costa, integrante do Coletivo Mães Pretas, é preciso levar a luta antirracista para os espaços infantis, além da modernização dos parquinhos infantis. “Isso é uma tarefa dos pais, mães e cuidadores, para eles conversarem com seus filhos que é preciso ter respeito”. Cadeirante, a coordenadora do Fórum da Pessoa com Deficiência de Curitiba, Francisca Curi, usou a si própria como exemplo, ao dizer que “se eu, que sou uma pessoa com deficiência, não posso sair na rua, a culpa não é minha, a culpa é da cidade”. “A inclusão das crianças não é um favor, é um direito”, concordou Cristiane Stoeberl, da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-PR.
“Não existe nenhuma cidade 100% acessível no mundo, mas temos belos exemplos, boas práticas fáceis de fazer”, defendeu Francisca Curi, trazendo para a audiência o conceito de equidade, segundo o qual pessoas diferentes têm necessidades diferentes e precisam de soluções diferentes para terem oportunidades iguais. Neste raciocínio, o atual presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comtiba), Renan Gustavo Ferreira, citou como exemplos de inclusão cidades na Europa e Posadas, na Argentina, onde “a presença das crianças é visível”.
Vandalismo e recursos limitados foram parte do diagnóstico dos parquinhos
Curitiba conta hoje com 1.175 áreas de lazer sob coordenação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, contando parques (29), praças (443), jardinetes (449), largos (60), núcleos ambientais (29), eixos de animação (21), bosques (17), bosques BCBU (9), RPPNM (60), jardins ambientais (2) e jardim botânico (1). Para o diretor de Parque e Praças da SMMA, Giovando Romanini, “a Prefeitura de Curitiba não está parada”. Ele confirmou um parquinho acessível na praça Oswaldo Cruz e a renovação de mais 18 equipamentos a partir de 2024.
Presente do começo ao fim da audiência, a vereadora Indiara Barbosa (Novo) cobrou mais recursos para a modernização dos parquinhos, apontando que a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2024 prevê apenas R$ 2,7 milhões para obras nos parques e praças da cidade. A realidade orçamentária foi confirmada por Romanini, da SMMA, que preferiu esperar o fim da etapa de definição das emendas parlamentares para cravar um valor, destacando que os vereadores, tradicionalmente, apoiam bastante a renovação dos equipamentos públicos da cidade. “Um problema [da cidade] é que o vandalismo dificulta a manutenção”, alertou.
Já Sandra Mara Piotto, à frente da Coordenadoria de Equidade, Famílias e Rede de Proteção da Secretaria Municipal de Educação (SME), apontou que, nas 185 escolas e 233 CMEIs, a inclusão está em um estado mais adiantado. “Neste equipamentos, além dos parquinhos, temos espaços do brincar, que vão muito além do trepa-trepa, do escorregador e da gangorra. Levamos nossos estudantes para brincar nos espaços da cidade. Nos nossos equipamentos, temos diferentes tipos, de acordo com a idade das crianças”, defendeu.
Com o auditório lotado, houve mais de dez participações do público, além das falas dos convidados que compuseram a mesa da audiência pública. O vereador Dalton Borba (PDT) participou da atividade, assim como as assessorias de Nori Seto (PP) e Herivelto Oliveira (Cidadania).
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba