Na Câmara, Urbs diz ter R$ 83,8 milhões em dívidas parceladas
“Encontramos uma situação ruim, muito difícil”, declarou o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto, nesta terça-feira (14), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), sobre a transição da gestão passada, do governo Gustavo Fruet, para a atual, de Rafael Greca. Os vereadores tiraram da pauta todos os projetos e proposições para ouvir o gestor, que foi sabatinado pelos parlamentares durante três horas. “Nosso total de dívidas parceladas, hoje, é de R$ 83,8 milhões”, reconheceu Maia Neto.
“Demos a palavra [do Executivo] que ele viria para prestar esses esclarecimentos tão importantes à cidade. Quero agradecer a deferência com os vereadores e com a população”, disse Pier Petruzziello (PTB), líder de Greca no Legislativo, ao presidente da Urbs. A CMC chegou a votar convocações para ele falar aos parlamentares em duas ocasiões, mas foram arquivadas (leia mais). “É papel dessa Casa fiscalizar o Executivo, por isso a Câmara fica à disposição da Urbs para debatermos mais o sistema de transporte público de Curitiba”, completou Serginho do Posto (PSDB), presidente da CMC. Ao todo, 26 vereadores apresentaram questões, pedidos e comentários ao gestor da Urbs.
Gestão de recuperação
No cargo desde outubro de 2017, quando substituiu José Antônio Andreguetto, Maia Neto enumerou os problemas que a empresa criada para gerenciar o transporte coletivo e a comercialização de espaços públicos enfrentava. A Urbs tinha pendências, disse ele, por exemplo, de R$ 38 milhões em impostos e taxas não pagos, R$ 4,8 milhões em débitos trabalhistas e R$ 16,9 milhões de dívida com a Copel. “Fizemos os parcelamentos e estamos pagando em dia, tanto [as contas] do mês quanto as que estavam em aberto”, garantiu. Nos R$ 83,8 milhões estão computadas também as despesas com o Programa de Demissão Voluntária [PDV] feito em 2017.
“A situação [herdada] colocava a empresa em estado falimentar, uma vez que não pagava as suas contas”, disse Maia Neto. Ele comentou com os vereadores que, ao ser chamado para o cargo, sem experiência em órgãos públicos, só na iniciativa privada, analisou se não seria melhor fechar a Urbs. “Mas bem gerida, [a Urbs] consegue pagar suas contas. Em 2020, quando tivermos pago [o PDV] e quitado parte dos parcelamentos, a Urbs se torna superavitária”, projetou o presidente da empresa. Contudo, para isso seria necessário “um ajuste patrimonial”.
O início desse ajuste patrimonial, segundo Maia Neto, foi a venda à Prefeitura de Curitiba de 22 terrenos da Urbs no final de 2017 – autorizada pelos vereadores da CMC. “Com o dinheiro [R$ 16 milhões] conseguimos pagar o 13º salários aos funcionários”, agradeceu. Acontece que as ações trabalhistas tinham penhorado terrenos da Urbs. Quando essa equação com a Justiça foi resolvida, as áreas voltaram a ficar disponíveis para a administração. Assim como as 35 ações das empresas de ônibus contra o Município, retiradas após o aditivo relacionado à renovação da frota.
A título de exemplo do que deixou de ser feito, Ogeny Pedro Maia Neto começou dizendo dos 85 pontos comerciais desocupados. “A Urbs perdia R$ 78 mil por mês de receita”, apontou, acrescentando que depois de rodadas com as associações comerciais a desocupação caiu para 40 unidades. Questionado sobre entrar na Justiça contra os administradores anteriores, dada a condição “ruim” da empresa, o gestor se omitiu de julgar os presidentes anteriores da Urbs. “É muito fácil dissecar o cadáver, com todos os dados e variáveis à mão, [informações] que o administrador não tinha naquele momento. É fácil fazer autópsia, difícil é manter o cidadão vivo com o remédio certo”.
Integração metropolitana
“Foi uma decisão infeliz [desintegrar os ônibus de Curitiba da região metropolitana] e agora temos que retomar, para mitigar os custos operacionais”, avaliou o presidente da Urbs. Maia Neto comparou o ocorrido com uma separação conjugal, na qual o casal depois resolve reatar o relacionamento. “Após uma ruptura do sistema não é fácil acertar as arestas, pois deixa resquícios até nas equipes”, apontou.
