Morte de Getúlio Vargas é lembrada na Câmara

por Assessoria Comunicação publicado 24/08/2004 00h00, última modificação 13/05/2021 17h50

Ao fazer uso da tribuna na sessão plenária desta terça-feira (24), na Câmara Municipal, o vereador Jônatas Pirkiel lembrou os 50 anos da morte do ex-presidente Getúlio Vargas. O parlamentar destacou o espírito nacionalista do governante, que ao chegar ao poder, em 1930, encontrou um país desprovido de estrutura institucional e buscou construir um modelo de governo que pudesse tornar a sociedade mais justa.
“A alcunha de pai dos pobres, sem dúvida, veio a calhar com seu procedimento”, afirmou Pirkiel, salientando que Vargas foi uma das personalidades mais importantes da história do Brasil, tanto como figura política como humana. “Seu porte de estadista se impôs no contexto nacional e internacional, dada a sua inteligência, articulação ímpar e devoção à causa pública”, complementou o vereador.
Getúlio Vargas
Vargas nasceu em São Borja (RS), em 19 de abril de 1883. Foi chefe do governo provisório depois da Revolução de 30, presidente eleito pela constituinte em 17 de julho de 1934, até a implantação da ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Foi deposto em 29 de outubro de 1945 e voltou à presidência em 31 de janeiro de 1951, através do voto popular. Em 54, pressionado por interesses econômicos estrangeiros com aliados no Brasil, como Lacerda e Adhemar de Barros, foi levado ao suicídio, em 24 de agosto. Com uma bala no peito, ele atrasou o golpe militar em 10 anos e “saiu da vida para entrar na história”.
Salário mínimo
Ao se manifestar sobre o tema , o vereador André Passos comentou sobre as inovações na área trabalhista, que foram incrementadas no período Vargas. “A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi definida nessa época”, afirmou o parlamentar. Já o vereador Mario Celso Cunha leu em plenário a carta-testamento deixada pelo ex-presidente , exaltando sua memória.
Diversos parlamentares também se manifestaram sobre o tema e o vereador Jorge Bernardi convidou os vereadores presentes para a homenagem aos 50 anos de morte de Getúlio, que seria realizada às 11h, na Praça Tiradentes.



A seguir, a íntegra da carta-testamento:

"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se a dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.
Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)