Os Manuscritos: 1965 mudou o caminho de N. Sra. do Perpétuo Socorro

por Assessoria Comunicação publicado 10/01/2019 08h15, última modificação 03/11/2021 11h11

Quem estava acostumado desde 1960 às movimentadas novenas das quartas-feiras que abarrotavam a pequena capela Nossa Senhora da Glória, na rua João Gualberto, em 1965 viu suas preces por mudança de ares serem atendidas. O novo caminho, a apenas algumas quadras dali, levou a um espaço maior para comportar os devotos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Praça Portugal. “Trata-se da construção de um moderno templo católico”, escreveu o então prefeito Ivo Arzua na mensagem, de 17 de novembro daquele ano, aos vereadores, para que aprovassem o projeto de lei do Executivo que concederia permissão de uso do espaço na praça à Congregação Missionária do Santíssimo Redentor. Para justificar, Arzua descreveu aos parlamentares:

“Às quartas-feiras, quando se sucedem as missas durante a manhã, tarde e noite, os fiéis, em média 17.000, se comprimem no interior da capela, na área dos jardins, nas calçadas frontais, e aglomeram-se ainda no próprio leito da Av. João Gualberto, arriscando suas vidas e estrangulando o trânsito”.

Esses detalhes são encontrados na análise dos documentos referentes ao processo de concessão do uso do terreno. Todo o material, inclusive com fotos e plantas do projeto, está agora disponível no hotsite “Os Manuscritos – Documentos Históricos de Curitiba”, cujo objetivo é resgatar histórias da cidade por meio de documentos que mudaram os rumos da capital paranaense desde seu início, mesmo antes de se tornar a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais – uma iniciativa que compõe o projeto Nossa Memória, da Câmara Municipal de Curitiba.

Ainda na mensagem de Arzua à Câmara, ele argumentou que já havia procurado outros terrenos nos arredores, sem sucesso. Disse que, sob o aspecto de preservação de áreas, verdes não haveria nenhum prejuízo, “porque a lei poderá fixar a condição da existência de uma área ajardinada em torno da igreja”. Quanto à recreação, concluiu que toda região era “bem atendida pelo Passeio Público, que não só apresenta excepcionais condições de beleza contemplativa, como também conta com ótimo aparelhamento para a recreação pública”.

O então arcebispo metropolitano, Dom Manuel Silveira dElboux, em 23 de novembro de 1965, escreveu ao prefeito. “Não há quem não perceba que a situação atual não pode perdurar por muito tempo. Aumenta, cada vez mais, o número de devotos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e tanto a capela, de construção frágil e antiga, como a aglomeração do povo nas calçadas e via pública, passam a constituir grave perigo de vida para os fiéis.”

Na Câmara, a proposta passou por análise de uma assessoria técnica, que informou, no dia 24 de novembro daquele mesmo ano, que “a sua redação é clara e precisa, inclusive quando esclarece que a respectiva autorização não implica em doação da área, permanecendo esta de propriedade do município”. Já os vereadores da Comissão de Legislação, no dia seguinte, afirmaram que o projeto “atende o aspecto urbanístico, zela pelo patrimônio municipal, ampara e incentiva a oração e a fé, resgata os laços de respeito e afetividade pelos quais estamos ligados a Portugal [pois conforme o prefeito justificou, era “um país tradicionalmente católico”] e atende o bem comum”.  Em 6 de dezembro o presidente da Câmara, Herondy Silvério, encaminhou ofício ao prefeito comunicando a aprovação da lei, que foi sancionada por Arzua quatro dias depois.

A inauguração da nova igreja ocorreu em 1969 e atualmente, segundo informações prestadas pelo site do santuário, nas quartas-feiras são recebidos mais de 35 mil fiéis.

Hotsite do “Os manuscritos”
O hotsite “Os manuscritos” foi lançado pela Câmara Municipal de Curitiba em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba no final de 2018 para facilitar o acesso aos documentos mais antigos da cidade à população. Todos os conteúdos podem ser lidos online e folheados com um deslizar de dedos na tela dos tablets e smartphones, ou com um clique do mouse.

No Livro Tombo, por exemplo, que guarda os documentos referentes à fundação da cidade, é possível ler uma carta entregue ao capitão povoador Matheus Leme pela população que aqui vivia e pedia a criação da Câmara e “justiças”, em 25 de março de 1693, quatro dias antes do aniversário da cidade. O hotsite oferece ainda vídeos sobre o processo de restauração do Tombo e da importância da preservação de documentos e uma seção de notícias com matérias históricas da cidade.