Na Tribuna Livre, vereadores recebem sugestões da ACP contra pandemia
O presidente da ACP, Camilo Turmina, foi o convidado da Tribuna Livre desta semana. (Reprodução/YouTube CMC)
A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) ouviu, na Tribuna Livre desta quarta-feira (7), sugestões do presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Camilo Turmina, contra as consequências econômicas da Covid-19. “Todos os vereadores e vereadoras reconhecem essa dificuldade, esse impacto que as empresas vêm sofrendo em razão das restrições”, disse o presidente do Legislativo, Tico Kuzma (Pros), na saudação oficial ao convidado.
Kuzma lembrou que a Câmara “não tem poupado esforços” na discussão de projetos de lei e outras proposições relacionadas à pandemia. Foi dele o requerimento para a realização da Tribuna Livre, a partir de ofício enviado à Casa, no último dia 24, pela ACP. “Como aconteceu hoje, todos os dias praticamente encaminhamos sugestões à prefeitura para que se altere algumas questões relacionadas aos decretos”, apontou. “Estamos e sempre estaremos aqui em busca de soluções. Sei, como também já foi falado, que precisamos da vacinação em massa para a retomada da vida normal.”
“Nós, como empreendedores, enfrentamos as mesmas dificuldades que vocês têm quando a base de eleitores está cobrando posturas [sobre o] abre e fecha”, afirmou Camilo Turmina. “Quem decide junto com o prefeito, na cidade, é o vereador”, declarou. Ele pediu mais diálogo com o Executivo e defendeu a “sinergia” entre poder público, empresários e população no enfrentamento à pandemia. “O prefeito sozinho não vai mudar a cidade.”
“Quantos por cento nós queremos que fiquem em isolamento em casa? Se for 50% é bem simples. Um dia abre uma atividade econômica. No outro dia, outra”, propôs. Turmina sugeriu que a divisão ocorra, por exemplo, conforme o lado da rua, numeração par e ímpar dos imóveis ou pelo registro na Junta Comercial. “Gente, nós quebramos negócios porque não damos esperança à nossa população”, justificou.
“Essencial é aquele que não tem sábado, domingo ou feriado. Trabalha de dia, de noite, não tem horário para nada. Provavelmente esse indivíduo é o intensivista da saúde. O resto não é essencial”, continuou o convidado da Tribuna Livre. “Essencial é abrir o meu comércio. Eu tenho membros, lojistas, que faleceram não pela Covid. [Mas de] ataque cardíaco, depressão, porque não sabem o que fazer com a folha de pagamento.”
“Eu não preciso de 800 farmácias abertas, eu não preciso de todos os pets. Não preciso de todos os vendedores de capinha de celular”, citou. “Pasmem, supermercado já sabe vender por delivery. No domingo já faz delivery. Por que precisa estar aberto todos os dias?”, avaliou Turmina. “Nós estamos falando de um rodízio porque a saúde vai mal. Ontem batemos um novo recorde de óbitos [no país]. Daqui a pouco vai fechar tudo de novo.”
Numa economia normal, de acordo com ele, a margem de lucro já é “ínfima”. Com as portas fechadas, “vira um pandemônio”. “Eu tenho que dar esperança a essa população. Se tiver que trabalhar a cada três dias, eu sei que a cada três dias vou abrir minha loja. Nos outros dias fico telefone, no WhatsApp, mandando mensagem, alimentando minha atividade econômica.”
O presidente da ACP questionou as diversas normativas referentes à pandemia: “Ninguém consegue entender quanta lei e regra nós despejamos na cabeça das pessoas. O que eu estou propondo é o rodízio de atividades. Já ouvimos falar do rodízio de ônibus, já ouvimos falar de rodízio de carros. Um dia você vai, no outro dia não vai”. Para Turmina, a própria sociedade organizaria o isolamento. “Não é o prefeito com seus decretos, porque está todo mundo raivoso”, disse.
