Nicotina é a droga que mais causa dependência química, alerta SMS

por Pedritta Marihá Garcia | Revisão: Ricardo Marques — publicado 12/06/2024 16h20, última modificação 12/06/2024 16h38
Combate ao tabagismo foi o tema da Tribuna Livre da Câmara de Curitiba desta semana.
Nicotina é a droga que mais causa dependência química, alerta SMS

Esta foi a segunda vez, neste ano, que Eliana Fortes esteve no Legislativo para tratar do tema. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) debateu, nesta quarta-feira (12), a gravidade da dependência da nicotina. Quem fez o alerta sobre a necessidade do combate permanente ao tabagismo foi a fisioterapeuta Eliana Marcon Fortes, servidora da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Ela esteve no Legislativo a convite do vereador Tico Kuzma (PSD). 

Aos vereadores e à população em geral, a convidada fez um histórico sobre a luta contra o tabagismo, patologia que causa mais de 50 doenças, e pediu apoio nas ações de combate ao uso da substância. A fisioterapeuta participou da implantação do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), iniciativa lançada pela Prefeitura de Curitiba, em 2003. 

Esta foi a segunda vez, neste ano, que Eliana Fortes esteve no Legislativo para tratar do tema, já que ela também foi convidada para falar sobre o Movimento #semnicotina no CMC Podcasts. “A Prefeitura de Curitiba lançou, em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco, dia 31 de maio, uma nova campanha educativa sobre a Lei Antifumo [lei municipal 13.254/2009], que agora inclui a proibição dos cigarros eletrônicos. A ampliação da lei foi aprovada pela Câmara de Curitiba no final de 2023”, informou Tico Kuzma, propositor da Lei Antifumo e da sua atualização, aprovada pela CMC em novembro do ano passado

Há 20 anos, ela atua nos grupos de controle da Unidade Ouvidor Pardinho e participa dos grupos virtuais de orientação aos tabagistas. Também é responsável por ministrar palestras com a temática do tabagismo e capacitações aos profissionais da rede municipal de saúde. Atualmente, exerce a função de suporte técnico do Programa de Oxigenoterapia e Suporte Ventilatório Domiciliar (POSVD) da SMS (076.00012.2024).

Nicotina causa a maior dependência entre as drogas, afirma convidada

Segundo a fisioterapeuta, a indústria tabagista tem como produto principal a nicotina e, enquanto é responsável por uma arrecadação tributária de R$ 12 bilhões aos cofres públicos da União, o tabagismo causa R$ 125 bilhões em gastos com saúde. “A nicotina é reconhecida como a droga que mais causa dependência entre todas. [...] Imagina você ter que lutar contra uma coisa que faz a alteração do seu sistema nervoso central, que transforma e é capaz de distorcer seu pensamento e atuar na sua vontade? Temos que tratar este assunto de forma séria e [...] trabalhar no sentido de reduzir e eliminar o impacto do tabagismo na nossa comunidade”, observou. 

“A maior causa evitável de doença e morte no planeta é o tabagismo”, afirmou a fisioterapeuta. Segundo ela, a nicotina, ao ser experimentada pela primeira vez, tem alta incidência de tornar a pessoa viciada. Ao ser inalada, ela faz a liberação simultânea de dezenas de substâncias que dão sensação de prazer dez vezes mais rápido, em poucos segundos, orientou. 

A dependência química causada pelo tabagismo gera compulsão, que faz a pessoa fazer uso do cigarro, mesmo querendo não fazer; e tolerância, que faz com que a pessoa queira fumar cada vez mais. “As pessoas, ao decorrer do tempo, acabam fumando muito mais do que elas fumam. E é a única droga que causa síndrome de abstinência em minutos. [...] Dependendo do tempo em que o fígado metaboliza a nicotina, a pessoa sai para fumar o dia todo e praticamente tem uma rotina baseada não só nos assuntos que ela deveria tratar, mas  em função da sua dependência [do cigarro].”

