Na CMC, vereadoras relatam dramas pessoais no enfrentamento da covid-19
Em razão da pandemia, as sessões da CMC são realizadas por videoconferência. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
“Ainda estou com dificuldade para falar, ainda tenho muito cansaço”, testemunhou a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL), nesta segunda-feira (8), ao final da sessão plenária, realizada por videoconferência. Bastante sensibilizada pelo impacto da covid-19 na sua família, pois além dela a doença atingiu seus filhos, ela pediu que a população não menospreze o impacto do vírus. “É sério, ninguém está brincando, estou sentindo na carne e eu sou uma pessoa forte”, relatou. “Eu decaí, precisei de oxigênio e de intervenção médica”.
“Quero agradecer ao Hospital da Polícia Militar do Paraná, que me acolheu, na pessoa da diretora, Letícia Pan, pois se não fosse isso eu teria morrido”, disse Tânia Guerreiro, após atribuir sua recuperação ao kit de tratamento precoce preconizado por parte da comunidade médica. “A diferença entre a vida e a morte para nós foi esse kit. Nós tomamos o kit, graças a Deus. Se não fosse esse kit, não estaríamos mais aqui, seria uma família ceifada por esse mal”.
Antes dela, Noemia Rocha comemorou a melhora de uma de suas filhas, acometida pela covid-19. “Ela está melhor, graças a Deus”, disse a parlamentar. No ano passado, ela própria passou nove dias internada, após a doença acometer 50% dos pulmões. “Depois de nove dias no oxigênio, você vê o valor de respirar. Só quem passou por essa situação, de falta de ar, sabe da importância disto”, relatou, na época, Noemia Rocha, cuja outra filha é profissional da saúde. “Ela está exausta, cansada, mas é guerreira”.
Diálogo com a sociedade
Também na sessão, Flávia Francischini (PSL) cobrou do Poder Público a falta de diálogo com “os setores competentes” ao elaborar os decretos restritivos. “Temos todos vivido dias, meses difíceis. Desde que fomos surpreendidos por essa calamidade pública, que chegou nas nossas vidas de forma invasiva, causando danos irreparáveis em muitas famílias, com a perda de entes queridos. A dificuldade está na busca do equilíbrio entre a crise econômica agravada pela pandemia e a imposição de medidas restritivas necessárias para deter a covid-19”, comentou a parlamentar.
Na mesma linha, Mauro Ignácio (DEM) defendeu que a prioridade seja a vacinação, mas que enquanto isso não seja uma realidade, os restaurantes sejam autorizados a funcionar na condição de atividade essencial. “Porque enquanto umas pessoas podem trabalhar em casa, outras precisam ir às ruas, pegar o transporte coletivo, [e com as restrições] estão fora de casa quando precisam se alimentar”, alertou o parlamentar. Para combater essa distorção, Ignácio protocolou projeto de lei para reabrir restaurantes e similares (005.00078.2021).
Polêmica em plenário
Trazida ao plenário na semana passada Éder Borges (Pode) e Ezequias Barros (PMB) – confira aqui – aadministração de drogas como a cloroquina e a ivermectina na rede municipal de saúde, como medida para reduzir os casos graves de covid-19, voltou a ser debatida hoje na CMC. Além do depoimento de Tânia Guerreiro, e da votação inconclusa de requerimento de Borges pedindo estudos a respeito do assunto, Barros insistiu no assunto.
Crítico do protocolo baseado no uso de paracetamol para amenizar sintomas de pacientes respiratórios, Ezequias Barros retomou a discussão, reproduzindo áudio da rádio CBN Cascavel, em que Ovídio Rohde, diretor-presidente do Hospital Políclina Cascavel, favorável ao tratamento precoce. No relato, o gestor do hospital, que é médico obstétra, defende o kit como algo a ser feito diante do colapso do SUS na região Oeste do Paraná.
“Está aí a voz de um médico que enfrenta um problema grave [no Oeste, onde falta leitos para casos graves]. Negar o tratamento precoce é que é negacionismo”, afirmou Ezequias Barros, que na opinião do parlamentar não é bem-aconselhada. “Por que dar ouvido somente ao professor Clóvis Arns, esse infeliz que diz que não tem que usar azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina, esses medicamentos que salvam vidas?”, disse, depois de apelar à secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, e ao secretário estadual, Beto Preto, por incentivarem ao uso do kit. O vereador alegou que com as drogas alternativas “a carga viral cai para menos de 30%”.
Após essa manifestação, Professora Josete (PT) e Maria Leticia (PV) criticaram a forma como o vereador se referiu a Arns, médico curitibano, docente da UFPR, e que é o atual presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “Meu desagravo ao doutor Clóvis Arns, pois a gente não pode permitir que um médico com a magnitude dele seja desconsiderado nesta Casa”, disse Josete. Para a médica Maria Leticia, a fala foi uma “infelicidade” e uma “deselegância”, e que “a CMC deve tomar alguma providência [sobre a declaração]”. “Vergonha é estarem morrendo, se podiam ter tratamento”, respondeu Barros.
Ao final da sessão, o presidente da CMC, Tico Kuzma (Pros), somou-se ao desagravo ao médico Clóvis Arns. “Quero dizer que sou solidário e reconheço o excelente trabalho do doutor Clóvis Arns no enfrentamento da pandemia que assola o mundo inteiro. Fica o meu reconhecimento a ele”, afirmou o parlamentar.
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