Sobre o transporte coletivo, apontado como potencial foco de contágio da Covid-19, o orador da Tribuna Livre argumentou que o ideal seria a circulação dos ônibus apenas com passageiros sentados e o uso de máscaras de qualidade, como a N95, mais eficientes contra novas variantes. “Eu só perdi a amizade com o prefeito quando ele disse que os [empresários dos] ônibus não poderiam ter prejuízo”, comentou.
Turmina lembrou da história da ACP, fundada em 1890 pelo Barão do Serro Azul, que presidiu a Câmara de Curitiba e é considerado o patrono do comércio do Paraná. Também elogiou e pediu apoio na divulgação do Fundo de Aval, para a obtenção de empréstimos com juros menores; sugeriu “quem sabe menos asfalto e mais casas de apoio” para a população em situação de rua; e cobrou a fiscalização de estabelecimentos ilegais e dos protocolos sanitários contra a pandemia.
“Não é fácil presidir uma instituição numa época de pandemia, onde todos ficam buscando qual é o caminho, buscando a saída do túnel, que está aí pegando fogo”, concluiu. “É disso que nós precisamos. Estar juntos, para que possamos superar [as dificuldades da pandemia]”, complementou o presidente da CMC. Tico Kuzma desejou que “possamos avançar, a partir desta Tribuna Livre, na conversa, no diálogo, em busca de soluções”.
Debate
“Quando ele diz que não tem diálogo, ele não fala com a verdade”, rebateu o líder do prefeito na Casa, Pier Petruzziello (PTB). De acordo com o parlamentar, Turmina desmarcou agenda com Rafael Greca, em março. “Se é difícil ser presidente da ACP no momento da pandemia”, acrescentou, “imagina ser prefeito de uma capital como Curitiba”, em meio a uma série de interesses e necessidades da população. “Neste momento de guerra [contra a Covid-19], é necessária a união.”
“Eu não consigo sair de casa para fazer social se estou com minha porta [do comércio] fechada”, respondeu Turmina. Presidente da Comissão de Participação Legislativa da CMC, Professor Euler (PSD) lembrou que o colegiado recepciona sugestões da população, que podem ser convertidas em propostas de lei (saiba mais). “Queria deixar aberta essa possibilidade, de a própria ACP protocolar projetos de lei de seu interesse”, observou.
“A falta de diálogo com o Executivo é uma queixa de muitos segmentos”, disse Noemia Rocha (MDB). Ela lembrou das limitações dos vereadores, já que a iniciativa de determinadas leis precisa partir do prefeito, além de apoiar a sugestão de escalonamento de atividades e o debate sobre a reinserção das pessoas em situação de rua no mercado de trabalho.
Dalton Borba (PDT) avaliou que a dificuldade de diálogo não é “apenas da Associação Comercial, mas também desta Casa”. Para ele, é importante o Executivo promover, orientar e fiscalizar os protocolos sanitários, como o uso correto da máscara.
“Precisamos de mais diálogo com a prefeitura”, acrescentou João da 5 Irmãos (PSL), que chamou a atenção para as dificuldades dos pequenos e médios comerciantes. Ele sugeriu o escalonamento de horários de funcionamento do comércio, da indústria e do setor de serviços, além da organização de uma campanha para a arrecadação e a distribuição de máscaras à população em situação de vulnerabilidade.
Em resposta a Herivelto Oliveira (Cidadania), que perguntou sobre o planejamento da ACP para incentivar o aquecimento econômico no pós-pandemia, o convidado da Tribuna Livre afirmou que “está no forno um marketplace” para mediar vendas com uma contrapartida inferior às cobradas pelas grandes lojas virtuais. Ezequias Barros (PMB) e Nori Seto (PP) também cumprimentaram Turmina e o parabenizaram pelo trabalho à frente da Associação Comercial do Paraná.
Realizada nas sessões de quartas-feiras, após a votação dos projetos de lei e demais proposições, a Tribuna Livre é um espaço democrático de debates previsto no Regimento Interno da Câmara de Curitiba. As sessões plenárias têm transmissão ao vivo pelos canais da CMC no YouTube, no Facebook e no Twitter.
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