Para empresários, Curitiba deveria apoiar retomada de eventos
“Curitiba é uma das poucas cidades que não realiza eventos para mais de 300 pessoas”. “A partir da semana que vem, São Paulo tem evento para 1.700 pessoas”. “A gente precisa que a Secretaria de Saúde reconheça que precisamos avançar mais rápido”. “A gente não deve mais falar em evento-teste, agora tem que trabalhar de verdade”. “Estamos preparados e com consciência”. “Nós conhecemos e sabemos aplicar os protocolos”. “O que a gente pede é bom senso e agilidade”. Essas são todas falas dos empresários do setor de eventos, nesta sexta-feira (13), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC).
Representantes de todos os segmentos participaram de audiência pública (407.00025.2021) promovida por Flávia Francischini (PSL), Alexandre Leprevost (SD) e Leônidas Dias (SD), que foi transmitida ao vivo pelo YouTube. Em quase três horas, eles expuseram os percalços do setor mais atingido pela pandemia do novo coronavírus (leia mais), e foram ouvidos pelo Instituto Municipal de Turismo e pela Secretaria Municipal de Urbanismo. Mostraram-se animados com o avanço da imunização e alertaram que a demora em autorizar o setor a reabrir implica em evasão de eventos e ameaça tirar Curitiba da rota do turismo de negócios.
“Embora o último decreto tenha flexibilizado as medidas restritivas, ainda assim o cenário é de muita dificuldade para o setor, que há mais de um ano encontra-se paralisado”, contextualizou Flávia Francischini, à frente da audiência, com a ajuda de Alexandre Leprevost. “Precisamos andar para a frente. Devemos focar na união do setor com o poder público. É o momento de voltarmos de forma gradativa. O setor precisa estabelecer procedimentos para voltar a trabalhar o mais rápido possível, sempre com responsabilidade e segurança”, acrescentou o parlamentar.
A audiência contou com a presença dos vereadores Professor Euler (PSD), Mauro Bobato (Pode), Denian Couto (Pode), Indiara Barbosa (Novo), Jornalista Márcio Barros (PSD), Pier Petruzziello (PTB), Noemia Rocha (MDB), Sidnei Toaldo (Patriota) e Herivelto Oliveira (Cidadania), totalizando onze parlamentares participando da audiência pública. Diversas proposições tramitam na CMC abordam a retomada dos eventos. Flávia Francischini sugere um protocolo básico para as atividades (005.00139.2021), Petruzziello tem iniciativa semelhante (005.00197.2021) enquanto Dalton Borba (PDT) e Mauro Ignácio (DEM) sugerem tipos de “passaporte da imunidade” – 005.00166.2021 e 203.00153.2021, respectivamente).
Realização de eventos-teste
“Não tivemos nenhuma linha negativa [na imprensa]”, garantiu Vaniza Schuler, consultora de eventos que organizou atividades-teste no estado do Rio Grande do Sul, “um dos mais rígidos [com o controle da pandemia] no Brasil”. “O primeiro evento-teste foi uma feira de negócios em Bento Gonçalves, depois formatura, casamento, show. Fizemos congresso na capital [Porto Alegre]! Não podemos ser julgados por eventos que não seguem protocolos. Com protocolos, dá para fazer qualquer evento. E tivemos representantes do governo em todos. Assim, conseguimos autorização até para mega eventos, com 1.700 pessoas simultaneamente. Nossos protocolos foram mais rígidos que dos hospitais”, disse Schuler.
“Tínhamos que provar que nós éramos muito mais eficazes no controle da pandemia. Lamento que os eventos não foram explorados na sua altíssima capacidade de serem uma ferramenta de educação de protocolos. Nós podemos ser a ferramenta de educação, diferente de um espaço público. Dentro de um evento [privado], a partir do momento que a pessoa concorda com a regra que nós estamos criando, eu tenho, sim, o direito de exigir [o uso da máscara, por exemplo]. Num evento que eu seja a coordenadora, vocês não verão ninguém sem máscara”, comentou Vaniza Schuler, por videoconferência.
