Na Tribuna Livre, médico e vereadores discutem tratamento da Covid-19
Ginecologista e obstetra, Jacyr Leal Junior é um dos idealizadores do Centro de Atendimento Imediato. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
A Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, na sessão plenária desta quarta-feira (5), o médico José Jacyr Leal Junior. Por meio de proposição do vereador Ezequias Barros (PMB), ele falou sobre o tema “Acolhimento imediato para o enfrentamento da Covid-19” (076.00015.2021).
“O doutor Jacyr Leal Junior é ginecologista e obstetra, fundador do Instituto Jacyr Leal e do Programa Superconsciência. É um dos idealizadores do Centro de Atendimento Imediato, junto com o Provopar”, disse Barros, um dos defensores do chamado acolhimento imediato na CMC. Espaço democrático de debatidos mantido pela Câmara de Curitiba, a Tribuna Livre é regulamentada pelos artigos 208, 209 e 210 do Regimento Interno.
A Tribuna Livre, pontuou o presidente do Legislativo, Tico Kuzma (Pros), “é um canal de interlocução entre os vereadores e a sociedade”. “Os temas são sugeridos pelos vereadores, que por requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário”, explicou. “As falas neste espaço servem para o debate plural, são de responsabilidade de seus participantes e não refletem o posicionamento institucional da Câmara Municipal. A realização desta e de todas as Tribunas Livres segue estritamente o Regimento Interno desta Casa.”
Segundo o convidado de Ezequias Barros, tratamento precoce não é o termo correto, e sim tratamento imediato, cujo objetivo seria “tentar bloquear a replicação viral”. “Medicina não é ciência rígida e fechada, muito menos certezas. Medicina é acolhimento. Medicina é compreensão. E principalmente dúvida”, afirmou.
Sem citar a ivermectina, a cloroquina e demais itens do chamado “kit Covid”, o orador disse ser “perda de tempo” discutir se determinados medicamentos funcionam. “Nos livros de clínica médica, até placebo funciona”, declarou. Para Leal Junior, receitar apenas um analgésico e mandar o paciente para casa, “esperando a sorte” de não ter uma complicação, “é quase uma sentença de morte”, “um desculpe, eu não posso fazer nada”.
“Em primeiro lugar eu preciso explicar ao paciente o que é a doença, a pandemia, o vírus, de uma maneira simples e compreensível”, continuou, “mas nunca gerar pavor”. “É preciso fazer tudo para evitar o contato com a doença, concordo. Distanciamento, maravilha. Higiene, muito bom. A higiene evita um mundo de doenças, não só a Covid, isso tem muitos trabalhos científicos mostrando. Máscaras, fantástico, usadas de maneira adequada. As mais preparadas para aquele médico que está na frente.”
Para impedir a evolução da doença, defendeu, também é necessário aumentar a imunidade por meio da alimentação correta, atividade física “no sol, aumentando a vitamina a D”. “E as vacinas? Vacina exige segurança, eficácia e transparência. Alguém está vendo transparência? Eficácia, que era gigante, está diminuindo a cada tempo porque as cepas estão mudando”, opinou.
“E as novas cepas? As variantes? As vacinas foram preparadas para elas? Toda pandemia tem um começo, meio e fim. Nós não estamos permitindo que haja esse ciclo completo e assim nós dificultamos o término da pandemia e ainda facilitamos o surgimento de variantes com os lockdowns”, completou.
“Eu preciso isolar quem tem risco. Nunca todos”, continuou o médico. “Você acha que consegue segurar um jovem 1 ano, 1 ano e meio dentro de casa? Eu vou ter que acusá-los de matar os mais velhos, sendo que eles estão fora dos grupos de risco? E as empresas quebrando, e os empregos? E as escolas, e as crianças?”, pontuou. Leal Junior chamou de “crime” os casos de ansiedade, depressão, divórcios, suicídio, falências e outras doenças por falta de prevenção e cuidados. O convidado também criticou o “medo” gerado pela mídia.
Debate
“Temos que ter muita responsabilidade com todos os posicionamentos, todas as temáticas que passam nesta Casa”, comentou Professora Josete (PT), segunda-secretária da CMC. Ressaltando que as críticas não eram pessoais, ela defendeu o lockdown e disse que não há comprovação científica para o tratamento precoce, “independente do doutor não ter citado os medicamentos”. “Como vereadora desta Casa, não podemos defender este tipo de posicionamento.”
