Para evitar confronto, motoristas de táxi e de Uber são isolados

por Assessoria Comunicação publicado 06/06/2016 14h50, última modificação 07/10/2021 08h25

Diferentemente da outra vez em que o encontro entre motoristas de táxi e de Uber terminou com empurra-empurra nas galerias do Palácio Rio Branco (leia mais), nesta segunda-feira (6), a direção do Legislativo decidiu isolar os dois grupos. Cerca de 60 pessoas acompanharam em plenário a votação que manteve hoje o veto parcial do Executivo às alterações na lei municipal 13.957/2012 (leia mais).

O clima esquentou algumas vezes, quando vereadores favoráveis ao veto subiram à tribuna. “Fui eleito por voto popular e ninguém vai cercear minha palavra”, protestou Jonny Stica (PDT). “Não tenho medo de nenhum tipo de ameaça”, acrescentou Pier Petruzziello (PTB), que reclamou de ser xingado por um taxista presente nas galerias. No entendimento de Jairo Marcelino (PSD) e Chico do Uberaba (PMN), autores da multa ao transporte irregular, a manutenção do veto era “contra os táxis”.

“Alguns vereadores vêm aqui jogar de um jeito maldoso, fazer carnaval fora de época. Não podemos tornar este assunto uma guerra. Não é no berro, no grito [que se vai resolver]. Espero que vocês nos ajudem a fazer esse debate da melhor forma possível”, pediu Pedro Paulo (PDT) àqueles que acompanhavam o debate. Críticas à violência foram frequentes nos discursos dos parlamentares.

Na presidência da sessão, Felipe Braga Côrtes (PSD) pediu algumas vezes que o público não se manifestasse, em respeito ao Regimento Interno da Casa. Ele ameaçou interromper a sessão. Os motoristas do Uber deixaram o plenário antes dos taxistas, sob gritos de “guerra civil” e “piratas”. Antes, os “uberistas” tinham aplaudido efusivamente a manutenção do veto. A Comunicação do Legislativo ouviu os dois lados da questão nesta segunda-feira.

Taxistas
Para Wilson Lopes, o “Maninho”, membro do Conselho Fiscal do Sinditáxi-PR (Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná), falta apoio à classe profissional em Curitiba “no combate aos clandestinos”. “[Desde que o Uber começou a funcionar] o movimento caiu bastante. Tem pai de família com prestação do táxi atrasada, sem conseguir pagar a outorga para a Urbs e prestes a perder o selo”, alertou.

“A crise afetou o movimento, mas uns 30% da queda, que é de quase metade da procura, é da pirataria”, criticou Fábio Taborda, da União dos Taxistas de Curitiba (UTC). “E isso não é invenção dos taxistas. De seis em seis meses a Urbs pega esses dados e sabe exatamente quantas bandeiradas, quantos quilômetros foram rodados. É só conferir”, reclamou. “Mesmo com a manutenção do veto, a multa pode ser aplicada e vamos cobrar isso”, disse. Taborda reclamou do sigilo em torno da operação do Uber. “Ninguém sabe quantos carros operam na cidade. Temos uma lista com uns 500”, adiantou.

Taxista há 15 anos, Erasto Ribas veio acompanhar a votação com o filho pequeno. Ele confirmou a queda no movimento, “de uns 50%”, e fez várias críticas ao serviço clandestino de transporte de passageiros. “Você consegue imaginar alguém dando carona 12 horas por dia? A mentira já começa aí”, atacou. Ele criticou a ausência de controle social sobre a “tarifa dinâmica”, o fato de parte do dinheiro ir para uma empresa estrangeira, o não recolhimento de impostos e o Uber não se submeter aos órgãos técnicos de vistoria. “Curitiba não precisa disso”, defendeu.

“Uberistas”
Robson Santos tem 38 anos de idade e é motorista do Uber há dois meses. Ele viu na manutenção do veto um caminho para a regulamentação do serviço em Curitiba. “Alguns vereadores ainda estão em dúvida, mas a cidade de São Paulo, que tem o Uber há mais tempo, regularizou”, disse. “Eles dizem que nós somos clandestinos, que estamos fora da lei, mas uma lei federal autoriza o funcionamento da empresa”, defendeu.

“E a regulamentação em São Paulo não atingiu os motoristas do Uber”, explicou Jorge Girardi, 24 anos. “Lá a empresa reduziu a sua margem para assimilar as taxas e ficou igual para quem dirige”, garantiu. “A gente espera que Curitiba possa ser uma cidade modelo também na regulamentação do nosso trabalho”, disse o jovem. A opinião é semelhante à de Felipe Teotônio, 23 anos, que também dirige para o Uber.

“Os taxistas não são lesados pelo Uber, mas pelas condições de trabalho. A gente quer competir, quer que os taxistas paguem menos taxas também. Alguns pagam R$ 150 por dia, enquanto uma locadora de veículos cobra diária de R$ 38 [para os motoristas do Uber]”, declarou Teotônio. Depois que os “uberistas” saíram do plenário, por alguns minutos a sessão permaneceu suspensa enquanto taxistas gritavam reclamações aos vereadores.