Para o produtor de shows Mac Lovio Solec, da Prime, contudo, é preciso aprender com essas experiências, mas teria passado da hora de organizar eventos-teste em Curitiba. “A gente não deve mais falar em evento-teste, agora tem que trabalhar de verdade. Que os governos, estadual e municipais, nos deem condições de trabalhar. Olhar para a frente, neste momento, não é evento-teste. É vacina. Não adiantaria nada boa vontade [do setor de eventos e da prefeitura], se a vacinação não tivesse andado, pois não teríamos os números positivos. Temos que evoluir o decreto municipal, sem retroceder”, afirmou.
Marcelo Franco, do Centro de Eventos Positivo, deu um exemplo prático. Eles têm, para outubro, um pedido para organizar um congresso, com 1,2 mil dentistas, “todos vacinados”. “Esse turista de negócios traz o dobro de dinheiro para a cidade que o turista normal, segundo estudos da Embratur. Estamos aguardando uma posição da prefeitura”, declarou, pois seria realizado num espaço com capacidade para 10 mil pessoas, logo ocupando cerca de 10% da lotação. “O que estamos pedindo é uma avaliação que considere os diferentes perfis de evento. Curitiba precisa ser colocada de volta no mercado”.
Ambas as falas ecoam no defendido por Gislaine Queiroz, da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc/PR), e por Paulo Peretti Iglesias, presidente do Curitiba e Região Convention and Visitors Bureau (CCVB). “Com o atraso em liberar os eventos, Curitiba é uma das poucas cidades que não realiza eventos acima de 300 pessoas. Em São Paulo, está liberado 80% da capacidade dos centros de eventos. Foz, até 1 mil pessoas. Além de não fazer os eventos, quem realizará os congressos para frente, em outros anos, busca outras cidades, pois não tem segurança em [escolher] Curitiba, pois nós ainda temos essa dificuldade. Perdemos eventos e estão sendo marcados para outras cidades”, disse Iglesias.
Gislaine Queiroz defendeu que Curitiba crie um HUB de empresários do setor, que tenham fechado seus escritórios por causa da pandemia, “reunindo fornecedores e dando oportunidade para se ter uma referência para a cidade”. Ela também colocou que a Abeoc apoia a redução do ISS da hotelaria de 5% para 2%. Iglesias levantou a necessidade de um Fundo Municipal de Turismo e da divulgação de Curitiba pelo país. “Além da liberação, para colocar de novo Curitiba na rota dos organizadores, precisamos, da prefeitura, de material de divulgação da cidade”, pediu o presidente do CCVB.
“Capacidade de realização”
“Os empresários não vão colocar a cabeça a prêmio, se podem realizar com segurança. Protocolos foram criados, com o Sebrae, para a retomada dos eventos. Estamos preparados e com consciência”, defendeu o diretor de eventos da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), José Karam. “Não somos menos responsáveis, ou menos competentes, que os outros setores da economia que também geram aglomeração. Mas fomos tratados de forma diferente. Passou o tempo e o setor foi desmontado”, colocou Júlio César Hezel, da Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos). Os dois alertaram que há uma evasão de eventos de Curitiba para outras cidades. “Os casamentos estão indo para Santa Catarina, Bahia, outros estados”, disse Hezel.
“O nosso segmento se sacrificou desde o início. Tínhamos a noção que seríamos os primeiros a parar e os últimos a voltar. Que agora possamos ser mais enérgicos e que o setor público possa ajudar, para retornarmos o quanto antes. Eventos-teste deviam ser feitos 5, 6 meses atrás. Acreditamos que em dois meses tenhamos a maior parte da população já vacinada com a segunda dose e que, em cima disso, haja protocolos menos rígidos. Pois desde o início, tivemos os protocolos mais severos”, contribuiu Glaucio Monjolo, empresário do setor de eventos.
Nessa linha, Zuki Dallagnol, do Grupo Polyndia, de Formaturas, questionou as restrições impostas em Curitiba. “Quando partimos da premissa que temos condições de operar para 300, os protocolos para 600 ou 1 mil é igual. Ou eu vou para uma cidade conurbada, onde há outro protocolo?”, indagou. Para Isis Zaitter, empresária de buffet infantil, também foi a vacinação permitiu a retomada. “Por que o nosso setor foi tão prejudicado, se não somos nem mais, nem menos que ninguém? Não adianta criar emprego, se não mantém os já existentes. Não vou colocar a minha vida em risco, a vida da minha equipe em risco”, afirmou, apoiando a reabertura, com protocolos, dos espaços.
