Mulheres ocupam 44% das posições na Câmara de Curitiba

por Fernanda Foggiato | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 08/03/2022 18h55, última modificação 09/03/2022 09h11
Com a proporção de 21% nas cadeiras do Legislativo, elas respondem por 50% das diretorias. Plenário teve homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Mulheres ocupam 44% das posições na Câmara de Curitiba

Câmara homenageou data com entrega de flores a servidoras, terceirizadas e vereadoras. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) abriu a 18ª legislatura (2021-2024) com importantes marcas: uma mulher como a mais votada, Indiara Barbosa (Novo); a eleição da primeira vereadora negra, Carol Dartora (PT) e da primeira militar, Sargento Tânia Guerreiro (PSL). Também elegeu a Comissão Executiva mais feminina: formada por Tico Kuzma (Pros), presidente; Flávia Francischini (PSL), primeira-secretária; e Professora Josete (PT), segunda-secretária, a representativa delas é de 66,6%.

Apesar disso, a bancada feminina manteve o patamar de oito vereadoras, o mesmo das eleições de 2016. Apesar de recorde, o número representa apenas 21% das 38 cadeiras do Legislativo. Já o quadro de funcionários da CMC conta com mais mulheres. Elas são 42,3% dos 184 servidores efetivos; 39,6% dos 315 comissionados; 29% dos funcionários terceirizados da vigilância, 76,6% na conservação e 100% na telefonia; e 62,8% dos 97 estagiários. Das 700 pessoas que fazem o Legislativo funcionar, 309, 44% delas, são mulheres.

A proporção, conforme levantamento de 2015, chegava a 49% (117 de 236 cargos de provimento efetivo), mas caía para 35% nos cargos em comissão, majoritariamente ligados aos gabinetes parlamentares (108 de 307). Entre os vereadores, também era menor, de 13% (5 em 38).

Nas posições de chefia, incluindo a Comissão Executiva e a Mesa Diretora, o percentual de mulheres chega a 33,3%. Os números são maiores entre as servidoras efetivas (39,2%) e menores entre as comissionadas, na análise das chefias de gabinete (23%). Primeira mulher a ocupar a Diretoria-Geral da Câmara, Jussana Marques elogiou o reconhecimento da gestão e o crescimento de servidoras efetivas em posições de destaque.

Além dela, a CMC tem servidoras à frente do Departamento de Processo Legislativo e em outras sete diretorias – o equivalente a 50% dos cargos. No país, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 34% cargos de gerência são ocupados por mulheres.

Homenagens em plenário

Homenagem entregue a 21 servidoras, entre efetivas, comissionadas e terceirizadas, simbolizou as 309 mulheres que contribuem para o funcionamento da Câmara. O Dia Internacional da Mulher, definiu o presidente Tico Kuzma, “representa a luta histórica por igualdade, valorização e direitos sociais. E não podemos deixar de dizer, pela defesa de existir e de ser mulher”. “Sigam em frente, porque ainda há muito a ser conquistado”, incentivou. Entre os avanços da legislatura atual, o vereador também lembrou do fortalecimento da Procuradoria da Mulher (ProMulher).

>> Confira álbum da homenagem no Flickr da CMC

Nós, mulheres, já nascemos com a dura missão de termos que lutar pra conquistar nosso espaço. E essa luta que se torna ainda mais difícil e ao mesmo tempo nobre ao passo que, ainda assim, não negligenciamos nossos papéis de mães, esposas, donas de casa, filhas, avós”, completou Jussana. “A todas nós, mulheres, parabéns! E à Administração da Casa, obrigada pelo respeito, pelo reconhecimento e pela linda homenagem.”

O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é uma data que nos convida a refletir sobre a luta contínua por direitos e oportunidades que as mulheres buscam desde o início do século 20. É com orgulho que recebo esta homenagem em nome das servidoras comissionadas”, destacou a chefe de gabinete da Presidência, Waleria Maida.

A segurança patrimonial Luciana Sales, da empresa terceirizada que presta o serviço à Câmara, comemorou que as terceirizadas tenham sido lembradas na homenagem. “É um reconhecimento também para a gente que está trabalhando aqui [no caso dela, há cinco anos]”, agradeceu. Para a funcionária, “na verdade, todos os dias são o dia da mulher”. “É uma batalha, né? Ser mãe, esposa, trabalhar fora. Tem que ser guerreira”, lembrou.

