Podcast Curitibou? aborda os riscos de enchentes e alagamentos em Curitiba

por Alex Gruba | Revisão: Brunno Abati* — publicado 15/05/2024 07h05, última modificação 06/06/2024 09h26
Com a tragédia em várias cidades do Rio Grande do Sul, até mesmo na capital Porto Alegre, o CMC Podcasts debate a situação de Curitiba diante de desastres climáticos.
Podcast Curitibou? aborda os riscos de enchentes e alagamentos em Curitiba

Acima, inundações em Curitiba em fevereiro de 1947. Abaixo, fotos atuais de Porto Alegre. (Montagem: Michelle Stival/CMC; Fotos antigas: Casa da Memória; Fotos atuais: Chico Santana)

As imagens dos desastres ambientais em municípios do estado do Rio Grande do Sul estão chocando o mundo. O alto volume de chuvas tem causado estragos em praticamente todo o estado gaúcho, com deslizamentos e com inundações. Várias regiões ficaram isoladas, pontes foram carregadas pelas águas, abastecimento de luz e água comprometido para centenas de milhares de pessoas. A população curitibana tem mobilizado inúmeros pontos de coleta de doações para ajudar os gaúchos, mas, ao mesmo tempo, é importante perguntar: Curitiba pode sofrer algo parecido com fortes chuvas? 

Para encontrar essa resposta, as jornalistas Michelle Stival e Fernanda Foggiato, da Diretoria de Comunicação Social da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) receberam, no CMC Podcasts, o geógrafo Pedro Augusto Breda Fontão. Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fontão explicou as diferenças topográficas entre as cidades de Porto Alegre e de Curitiba, como se preparar para momentos com grande volume de chuvas, as situações mais críticas na capital paranaense e quais medidas o poder público precisa tomar para evitar — ou ao menos amenizar  tragédias climáticas, como a que está marcando a história do Rio Grande do Sul.

Entender os riscos

O geógrafo Pedro Augusto Fontão explicou que Curitiba e Porto Alegre estão situadas em regiões topográficas diferentes. A capital gaúcha está a jusante dos rios, ou seja, próximo à foz de grandes bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, em uma atitude próxima do nível do mar. Curitiba, por sua vez, está a montante, no alto, próximo a nascentes de rios. Dessa forma, enquanto em Porto Alegre a água que acumula deve demorar dias ou, até mesmo, semanas para baixar, na capital paranaense, é mais comum o que se chama de “flashflood”, a água subir e descer rapidamente, em alagamentos ou em enchentes.

Mesmo com essa questão topográfica, Curitiba não está livre de sofrer catástrofes climáticas. Fontão enumerou os riscos por região da capital paranaense. Ao norte, na divisa com Colombo e com Almirante Tamandaré, o relevo mais acentuado pode causar deslizamentos, como os problemas enfrentados por municípios da Serra Gaúcha. Na área central, área de maior densidade populacional de Curitiba, o que preocupa são os alagamentos – há dificuldades no escoamento de água por causa do volume de asfalto e de concreto. Já na parte sul, deve-se cuidar com enchentes e com inundações em bacias hidrográficas (Ribeirão dos Padilhas, Belém e Atuba) que desembocam no rio Iguaçu.

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Só a lição de casa não basta

Além de explicar a diferença técnica entre alagamentos (quando a água acumulada das chuvas não tem vazão e se acumula na superfície), enchentes (quando os rios extravasam para áreas próximas aos leitos) e inundações (quando as águas dos rios se estendem para além de áreas próximas dos leitos), o geógrafo Pedro Fontão ressaltou que Curitiba tem feito a lição de casa. Segundo ele, é fundamental a limpeza dos canais em momentos de estiagem. Fontão disse que os parques da cidade, como Passeio Público, Barigui, Atuba, Tingui, Náutico, entre tantos outros, têm “cumprido sua missão” ao se tornarem locais de concentração das águas em casos de chuvas intensas. Ao mesmo tempo, o município tem mapeado áreas de risco e preparado a Defesa Civil para o que fazer em casos extremos. Só que ele alertou que somente isso já não basta.

Adaptação e investimentos prévios

Com o padrão climático sofrendo alterações provenientes das mudanças climáticas, Pedro Fontão disse que a emergência climática vai apresentar contextos inéditos. Para se preparar para esses novos tempos, o professor da UFPR afirma que é preciso unir vários setores da sociedade (poderes públicos, investidores, universitários, institutos de pesquisa) com o objetivo de tornar Curitiba mais resiliente e mais limpa do ponto de vista ecológico.

Ao final do programa, Fontão resumiu que o fenômeno El Niño (aumento da temperatura da água no Pacífico Sul), responsável pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul, sai de cena para a entrada de La Niña (resfriamento das águas do Pacífico Sul). Somado ao fim da zona de bloqueio atmosférico que causou um mês de maio com muito calor em Curitiba, o geógrafo disse que a previsão é de um 2024 com frio mais intenso que em 2023, quando Curitiba não registrou temperaturas negativas.

Diante de tantas mudanças climáticas, o professor da UFPR ressaltou que a cidade só tende a ganhar se a legislação e o planejamento considerarem o quesito ambiental em obras ou em políticas públicas. “Muitos dizem que o pessoal do meio ambiente não quer que a cidade se desenvolva. Lógico que a gente quer, mas é importante que a cidade se desenvolva sem ser prejudicada no futuro”, resumiu Fontão.


*Matéria revisada pelo estudante de Letras Brunno Abati.
Supervisão do estágio: Alex Gruba.