O presidente da Urbs disse que a desintegração foi mal negócio para ambas as partes, pois “Curitiba e região metropolitana ficaram deficitárias”. “Mas estamos num momento de reaproximação”, avaliou, adiantando que existem estudos para 20 linhas de ônibus integradas.
Bilhetagem eletrônica
Maia Neto prometeu para este ano uma “solução” para a bilhetagem de ônibus de Curitiba, que ele vê como uma das causas para a queda no número de pessoas que utiliza o transporte coletivo. “Um dos motivos é a falta de acesso à compra [da passagem]. Como que o turista faz? Ele tem cartão [de banco], tem telefone [conectado à internet], mas como faz para entrar no transporte? Temos que reverter isso”, disse, anunciando licitação para aumentar os pontos de venda.
Domingueira
Já sobre retomar a política de cobrança mais barata para quem usa ônibus aos domingos, apelidada na cidade como “domingueira”, o presidente da Urbs não tergiversou. Disse que não há previsão para retorno da tarifa especial enquanto o caixa do sistema de ônibus não estiver equilibrado. “A retomada da domingueira depende do fluxo financeiro. Não podemos desgarrar o custo [adicional] da nossa possibilidade de pagamento”, afirmou.
Cães comunitários
“Eu só peço respeito aos cães comunitários”, rebateu firme Fabiane Rosa (DC) à resposta dada por Maia Neto à pergunta sobre o tema. Hoje é comum ver nos terminais de ônibus lugares para esses animais, que habitam dentro dos equipamentos públicos, mas não têm um “dono” específico, sendo tratados pela comunidade da região. Ao se posicionar sobre essa situação, o presidente da Urbs falou: “Eu acredito que um cão tem que ter um lar, sem viver de favores”. Maia Neto falou em promover campanhas de adoção para esses cachorros que vivem nos terminais.
Arrastões nos ônibus
“Os assaltos em ônibus vêm caindo 50%”, argumentou Maia Neto, “o arrastão é que tem que ser combatido com inteligência, pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. As polícias têm que agir em conjunto”. “A Urbs não tem poder de polícia, só podemos disponibilizar imagens. Até o final da gestão [Greca] teremos um terço da frota [de ônibus] com câmeras de vídeo. Temos conversado com o secretário de Defesa Social para que faça mais blitzes [no transporte]”, afirmou.
Dizendo que a multa aos fura-catracas é difícil de ser aplicada, a solução que se encontrou foi licitar barreiras laterais nas estações-tubo, mudar os sensores das portas dos articulados “para que não abram quando alguém parar ali” e um sistema de travamento “para que não se possa abrir com a mão [a porta dos ônibus]”. Maia Neto também se queixou da depredação nos equipamentos de ônibus, que ele também vê como desrespeito direto ao patrimônio público. “Nesse fim de semana, tivemos um ataque coletivo a sete terminais de ônibus. Torneiras, vasos e válvulas foram quebrados. Papeis foram jogados dentro dos sanitários [para entupir]”, queixou-se.
Aplicativos de transporte
Segundo números apresentados pelo presidente da Urbs, Curitiba tem 4 “motoristas de aplicativo” para cada licença de táxi. São 12 mil do primeiro para 2.955 do segundo tipo. Além de 856 veículos de transporte escolar, 1.500 de transporte comercial e 1.911 motofretistas. “E também fiscalizamos os transportes irregulares. Pois tem muita gente angariando [passageiros] sem ser regulamentado, especialmente na rodoviária”, alertou.
Além de Serginho do Posto e Petruzziello, fizeram perguntas Jairo Marcelino (PSD), Mauro Ignácio (PSB), Felipe Braga Côrtes (PSD), Helio Wirbiski (PPS), Tito Zeglin (PDT), Julieta Reis (DEM), Colpani (PSB), Cristiano Santos (PV), Tico Kuzma (Pros), Professora Josete (PT), Noemia Rocha (MDB), Bruno Pessuti (PSD), Rogerio Campos (PSC), Fabiane Rosa (DC), Goura (PDT), Professor Euler (PSD), Thiago Ferro (PSDB), Marcos Vieira (PDT), Wolmir Aguiar (PSC), Maria Manfron (PP), Mauro Bobato (Pode), Oscalino do Povo (Pode), Maria Leticia Fagundes (PV) e Chicarelli (DC).
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