“O auxílio para o setor não está chegando, mesmo que haja lei resguardando”, alertou Paulo Pinheiro, empresário de eventos sociais, que relatou ter buscado linhas de crédito em bancos públicos e órgãos de fomento, mas que exigiram dele faturamento em 2020 – o ano em que a pandemia impediu as atividades do segmento inteiro. “O incentivo não está chegando na ponta. Precisamos de dinheiro”, disse. Por último, Fabio Aguayo, da Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), somou ser necessário “normalizar as fiscalizações, para que não achem pêlo em ovo, para que a arrecadação não vá para o pagamento de multas”.
Novo sistema de licenciamento
“Íamos lançar um sistema novo em março [de 2020] e fomos pegos de supetão [pela pandemia] e tivermos que parar todos esse procedimento. Aguardamos a retomada do setor para pôr em prática o novo sistema de licenciamento de eventos”, anunciou Mara Lúcia Ferreira, da superintendência de Projetos da Secretaria Municipal de Urbanismo. “A minha parte é a mais difícil de todas, que é licenciar eventos. A gente continua acompanhando todo o debate e levando tudo que é demandado ao secretário [Júlio Mazza]”, garantiu.
Também no Urbanismo, Patrícia de Morais Monteiro, do Departamento de Controle e de Uso do Solo da Secretaria Municipal de Urbanismo, afirmou que “quando a cidade retomar [as atividades], todos os esforços estarão unidos para que os licenciamentos aconteçam e possa reativar a área de eventos”. Elas falaram no início, após a fala de Tatiana Turra, presidente do Instituto Municipal do Turismo, que abriu a audiência pública. Ela destacou a maré de crescimento do setor antes de 2020. “Em 2019, nós superamos a marca de 7,2 milhões de visitantes na cidade, sendo que 36% vieram para negócios e eventos”, disse.
“A gente vê a consolidação de Curitiba como destino para negócios e eventos, com a cidade sendo a terceira mais visitada do Brasil por estrangeiros [com esse objetivo]. Hoje, o segmento de lazer é a motivação de 20% dos turistas que nos visitam – um crescimento de 100% se comparado há oito anos. Em 2017, desenvolvemos uma matriz de eventos, mapeando todos os espaços. Tivemos o apoio da CMC, liderada pelo vereador Pier, para a redução do ISS para o setor de eventos, de 5% para 2%. Demos o primeiro passo para viabilizar o uso dos espaços públicos para eventos [privados]”, enumerou a presidente do Instituto Municipal de Turismo.
“No ano passado, no dia 13 de março [de 2020], realizamos uma reunião do Conselho Municipal de Turismo, e mudamos a pauta para covid-19. Ainda desconhecíamos muito do processo, era um ano eleitoral, com dificuldades. Mas as coisas foram caminhando e, em agosto, a Câmara aprovou o Plano de Retomada Econômica da cidade e contemplou pontos demandados [naquela reunião com o setor em março], como a redução de impostos e o Fundo de Aval”, rememorou Tatiana Turra destacou a criação de um programa de capacitação gerencial do Sebrae, em meio a crise, “com mil empresas atendidas”.
“Em janeiro [deste ano, 2021], contratamos uma consultoria, com o setor, para a elaboração dos novos procedimentos [que permitisse a retomada do setor de eventos]. Quando estava prestes a ser entregue, veio a bandeira vermelha [em maio, restringindo as atividades para conter o espalhamento da covid-19]. Daí, em junho, retomamos com a Saúde e foi quando foram feitas as reuniões setoriais. A primeira, com os eventos sociais. Depois, os eventos técnico-científicos e, por último, os culturais. Seguimos à disposição para o debate”, garantiu Turra. Ao final da audiência, Flávia Francischi pediu que os empresários avaliem os projetos em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba, e façam sugestões para melhorá-los.
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