No ano passado, 16 ciclistas morreram no trânsito de Curitiba

por Assessoria Comunicação publicado 11/05/2017 10h55, última modificação 18/10/2021 07h26

“O transporte coletivo em Curitiba, pela quantidade de ônibus e de quilômetros rodados, é seguro no que diz respeito a acidentes. Mesmo assim, em 2016 houve 16 óbitos de ciclistas, um número inaceitável”. A declaração foi dada pelo coordenador de Mobilidade Urbana da Setran (Secretaria Municipal de Trânsito), Gustavo Garrett, durante reunião da Comissão de Urbanismo da Câmara de Vereadores, nesta quarta-feira (10).

Confira como foi a reunião pelo áudio na íntegra aqui.

Em 2012, quando a prefeitura começou a monitorar as mortes de ciclistas no trânsito, foram 13 óbitos. Em 2013, 14; 2014, 11; 2015, 19. “Não quero que nenhum ciclista, como eu sou também, ciclista, se machuque, ou percamos a vida. Analisamos cada caso criteriosamente e fazemos as intervenções, de infraestrutura, de educação. Tivemos uma redução [do número de mortes, de 19 para 16], mas não é uma redução cabível ainda”. Garrett disse que o risco aumenta nas canaletas de BRT.

Coordenado pelo vereador Goura (PDT), o evento colocou juntos representantes do poder público e do cicloativismo para debater as ações realizadas em Curitiba. Realizada no auditório do Anexo II, a atividade foi acompanhada pelos membros da Comissão de Urbanismo, Helio Wirbiski (PPS), presidente, Felipe Braga Côrtes (PSD), Bruno Pessuti (PSD) e Mauro Bobatto (PTN). Também pelo parlamentar Oscalino do Povo (PTN).

Goura apontou que a reunião foi motivada pelo óbito da ciclista Karla Voltolini, em abril, após colisão com o ligeirão na canaleta da avenida Marechal Floriano Peixoto. O ocorrido demonstrou, segundo o vereador, que a discussão era premente. Goura acredita num estreitamento de diálogo com a prefeitura. Na sua visão, “bicicleta é política de Estado e não de gestão. A rede cicloviária ainda está sendo implantada, há muito a fazer”.

O vereador citou três projetos em andamento: as bicicletas públicas, a ciclofaixa da Manuel Ribas e a iluminação da ciclovia que inicia no São Lourenço e vai até a Linha Verde-Pinheirinho. Goura vinculou a reunião ao conjunto de atividades relativas ao “Maio Amarelo” – campanha que chama a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Pela manhã, o diretor do Detran-PR, Marcos Traad, esteve na sessão plenária (leia mais).

Pilares da ciclomobilidade
Para o coordenador de Mobilidade Urbana da Setran, as políticas de ciclomobilidade estão assentadas em três pilares: planejamento e infraestrutura; educação; fiscalização e monitoramento. “No que diz respeito à educação, temos políticas permanentes na Escola Pública de Trânsito. Temos também a formação de escolares na rede municipal de ensino. Formação teórica e prática sobre como ser um ciclista”.

Garrett mencionou que foram distribuídos mais de 75 mil guias do ciclista, assim como equipamentos de proteção individual como adesivos reflexivos e outros. “Também fazemos ações em empresas e universidades, bem como temos um link com o Detran para abordagens nas ruas”, disse. No eixo do monitoramento, destacou que a Setran mantém uma viatura “rodando diuturnamente” para ações de proteção aos pedestres, ciclistas e acessíveis.

Destacado para falar do eixo relacionado à infraestrutura, Márcio Teixeira, engenheiro de transportes do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), disse que há a necessidade da elaboração de um plano diretor cicloviário (um desdobramento do Plano de Mobilidade Urbana), que depende de um estudo aprofundado.

“Nesse primeiro semestre o Ippuc esteve às voltas com questões já em andamento, mas a partir do segundo semestre a intenção é que possamos iniciar novos estudos para embasar a questão cicloviária no município. O ideal é melhorar a dinâmica da cidade como um todo. A ocupação do espaço público deve ser salutar pra quem caminha, pra quem anda de bicicleta e para quem dirige automóveis”, avaliou Teixeira.

Falta de padronização
Rosângela Battistella, da URBS, lembrou que “não temos até hoje no Brasil um manual cicloviário para padronizar e regulamentar questões referentes às bicicletas e aos modais cicloviários”. Para ela falta uma cultura de compartilhamento entre ciclistas e ônibus. “No horário de pico, um ônibus conduz 250 passageiros. Numa situação de perigo envolvendo ciclistas, a frenagem do ônibus é lenta”

Pedro Rommanel, advogado da URBS, falou sobre o projeto Bicicleta Pública, posto em prática com o contrato 374/2016. Ele disse que a iniciativa será revista, em decorrência de pedido do Ippuc para ter mais pontos fora da região central da cidade. “Isso vai envolver um aditivo no contrato. Na primeira etapa serão 25 estações com 280 bicicletas, todas com luz frontal e traseira, em prol da segurança do ciclista”, disse. Elas terão GPS, o que possibilitará um mapeamento dos hábitos dos ciclistas, o que pode ser importante para a realização de projetos futuros.

Eduardo Pereira presidente da Federação Paranaense de Ciclismo (FPC), declarou que a entidade apoia as iniciativas pelo benefício da ciclomobilidade. “Não há como parar o avanço do ciclismo. Já passou o momento de as bicicletas terem seu espaço no trânsito”, disse ele. “A Federação não é somente ciclismo de alta performance, de competição. Queremos apoiar todas atividades em prol de todos os ciclistas”, complementou.

Fernando Rosenbaum, da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu), destacou a importância de manter a Área Calma e ampliar essas áreas para os bairros. “Em 2015, o Ippuc fez um relatório técnico de contagem na avenida República Argentina e o Cicloiguaçu refez a contagem em 2016. O relatório mostra que aumentou em 41% o número de ciclistas que transitam pelo local”. Ainda segundo ele, “a região Sul é onde mais acontecem acidentes, daí a importância da via calma na República Argentina”.

Também participou da reunião Gheysa Prado, que integra o projeto “Bike Anjo”, uma plataforma online em que o usuário encontra ajuda para aprender a pedalar, recomendações de rotas, acompanhamento no trânsito etc. “O Bike Anjo vai trabalhar com o ciclista iniciante, o que quer usar o sistema cicloviário mas tem medo. O dia em que uma criança sair de casa e for até a escola de bicicleta em segurança, aí estaremos falando de uma cidade consciente, da formação de uma cultura de convivência entre os modais”. No momento isso ainda não acontece, diz ela. “A 7 de Setembro, que tem via calma, é pouco viável pra uma criança”.