Na mesma linha, Carol Dartora e Renato Freitas, ambos do PT, questionaram o uso de medicamentos sem comprovação científica. A vereadora perguntou ao convidado se não seria uma “crueldade com a população” promover algo que não teria efetividade, e sim efeitos colaterais. Freitas, dentre outros apontamentos, questionou o médico se a conduta não refletiria seu posicionamento político.
Aos vereadores, o médico declarou que o médico e o paciente têm autonomia “para tentar encontrar uma solução” e que as bulas de todos os medicamentos indicam possíveis efeitos colaterais. “Da mesma maneira que eu não posso acreditar nos pesquisadores que dizem não, não posso acreditar nos trabalhos que dizem sim”, justificou. Segundo ele, “tenho meu pensamento político, do eu quero para o meu país. Mas eu nunca olhei para meu paciente e vi o presidente”.
“Eu sou um testemunho vivo”, apoiou Osias Moraes (Republicanos), citando o uso de medicamentos por ele e a família. “Eu garanto a vocês. Funciona sim e isso salva muitas vidas”, elogiou Eder Borges (PSD). Em resposta ao vereador, que perguntou ao convidado sobre o funcionamento da ivermectina e da cloroquina, Leal Junior afirmou que o objetivo “é tentar bloquear tanto a entrada do vírus na célula quanto a replicação dele, para que não passe para a fase inflamatória.” “Eu não poso esperar anos uma resposta de tese para atuar com um paciente que está na minha frente.” Na avaliação do convidado, são as novas variantes que estão mais agressivas, causando hepatite e outras complicações.
Maria Leticia (PV), que também é ginecologista e obstetra, disse discordar de Leal Junior sobre o tratamento da Covid-19. Para ela, o Conselho Federal de Medicina (CFM), ao condicionar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina a critério médico e ao consentimento do paciente, “foi um tanto omisso nessa pauta”. “No pré-natal, a gente marca consulta com o pneumologista? Não, a gente marca com o obstetra”, completou. “Nós vamos a congressos e muitas vezes saímos de lá co opiniões diferentes”, respondeu o orador. “Nós nunca defendemos a automedicação.”
Dalton Borba (PDT) retomou a discussão no grande expediente da sessão plenária. Segundo ele, não seria possível expressar seu posicionamento em 2 minutos (tempo destinado à fala de cada vereador, na Tribuna Livre). “Eu uso dessa palavra hoje simplesmente para lamentar. Lamentar que jogamos um tempo precioso no lixo”, opinou, dentre outros apontamentos.
Acolhimento imediato, observou Borba, “é um nome bonitinho para o tratamento precoce”, cujos medicamentos estão sendo questionados na CPI da Covid, no Congresso Federal. “Já fizemos aqui uma explicação institucional sobre a questão da Tribuna Livre. É a algo regimental. Fica aqui um pensamento para a revisão do Regimento Interno que vamos fazer. Mas é uma Tribuna Livre, como o nome já diz”, reforçou o presidente da Câmara.
Vacina
“Quero ressaltar a importância da vacina. Nós, enquanto vereadores desta Casa, enquanto representantes do povo, da cidade de Curitiba, temos a responsabilidade de trabalhar pelo incentivo da vacina”, pontuou Leônidas Dias (Solidariedade). Ele lembrou da aprovação das leis que autorizam a compra direta dos imunizantes pelo Município e questionou o recado transmitido à população.
“Questionar a vacina, pessoal, desculpe, não temos espaço para isso. Vacina sim, vacina já”, continuou Dias. “Meu posicionamento também é pela vacina sim, vacina já”, destacou Tico Kuzma. Professora Josete afirmou que até agora, segundo as pesquisas, a maior parte da vacinas é eficiente contra as variantes. Na opinião da vereadora, a imunização, “principalmente em um momento de pandemia”, é uma decisão de governo e deve ser seguida por todos.
“Eu fui claro, não sou contra a vacina. Minha filha está com todas as carteiras de vacina. A vacina precisa ser feita sim”, respondeu Leal Junior. “Mas as pessoas têm direito a saber que ainda estamos em algumas fases de testes. Por maiores comprovações que existam, as pessoas têm que ter o direito de saber e o direito de aceitar se fazem ou não.”
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