Cigarros eletrônicos disfarçam cheiro, mas pioram dependência

Curitiba é a capital onde o homem adulto jovem mais fuma, segundo dados do Vigitel de 2023 - Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde (MS). A pesquisa é realizada com uma amostra de adultos (acima de 18 anos) nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Em relação às mulheres, a capital paranaense ficou em terceiro lugar. 

Esse dado reflete o maior desafio enfrentado hoje pelo Movimento #semnicotina, que são os DEFs - como são chamados tecnicamente os dispositivos eletrônicos para fumar, mas que no dia a dia são conhecidos como cigarro eletrônico, vaper, pod, e-cigarette e outros nomes comerciais. “A indústria tabagista, vendo que as campanhas de combate ao tabagismo estavam surtindo efeito, desenvolveu um produto que causa mais dependência e que destrói, com mais rapidez, o tecido pulmonar”, alertou. 

Conforme a servidora da SMS, os DEFs são uma justificativa para a indústria tabagística implantar, em vários países, “uma forma de tratamento para a sensação [de prazer, causada pela nicotina]”. “Não existe nenhum estudo científico robusto, até hoje, que apresente dados sobre a satisfação pela forma de uso do cigarro eletrônico”, emendou. “Fumar passou a ser antissocial, passou a ser motivo de constrangimento para o fumante. Já com o cigarro eletrônico, é possível fumar sem que as pessoas percebam, sintam o cheiro. E ele pode ser disfarçado ali na mesa do estudante, pode ser confundido com uma borracha ou outro material escolar”, completou Fortes.

Tratamento existe no SUS, com abordagem intensiva

A fisioterapeuta orientou que, no Plano Nacional de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT-s) 2021-2030, a meta é reduzir a prevalência de fumantes em 30% até o final do período. “É um desafio imenso, porque em 10 anos [entre 2011 e 2021], nós reduzimos em 10% o número de fumantes. Cerca de 132 mil pessoas pararam de fumar. Claro que existem dados positivos que não se contabilizam: aqueles que conseguimos evitar a iniciação, aqueles que pararam por influência daqueles que conseguiram conosco se tratar, e que pararam espontaneamente. Então, existe um número maior de fumantes que abandonaram o tabaco e está contabilizado nas estatísticas.” 

Para tratar a doença, há o apoio medicamentoso, que fica em segundo plano, pois não é o foco principal. A convidada explicou ser necessária uma abordagem intensiva no tratamento, e a principal terapia é a cognitivo-comportamental, reconhecida no mundo todo. Em Curitiba, são realizadas sessões estruturadas de tratamento nas unidades de saúde, com pessoas que buscam parar de fumar. A participação no Programa de Controle do Tabagismo de Curitiba é gratuita. Os fumantes interessados em abandonar o vício devem buscar uma unidade de saúde ou buscar informações sobre o protocolo junto à Central Saúde Já, que atende pelo (41) 3350-9000, inclusive nos fins de semana e feriados. 

“O que as pessoas querem é uma pílula mágica, um tratamento milagroso, que as façam parar [de fumar]. Isto não existe, e seria muito bom para todos, principalmente pela indústria farmacêutica, que isto acontecesse”, contou Eliana Marcon Fortes. Nas escolas, também são realizadas ações educativas, capacitações para servidores da SMS e campanhas programadas em datas alusivas, como no Dia Mundial Sem Tabaco (31/05) e Dia Nacional Sem Tabaco (29/08).

A explanação da convidada foi elogiada pelos vereadores Alexandre Leprevost (União), Bruno Pessuti (Pode), Noemia Rocha (MDB) e Sidnei Toaldo (PRD). Os quatro puderam tirar dúvidas sobre conteúdos apresentados durante a Tribuna Livre. Confira aqui a íntegra da apresentação e do debate.

O que é a Tribuna Livre da Câmara de Curitiba?

A Tribuna Livre é o canal de interlocução entre a sociedade e os vereadores de CuritibaOs temas discutidos são sugeridos pelos parlamentares, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou uma entidade para discursar e dialogar no plenário do Legislativo. As falas nesse espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc. Conforme o Regimento Interno (RI) do Legislativo, os debates ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária, após o espaço do pequeno expediente.

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