Na Tribuna Livre, cacique relata dificuldades da aldeia Kakané Porã

por Assessoria Comunicação publicado 19/04/2018 13h25, última modificação 26/10/2021 11h16

Nesta quarta-feira (18), durante a Tribuna Livre, a Câmara Municipal de Curitiba recebeu a visita de Carlos Alberto Luiz dos Santos, cacique da aldeia Kakané Porã, a primeira aldeia indígena urbana da região sul do Brasil. Ele veio a convite do vereador Tito Zeglin (PDT), em comemoração ao Dia do Índio, celebrado nesta quinta-feira, 19 de abril.

Em sua saudação ao convidado, o parlamentar comentou que o Dia do Índio foi criado através do decreto-lei 5.540/1943, de autoria do ex-presidente Getúlio Vargas. “A data é oportuna para refletirmos sobre os valores culturais dos povos indígenas e a importância da preservação e respeito a esses valores”, afirmou. De acordo com Zeglin, entre 2005 e 2008, o Legislativo desempenhou papel determinante na conquista da área definitiva para famílias de 3 tribos indígenas de Curitiba: guaranis, xetás e caingangues, com o objetivo de retirá-las das condições precárias e sub-humanas em que viviam na região de preservação do Parque Cambuí. Essa área é onde fica a aldeia Kakané Porã – que significa fruto bom da terra.  

“Pra nós, todo dia é dia de índio”, disse o cacique. Ele mencionou a versão caingangue para o nome da cidade: Curitiba significa “vamos embora” ou “vamos depressa”. Segundo ele, a expressão teria sido usada pelos indígenas por ocasião da chegada dos brancos. Carlos dos Santos informou que, hoje, 35 famílias moram na aldeia, sendo ao todo 210 pessoas. Apesar disso, a Kakané Porã ainda não foi reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai). “Nossa luta por demarcação de terras é muito grande. De 1988 para cá não se demarcou mais nada. Mas as nossas famílias crescem, precisamos de terras.”

“As terras não são nossas, somos isentos de impostos. Quando o índio quer fazer um financiamento, não consegue porque não tem como provar que pagou IPTU. Algumas pessoas perguntam: por que os índios querem um monte de terra se eles são vadios que só servem pra tomar cachaça? Mas ninguém faz um projeto para ver se o índio quer fazer uma criação de gado, de porco, de frango. Ele não mandam equipes lá para ver”, contou.

Ainda de acordo com o cacique, quando um projeto é desenvolvido na aldeia, é mal organizado. “Mandaram 300 frangos lá na aldeia, mas não mandaram a ração, o material pra montar o galinheiro”, exemplificou. Carlos dos Santos ainda reclamou dos serviços de saúde e educação prestados aos indígenas. Foi feita uma oca para as aulas das crianças, mas sem banheiro, sem cozinha para produzir a merenda e sem água encanada.

Participações
Ezequias Barros (PRP) era diretor da Cohab quando da transferência dos indígenas do Parque Cambuí para o Kakané Porã, em 2008. “A situação no Cambuí era de muita dificuldade para os índios”, contou. Além dele, outros vereadores também participaram da Tribuna Livre, com manifestações sobre o tema e questionamentos para o convidado.

Colpani (PSB), por exemplo, disse que conviveu muito com indígenas caingangues no sudoeste do Paraná. Já Zezinho Sabará (PDT), que já visitou a aldeia Kakané Porã e gostou do local, confirmou as declarações do cacique, ao dizer que, para ele ainda falta investimento público no local.  Rogerio Campos (PSC) revelou que também já esteve na aldeia prestigiando o churrasco feito pelos índios.

Noemia Rocha (PMDB) perguntou como a Câmara Municipal poderia ajudar a tribo. Goura (PDT), por sua vez, indagou sobre o atendimento da Casa de Passagem para Famílias Indígenas, localizada na rua Engenheiro Rebouças, e sobre a quantidade de crianças na Kakané Porã. Professor Euler (PSD) questionou sobre as iniciativas de resgate da cultura indígena.

Osias Moraes (PRB), que é do Amazonas, descendente da tribo Ticuna, perguntou se há atenção do poder público quanto à saúde dos índios. Oscalino do Povo (Pode) mencionou que aldeias indígenas, como a de Guaraqueçaba, já conquistaram várias melhorias. Mauro Bobato (Pode) elogiou o time de futebol da Kakané Porã.