Dia de luta”

Reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) apenas em 1975, o Dia Internacional da Mulher reconhece a luta por direitos e por igualdade. Em 2022, o tema escolhido foi “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”. A proposta é conscientizar sobre os desafios da igualdade de gênero, reduzindo as disparidades sociais e econômicas, no contexto da crise climática e da redução do risco de desastres.

Luta, desafios e agradecimentos marcaram as falas das vereadoras de Curitiba, também homenageadas nesta manhã. Amália Tortato (Novo) frisou as dificuldades e “perrengues” enfrentados pelas mães durante a pandemia, com o fechamento das escolas e crechespreocupação da primeira lei de sua iniciativa aprovada na Casa, em fevereiro de 2021, assinada com Denian Couto (Pode) e Indiara Barbosa (Novo). A vereadora alertou que o problema levou à queda da participação feminina no mercado de trabalho.

Momentos de crise econômica, indicou Carol Dartora, evidenciam ainda mais as desigualdades ainda enfrentadas, “as duplas e triplas jornadas de trabalho”. “É muito comum ver as mulheres transitando nas ruas com bolsas, sacolas, sobrecarregadas com inúmeras coisas. Não é só uma questão de vaidade. Na verdade, estamos cuidando de muitas coisas”, citou. “Das tarefas domésticas, que ainda não são igualmente divididas, dos nossos familiares, filhos. E no mercado de trabalho ainda não ocupamos igualmente cargos de liderança, vendo isso nos cargos políticos.”

Flávia Francischini dedicou a maior parte da fala a agradecimentos às servidoras da Casa, em especial à dona Maria, funcionária da limpeza, e à Sargento Tânia Guerreiro, pelas orações após sua hospitalização e procedimento cirúrgico, em agosto do ano passado. “Entre nós [bancada feminina] existe uma harmonia enorme. Para quem não sabe, as oito vereadoras são extremamente unidas. Independentemente de partido, de bandeira, estamos sempre compartilhando”, acrescentou.

Nós temos ainda muito espaço para ocupar como mulheres”, refletiu Indiara Barbosa (Novo), cobrando respeito ao mandato. “Sabemos que os desafios da mulher são enormes. Equilibrar os pratos todos os dias. Família, filho, casa. E ainda quando ainda tem mais interesses, como política, é mais difícil. É muito importante que os homens apoiem as mulheres.”

A procuradora da Mulher, Maria Leticia (PV), citou frase da escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), considerada a “mãe do feminismo”: “Nunca se esqueça de que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a vida”. “E a Procuradoria [da Mulher, a ProMulher] está aberta a todas vocês. Desejo que se sintam acolhidas. Vamos combinar? Ninguém larga a mão de ninguém”, complementou.

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Nós precisamos a cada dia entender o processo de luta da mulher”, avaliou Noemia Rocha (MDB). Ela lembrou que manifestações por igualdade salarial, nos séculos a partir do século 19, deram origem à data. Também reforçou apelo por mais mulheres na política brasileira: “A Arábia Saudita tem mais mulheres no Parlamento”.

É um dia de comemoração. Mas, acima de tudo, é um dia de luta. Luta que continua sendo necessária”, ponderou Professora Josete. Nos desafios da “caminhada pela igualdade”, a segunda-secretária defendeu que mesmo a divisão das tarefas domésticas “não é ajuda dos homens, isso é obrigação”.

A Sargento Tânia Guerreiro citou provérbio bíblico: “A mulher sábia edifica o lar”. “Nossa primeira morada foi no útero de uma mulher”, continuou. Destacando ser a primeira militar mulher a ocupar cadeira da CMC, lembrou-se de outras marcas na carreira como policial militar. “Meu lema é: o que a vida não me der, eu tomo”, concluiu.

Diversos vereadores somaram-se aos comentários. O líder do prefeito na Casa, Pier Petruzziello (PTB), por exemplo, ressaltou que a titularidade das casas do Bairro Novo da Caximba ficará no nome das mulheres, dando mais segurança ao processo. Sidnei Toaldo (Patriota) disse que cerca de 9 mil mulheres estão sob acompanhamento da Patrulha Maria da Penha, em Curitiba.