Na CMC, ONG de proteção animal orienta sobre prevenção à esporotricose
Médica veterinária do Instituto Fica Comigo, Bruna Silva disse que a castração dos animais ajuda na prevenção da doença entre pets e humanos. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)
O aumento do número de casos de esporotricose em Curitiba, que atinge humanos e animais, foi o tema da Tribuna Livre desta quarta-feira (17). Na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), a ONG Instituto Fica Comigo fez um alerta para a prevenção à doença, que é causada por um fungo e com rápida transmissão. Espaço democrático de debates, a tribuna acontece durante a sessão plenária.
Médica veterinária do instituto, Bruna Andrade Silva explicou que a esporotricose é uma micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo, por meio de uma ferida na pele. Este fungo geralmente habita o solo e a vegetação, podendo ser transmitido por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos de plantas. Devido a esta característica de transmissão, contou a especialista, era conhecida como “doença do fazendeiro” ou “doença da roseira” na década de 1990.
Animais contaminados, em especial os gatos, também transmitem a doença, por meio de arranhões, mordidas e contato direto com as lesões. “Se você tem uma ferida aberta, por qualquer motivo, e entra em contato com o solo ou outra coisa contaminada pelo fungo, você pode contrair a doença. Hoje em dia, a forma mais comum de contágio é através de mordidas e arranhões, principalmente do gato. […] Se o animal é positivo para a doença, ele vai contaminar o ambiente e se você tem uma ferida, por menor que seja, ela é porta de entrada para a doença”, explicou a veterinária.
Em animais, orientou Bruna Silva, a incubação da doença é de três semanas e os principais sintomas são nódulos e úlceras cutâneas, febre, espirros, secreção nasal e anorexia. Nos gatos, as manifestações da esporotricose são variadas. Os sinais mais observados são as feridas na pele, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente. Se não for tratada, pode levar o animal à morte.
Já em humanos, complementou Nicole Locatelli, médica dermatologista – em vídeo exibido durante a Tribuna Livre –, os sintomas surgem entre sete e 30 dias após o primeiro contato com o fungo. São sintomas comuns nas pessoas: nódulos dolorosos, que podem ser purulentos ou não, além de tosse, cansaço, febre, inflamação nas articulações, dores. Pessoas imunodeprimidas são mais suscetíveis a formas mais graves da doença, que pode se espalhar e comprometer órgãos como o pulmão.
Tanto nos animais, quanto nos humanos, disseram as especialistas, o tratamento da doença é por via oral, e lento. No caso das pessoas, dura entre três e seis meses; e no caso dos pets, pode levar de seis meses a um ano. O diagnóstico é feito por exames laboratoriais ou por atendimento veterinário.
Aumento da doença e prevenção
Segundo Bruna Silva, no Brasil há maior incidência da doença do que em países como Estados Unidos, por exemplo, em função do clima que é mais quente. A doença já foi identificada em várias partes do país, como no Rio de Janeiro, quando em 2020 foram registrados mais de mil casos; e na Paraíba, quando em 2019 foi registrado um surto com mais de 400 casos de esporotricose.
Em Curitiba, atentou, “houve um aumento de 60% da doença nos últimos 10 anos”. Outro alerta,feito pela presidente do Instituto Fica Comigo, Carla Negochadle, foi que a doença tem avançado “absurdamente na cidade” e é encontrada em todas as regiões de Curitiba – não só nas áreas mais vulneráveis, onde está a maior parcela da população de animais de rua.
Para evitar o crescimento da esporotricose, ambas as convidadas recomendaram que a prevenção é fundamental. Questionada pelos vereadores sobre como evitar a proliferação da doença, a médica veterinária orientou que os tutores de pets mantenham os bichinhos de estimação dentro de casa, em especial os gatos (que são mais sensíveis ao fungo).
“O gato não castrado tem o instinto de ir para a rua, de querer marcar território, de querer cruzar. Outra medida seria telar a casa, o apartamento, para que o animal não tenha acesso à rua. Quando a castração é tardia, retira a parte hormonal, mas não se retira o instinto. […] Não existe só a esporotricose, existem mil outras doenças que os animais podem passar para a gente”, emendou Bruna Silva.
Propositor da TL desta semana, conforme o requerimento 076.00025.2022, Alexandre Leprevost (Solidariedade) destacou a importância do tema, relacionado não só ao bem-estar animal, mas também à saúde pública. A doença, frisou, é “considerada uma zoonose e pode ser transmitida para nós, humanos, podendo evoluir para casos sérios”. Além dele, outros vereadores também se manifestaram em plenário, entre eles, Salles do Fazendinha (DC), que contou ter contraído a doença. Também participaram do debate: Sargento Tânia Guerreiro (União), Ezequias Barros (PMB), João da 5 Irmãos (União) e Tico Kuzma (Pros).
Instituto Fica Comigo
A ONG Fica Comigo atua em Curitiba e em todo o estado há 12 anos. Foi responsável, neste período, pela adoção responsável de mais de 8 mil animais. Esta atuação, reforçou Carla Negochadle, contribui com o controle da população dos animais de rua e com o combate às zoonoses, como a esporotricose. Porém, a presidente da entidade lamentou que este é o único segmento do terceiro setor que “não tem reconhecimento e não recebe recursos [públicos]”. O atendimento é garantido através de doações.
Tribuna Livre
Espaço democrático de debates, a Tribuna Livre é mantida pela CMC como um canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Conforme o Regimento Interno do Legislativo, os debates ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – seguindo acordo de líderes, após os pronunciamentos do pequeno expediente.
Os temas são sugeridos pelos vereadores, que por meio de requerimento indicam uma pessoa ou entidade para a fala em plenário. O espaço pode servir para prestação de contas de uma organização que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc.
Restrições eleitorais
Em respeito à legislação eleitoral, a comunicação institucional da CMC será controlada editorialmente até o dia 2 de outubro. Nesse período, não serão divulgadas informações que possam caracterizar uso promocional de candidato, fotografias individuais dos parlamentares e declarações relacionadas a partidos políticos, entre outros cuidados. As referências nominais serão reduzidas ao mínimo razoável, de forma a evitar somente a descaracterização do debate legislativo.
Ainda que a Câmara de Curitiba já respeite o princípio constitucional da impessoalidade, há dez anos, na sua divulgação do Poder Legislativo, publicando somente as notícias dos fatos com vínculo institucional e com interesse público, esses cuidados são redobrados durante o período eleitoral. A cobertura jornalística dos atos do Legislativo será mantida, sem interrupção dos serviços de utilidade pública e de transparência pública, porém com condicionantes (saiba mais).
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