Palco Tatára tem apoio da Câmara; escultura no zoológico é questionada
Indiara Barbosa e Pier Petruzziello têm opiniões divergentes sobre a estátua da girafa Pandinha. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
Nesta quarta-feira (30), os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovaram seis indicações ao Executivo, com sugestões para a administração pública da capital do Paraná. As duas proposições mais discutidas foram o apoio do Legislativo a homenagear postumamente o agente cultural João Gilberto Tatára, dando seu nome ao palco da praça da Espanha (205.00102.2022), e o pedido para que a Prefeitura de Curitiba reavalie a aquisição, com dispensa de licitação, pelo preço de R$ 100 mil, de uma escultura da girafa Pandinha para o zoológico da cidade (205.00100.2022).
“Não vimos nenhuma homenagem a esse representante da cultura curitibana desde a sua morte. Eu conheci o Tatára, frequentei os seus dois estabelecimentos, no Bigorrilho e no Água Verde, e digo que ele deu uma valiosa contribuição à cultura de Curitiba”, defendeu Alexandre Leprevost (Solidariedade). Ícone da cultura underground da cidade, Tatára faleceu aos 74 anos de idade, tendo deixado livros e centenas de canções. “Tatára foi uma figura folclórica, cuja homenagem é de fácil aplicação pela prefeitura”, defendeu.
Nori Seto (PP) destacou que Tatára foi “uma das principais referências da música autoral em Curitiba e do incentivo aos artistas locais, pelos festivais que promovia”. “Ele ajudou a difundir a música na capital”, reforçou Serginho do Posto (DEM), destacando que a cidade ainda não o homenageou da forma que deveria pela sua relevância para a cena cultural da cidade. Aprovada em votação simbólica, a sugestão será enviada oficialmente pela Câmara à Prefeitura de Curitiba.
Girafa Pandinha
Bastante debatida em plenário, a sugestão de Indiara Barbosa (Novo) para que a Prefeitura de Curitiba reveja a necessidade de gastar R$ 100 mil com a aquisição de uma estátua da girafa Pandinha foi acatada pela Câmara de Vereadores. Uma das principais atrações do zoológico da cidade, a girafa Pandinha era conhecida por ser “a mais velha do Brasil”, tendo 33 anos quando faleceu (saiba mais). Pier Petruzziello (PP) defendeu o investimento no parque, enquanto outros vereadores questionaram a necessidade da despesa.
“Eu questiono se é importante esse gasto e nesse valor. Nós pesquisamos e uma girafa custa de R$ 30 mil a R$ 50 mil. A estátua vai gastar mais que se fosse comprar um animal vivo”, comparou Indiara Barbosa. “Os gastos têm que ser feitos de acordo com as necessidades da população. Será que essa é a prioridade? O Brasil é um país pobre e precisa ter muita responsabilidade com os seus gastos. Não seria melhor aplicado na saúde, na segurança?”, perguntou a vereadora. Ela criticou a realização da aquisição por inexigibilidade de licitação, sugerindo que fosse aberto um edital para os artistas da cidade concorrerem.
“Quando a preocupação está nos R$ 100 mil da girafa é sinal que o governo caminha para o sucesso. Quando a preocupação é o palito no banquete, isso me deixa feliz. É um governo que tem mais de 70% de aprovação em Curitiba”, rebateu Pier Petruzziello, líder do governo na CMC. “A girafa Pandinha nasceu no Zoo de Curitiba e morreu com 33 anos de idade, tornando-se a mais velha do Brasil e a quarta mais velha do mundo. Durante muito tempo foi o animal mais visitado do parque, gerando turismo, empregos e renda. O óbito da Pandinha repercutiu na mídia e a comunidade pediu homenagens a ela”, justificou.
“A escultura é um tributo à vida dela, que em grande parte corresponde à existência do zoológico, que completou 40 anos neste mês. A escultura permitirá a interação com os visitantes e será utilizada nas atividades de educação ambiental desenvolvidas com as crianças em idade escolar. Quem é contra investir R$ 100 mil em arte quando o orçamento de Curitiba é de quase R$ 10 bilhões? Nenhum investimento em arte é desperdício. Eu estou vendo como investimento no parque, capaz de incentivar a visitação”, acrescentou Petruzziello, para quem “a Pandinha é o que sobrou para falarem”.
“Pode ser um valor pequeno ante o total do orçamento, mas para alguns setores seria algo que ajudaria muito. Imagine que diferença não faz R$ 100 mil no orçamento de uma escola”, respondeu Professor Euler (PSD). “É necessária essa contestação, até porque não são só os R$ 100 mil da girafa Pandinha”, criticou o parlamentar, que também questionou a existência do zoológico. “É inaceitável pensar que a estátua da girafa gera educação ambiental, quando a educação ambiental seria não ter zoológico. Todo animal submetido à visitação pública enfrenta níveis de estresse aos quais não deveria estar submetido. A prefeitura deveria pensar, a longo prazo, em extinguir o zoológico ou transformá-lo em santuário”, disse.
“Precisamos superar a cultura dos monumentos, que ‘embelezam’ a cidade, mas que tiram recursos de outras áreas. Eu tenho visitado escolas e digo que preferia ver esses R$ 100 mil em reformas e convido o vereador Pier a ir comigo [conhecer os problemas estruturais das unidades]”, rebateu a Professora Josete (PT). “Cabe ao Estado homenagear a girafa Pandinha? Queremos que o Estado cuide do básico, da Saúde, da Educação. Por que a gente não submete os parques e praças em parcerias público-privadas?”, disse Amália Tortato (Novo), dentro do debate.
Na mesma sessão, os vereadores apoiaram o pedido de Tico Kuzma (Pros) para que o evento de adoção Amigo Bicho volte a ser realizado presencialmente, no parque Barigui (205.00105.2022), e a requisição de Maria Leticia (PV), para que todos os portões do Passeio Público sejam abertos à população, conforme pedido dos feirantes e ciclistas que utilizam o espaço (205.00103.2022). Também a sugestão de reforço da presença da Guarda Municipal da praça da Espanha aos finais de semana (205.00101.2022), de Leprevost, e a aquisição de brinquedos inclusivos para crianças com deficiência para o parquinho da Escola Municipal Mirazinha Braga (205.00104.2022).
Apesar de não serem impositivos, os requerimentos e as indicações aprovados na CMC são uma das principais formas de pressão do Legislativo sobre a Prefeitura de Curitiba, pois são manifestações oficiais dos representantes eleitos pela população para representá-los e são submetidos ao plenário, que tem poder para recusá-los ou endossá-los. Por se tratar de votação simbólica, não há relação nominal de quem apoiou, ou não, a medida – a não ser os registros verbais durante o debate.
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